Vício em smartphones: como mudar nossa relação com eles

por Ana Luiza Mano – psicóloga do NPPI

Nos dias de hoje, somos "bombardeados" dia e noite por informações e requisitados por notificações de todos os tipos. A maioria desses avisos chegam através dos celulares, que normalmente estão presentes em qualquer lugar que se esteja.

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Algumas pessoas, ao receberem uma mensagem, chegam a utilizar seus aparelhos em momentos onde eles deveriam ser deixados de lado, como por exemplo no cinema, numa reunião de trabalho, ou até mesmo durante o banho!

Entende-se que atualmente a tecnologia é como a comida: está em todo lugar e é quase impossível evitá-la. A população, como um todo, está em contato constante com diferentes equipamentos, e muitos indivíduos acabam tornando-se dependentes de muitos deles para realizarem suas atividades diárias. Devido a isso, tem sido cada vez mais frequentes as queixas de vício em smartphones, computadores e aplicativos de mensagens em geral.

Algumas vezes dizemos a nós mesmos: "vou apenas dar uma olhada em meus e-mails", ou "vou só olhar essa mensagem/notificação"; e de repente nos damos conta que já estamos há horas usando nosso aparelho, deixando de lado outras atividades. Segundo o Dr. Jonathan Fader, psicólogo e professor na universidade Albert Einstein College of Medicine em Nova Iorque, a maioria das pessoas busca um meio-termo entre o uso necessário de computadores e celulares e a vontade de também estarem mais presentes fisicamente em momentos do cotidiano. Dessa maneira, Fader aponta: "Se desejamos evitar a total subordinação à tecnologia, precisamos nos perguntar quando é demais o nosso uso e como podemos modificar nossa relação com esses equipamentos".

A Drª Kimberly Young, psicóloga fundadora e diretora do Centro de Dependência de Internet e professora na St. Bonaventure University, em Nova Iorque, explica que ainda a vinculação à internet possa se assemelhar a uma dependência química como a de álcool ou drogas, não é possível estabelecer com clareza quando o uso passa a ser prejudicial. Portanto, ela conclui, "Os focos de estudos neste tema devem ser os efeitos e sintomas derivados da relação de cada pessoa com a Internet". Recomenda-se avaliar o impacto da dependência dos telefones celulares e outros aparelhos eletrônicos na habilidade de se estar presente física e mentalmente nas atividades de outras áreas da vida. É importante pensar se as ferramentas estão a serviço dos usuários ou se as pessoas estão sujeitas a esses aparelhos e seus recursos. Da mesma forma, deve-se considerar como os smartphones influenciam nas relações pessoais, como o tempo com a família e amigos, a eficiência no trabalho e até mesmo a carga de estresse que o uso desses dispositivos pode trazer.

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Entende-se que todo "vício" em geral é um sintoma de algo que não vai bem na vida de uma pessoa. Portanto, para cada indivíduo haverá questões específicas que podem ser complexas para lidar, e que precisam ser exploradas com o devido tempo e cuidados necessários. Geralmente, a psicoterapia é o passo mais indicado para introduzir-se numa jornada de autoconhecimento, que levará ao entendimento das questões encobertas que levaram à dependência. Porém, levando em conta a dificuldade atual de se viver sem tecnologia, também há coisas que se pode fazer para tentar integrar o uso dos telefones celulares de maneira mais saudável no dia a dia.

Oito dicas para integrar o celular em sua vida de modo saudável

Seguem algumas sugestões do Dr. Fader:

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1. Reconhecer que atualmente temos ferramentas poderosas e de grande auxílio em diversos momentos, mas justamente por serem tão importantes, também podem impedir que as pessoas estejam presentes "de corpo e alma" em outras atividades. Saber disso já pode ajudar a definir como e quando se vai interagir com o aparelho de telefone.

2. Estabelecer limites. Propor a si mesmo momentos na rotina para ficar sem o celular. É possível deixar um status de ausência para seus contatos, ou simplesmente colocar o telefone em outro cômodo.

3. Agendar uma parte do tempo livre com atividades que incluam outras pessoas, como um almoço com amigos, uma reunião com a família ou mesmo a leitura de um livro.

4. Ao sair com mais pessoas, combinar de todos colocarem seus telefones num canto da mesa e quem pegar primeiro terá que pagar a conta.

5. Usar os alertas do celular de maneira criativa: estabelecer ringtones diferentes para ligações e mensagens importantes. Dessa forma, pode-se saber quando é necessário atender ou quando é possível ficar longe do aparelho sem maiores preocupações.

6. Concentrar-se em estar presente, inclusive falando consigo mesmo se necessário, dizendo "estou aqui, conversando com essa pessoa agora". Outras maneiras eficazes de manter-se no presente são atividades como caminhar, exercitar-se, meditação e até mesmo práticas de respiração.

7. Tirar um dia, um final de semana, ou até mesmo uma semana inteira, para ficar longe do telefone, tablet e/ou computador. Isso pode ajudar a "reiniciar" a mente, e por consequência, relaxar.

8. Usar um relógio de pulso. Muitas pessoas utilizam telefones e computadores para checar as horas, e com isso aumenta a chance de distraírem-se com as tentações que esses dispositivos proporcionam.

Novamente, há sempre a recomendação de buscar um psicólogo com experiência em estratégias práticas que possam ajudar a superar os desafios de permanecer longe da tecnologia, ou então iniciar uma psicoterapia para identificar o que faz com que cada pessoa desenvolva um uso excessivo dessas ferramentas – e a partir do processo terapêutico individual, encontrar recursos internos para lidar com o que está verdadeiramente por trás do "vício".

Referências:
http://netaddiction.com/
http://www.psychologytoday.com/blog/the-new-you/201312/are-you-addicted-your-phone-change-technology-addictionFerramentas