Desafios: condições que faltam para o jovem esportista no Brasil

por Renato Miranda

São tradição as mais diversas discussões sobre esporte antes e após grandes eventos. Particularmente Copa do Mundo e Jogos Olímpicos. Entre vários assuntos a iniciação esportiva é um daqueles de maior preocupação e polêmicas.

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No que tange aos temas daquilo que se chama de pré-requisito uma pergunta é sempre instigante: como agir para que a prática esportiva cumpra seu papel no auxílio da formação do futuro adulto, independentemente se os jovens (lembre-se: muitos desses jovens ainda crianças em torno de nove anos de idade) se tornarão atletas ou não?

Para delimitar uma razoável resposta (tendo a psicologia do esporte como pano de "fundo"!) acredito que alguns desafios devam ser superados. Reconheço que alguns desses o Brasil ainda levará um bom tempo para vencer, mas não vejo outro caminho, ao menos por enquanto. Abaixo, listo esses desafios:

1º) Atrair para a profissão esportiva (professores, técnicos, preparadores etc.) jovens de excelente nível geral (pessoal e intelectual)

Este é um dos maiores desafios atuais do esporte brasileiro. Veja o exemplo do mercado de trabalho para aqueles que querem trabalhar com iniciação esportiva do futebol; poucas oportunidades de trabalho em condições atraentes de salário, carreira e infraestrutura para o desenvolvimento profissional são ofertadas. Com isso, muitos jovens estudantes universitários talentosos de educação física não são estimulados a investirem nessa carreira. Para que o esporte infantil exerça seu papel como fomentador de talentos e formação humana é preciso que tenha liderança (professores) de alta qualidade. Hoje, é fácil constatar que no Brasil as ofertas de trabalho com crianças no futebol não é atraente.

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2º) Formação profissional de qualidade

Profissionais do esporte, em qualquer nível – da iniciação ao treinamento altamente especializado, devem ter conhecimento sobre os fenômenos psicológicos no esporte. Não quero dizer que um professor esportivo deva ser um especialista em psicologia do esporte.

Todavia entender em linhas gerais e saber lidar com conceitos e prática relacionados ao estresse, ansiedade, motivação, concentração e outros são desafios fundamentais para aquele que irá auxiliar na formação de uma futura personalidade de alto nível. Independentemente se o iniciante virá a ser um atleta ou não. Desenvolvimento das habilidades específicas (técnicas e táticas) é algo primordial, mas não devemos desconsiderar que a personalidade é construída simultaneamente ao período de desenvolvimento técnico. Portanto, o profissional do esporte que convive com adolescentes lida com aqueles que estão passando por uma fase de instabilidade física, psicológica e social e, portanto, é crucial que tenha conhecimentos para desempenhar suas funções em alto nível.

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3º) Infraestrutura de qualidade

Crianças e adolescentes precisam frequentar ambiente esportivo que ofereça atratividade e segurança. A alta qualidade profissional do professor de esportes é potencializada e usufruída por todos (alunos, pais, funcionários, dirigentes e outros) quando o mesmo tem condições de dinamizar seu conhecimento em um ambiente (estrutura) com boas condições. Uma estrutura física e material precários são indícios, antes de tudo, de uma relação hostil entre a criança, o esporte e daqueles que convivem em tal ambiente.

Não é incomum no Brasil crianças em torno de dez anos de idade, jogar futebol em campo com medidas oficiais (campo para adultos!) e ao mesmo tempo em estado lastimáveis de conservação. Imaginemos um garotinho a jogar como goleiro em um gol com dimensões oficiais (7,32m de comprimento por 2,45m de altura)?

Espaço físico de qualidade é antes de tudo uma motivação para aqueles que querem usufruir dos benefícios do esporte!

Profissionais de qualidade são antes de tudo uma segurança para aqueles que querem o auxílio do esporte para a formação de uma boa personalidade.

Enquanto isso não acontece, ainda veremos adultos hostilizando crianças à beira dos campos, exigindo desempenho (o mesmo desempenho que não sabem ensinar!), fomentando preconceitos (exemplo: todo brasileiro é bom de bola) e crianças ajoelhando no gramado e apontando os dedos indicadores aos céus como se isso fosse importante!