Consumo de chocolate não causa espinha

por Jocelem Salgado

O sabor é tão marcante, a essência é tão doce e as sensações tão intensas que o chocolate foi elevado à "paixão nacional". Companheiro das mulheres durante suas crises intermináveis de TPM e amenizador de ansiedade, essa delícia muitas vezes acaba sendo consumida com exagero.

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É difícil passar a Páscoa em branco sem saborear um delicioso chocolate na manhã de domingo. Nessa época, eles geralmente multiplicam-se nos supermercados, que utilizam inúmeras estratégias para que os consumidores levem um, dois, três ovos de páscoa pelo preço de apenas um, isso mesmo, 50% de desconto, saldão da Páscoa.

O chocolate é amplamente consumido no Brasil. Atualmente o país é o quarto maior consumidor e o segundo em produção de cacau. Afinal, o chocolate, além de agradável ao paladar, é uma excelente opção de presente, difícil alguém não gostar de receber essa delícia.

A principal matéria-prima do chocolate, o cacau, era considerada pelos povos Incas e Maias como alimento dos deuses. Essa veneração pode ter surgido da dedução de que as sementes do fruto do cacaueiro escondiam propriedades belíssimas e divinas. Aproximadamente cinco séculos depois da descoberta, os espanhóis enriqueceram o paladar dos europeus com um dos sabores mais peculiares da nossa culinária, o chocolate amargo. Diferentemente do chocolate branco e do ao leite, que são ricos em açúcares, o chocolate amargo, ao apresentar teores mais elevados de cacau vem ao encontro com a filosofia da alimentação saudável, reduzindo a quantidade de açúcar e gorduras ingeridas, ao mesmo tempo em que desfruta de compostos benéficos à saúde.

O principal ingrediente do chocolate, o cacau, é uma fonte com alto poder antioxidante, inclusive sua atividade é maior que as encontradas nos chás e no vinho tinto, devido à sua composição rica em flavonoides como o resveratrol. Mas atenção: os benefícios advindos do consumo de chocolate se devem às substâncias presentes no cacau e não ao chocolate em si.

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O chocolate deixou de ser inimigo da dieta e passou a ser amigo da saúde, pois apresenta inúmeros benefícios, dentre os quais se destaca a redução dos sintomas de fadiga e estresse, que ocorre por meio da modulação da produção de neurotransmissores como a serotonina, feniletilamina e anandamida. Uma vez ingerido, usando o bom senso, o cacau auxilia na redução de placas de gordura, beneficiando assim o funcionamento do coração e, consequentemente, reduzindo o risco de doenças cardiovasculares.

Além da proteção cardiovascular, existem diversas outras propriedades biológicas associadas ao resveratrol, magnésio e antioxidantes presentes na semente do cacau, tais como atividade anticarcinogênica, anti-inflamatória e antioxidante.

Experimentos têm demonstrado que o resveratrol suprime o crescimento de várias linhagens de células cancerígenas, pois ele age regulando as três fases do processo de formação do câncer: o início, a promoção e progressão do tumor. O cacau também contém alto teor de magnésio, mineral que auxilia no funcionamento do coração, cérebro e sistema digestivo.

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Mas lembrem-se sempre vale ressaltar novamente: tudo que é consumido em exagero acarreta prejuízos à saúde e o cacau não é uma exceção. Apesar de ser rico em compostos benéficos e apresentar teores reduzidos de açúcar, o chocolate amargo é um alimento gorduroso e calórico e, por isso, quando ingerido em demasia, pode acarretar malefícios à saúde, inclusive aumentando as placas de gorduras.

A Organização Mundial de Saúde não recomenda o consumo de nenhum tipo de doce. Para os chocólatras que não resistem a essa tentação, o ideal é não ultrapassar 50 gramas diárias, já que além de alguns benefícios, o chocolate com menor quantidade de cacau apresenta efeitos nocivos, como obesidade e aumento da glicemia, devido ao alto teor de açúcar e gordura. Em relação ao ovo de páscoa, um de tamanho médio pesa cerca de 350 gramas, o ideal seria saboreá-lo então em uma semana.

Por fim, dê sempre preferência aos chocolates com maiores teores de cacau. Além de conterem mais compostos bioativos, têm reduzido teor de gorduras e açúcares. E, ao contrário do que muitas pessoas pensam, não auxilia no desenvolvimento de espinhas e enxaqueca.

Ao final deste artigo, espero oferecer-lhes uma nova visão sobre o chocolate, que usado de modo consciente, só tem a contribuir para nossa saúde.

Tipos de chocolates encontrados no mercado:

Amargo: Constituído por sementes de cacau, baixo teor de açúcar e sem adição de leite. O sabor amargo deve-se a uma maior quantidade de massa de cacau, compondo aproximadamente entre 70% a 85% do produto;

Ao leite: Tira-se uma parte da massa de cacau e adiciona-se leite em pó, açúcar. Contém menor teor de cacau, elevada quantidade de açúcar e um valor calórico muito maior que o chocolate amargo;

Branco: Contém leite, açúcar, manteiga de cacau e lecitina, as sementes do cacau não fazem parte da constituição desse produto. Seu teor de gordura e valor calórico é mais elevado em comparação com os demais. Não apresenta nenhuma quantidade de antioxidantes por não apresentar semente de cacau em sua composição, alguns nem o consideram como "chocolate de verdade";

Chocolate em pó : É o chocolate mais usado em receitas. Sua composição leva amêndoa de cacau, sem a manteiga. Pode ser amargo (recebe o nome de cacau em pó), meio amargo e doce;

Chocolate diet: sua composição é similar a do chocolate ao leite, porém, ao invés de açúcar, leva adoçante. Fique atento quanto à sua ingestão, pois devido à falta de açúcar, esse produto recebe uma quantidade maior de gordura para que ele fique semelhante ao chocolate tradicional. Indicado para diabéticos, muitas pessoas acabam consumindo acreditando que a ausência do açúcar faz com que ele tenha menos calorias. Devido a maior dose de gordura, o teor calórico é igual ou às vezes até maior do que o do chocolate ao leite tradicional;

Light é diferente de diet

Não confunda o chocolate diet com o light, pois o alimento light contém os mesmos ingredientes do chocolate normal, só que de forma reduzida, para diminuir as calorias;

Alfarroba: Considerada uma alternativa para celíacos ou intolerantes à lactose. Para seu preparo é utilizado uma vagem torrada que é moída e resulta em uma farinha, que é utilizada para substituir o cacau. É pouco calórico, rico em fibras e não contém cafeína. O sabor é semelhante ao do chocolate amargo;

À base de soja: 100% vegetal, sem glúten ou lactose, feito com extrato de soja.

Dica para a Páscoa: No domingo, procure evitar o consumo de frituras e refrigerantes. Prefira nesse dia alimentos grelhados, assados, ao molho e saladas, visando uma alimentação saudável devido aos exageros com o chocolate.