Como lidar com a dependência de medicamentos para dor?

por Danilo Baltieri

1ª) "Tenho dependência de oxycontin (120mg). Gostaria de saber se o senhor poderia me ajudar a planejar e acompanhar uma descontinuação do medicamento."

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2ª) "Preciso de ajuda, tenho 57 anos e estou desesperada, tomo oxycontim para dores nos joelhos há 4 anos e estou dependente dessa droga e já sofro efeitos colaterais como depressão e não consigo ficar sem o medicamento. Chego a tomar 40 mg ao dia. Me ajudem!"

Resposta: O impacto da dor é imensurável, visto que além dos prejuízos pessoais, familiares e sociais resultantes, o custo econômico em termos de faltas ao trabalho, redução da produtividade, aumento da utilização dos serviços médicos e encargos para a Previdência Social é enorme.

Embora a dor seja a mais frequente queixa dos pacientes na Medicina, o seu manejo nem sempre é adequadamente realizado. Muitas vezes, quadros de dor não têm etiologia (causa) claramente definida, o que, ainda mais, complica o raciocínio clínico e prejudica a conduta.

Nos casos de dor moderada ou severa, o uso de opioides frequentemente é aventado como monoterapia ou combinado com outros medicamentos ou formas de tratamento. Contudo, pacientes encontram barreiras nessa forma de abordagem, especialmente quando os opioides são indicados. Estas barreiras incluem:

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· Inadequada formação profissional em relação ao uso e problemas relacionados aos opioides;
· Dificuldades dos profissionais de saúde em estabelecer a diferença entre dependência fisiológica, síndrome de dependência e pseudodependência;
· Medo de que os pacientes se tornem dependentes ou "viciados";
· Preconceito em relação às medicações opioides.

Nenhuma medicação é boa ou má por si só. As medicações opioides são importantes no tratamento de algumas condições na Medicina, especialmente aquelas relacionadas à dor crônica. No entanto, essas medicações têm o potencial de induzir quadros de dependência e síndrome de dependência. Todo paciente com indicação médica para fazer uso de medicação opioide deve ser estritamente acompanhado por médico especialista. A dispensação das receitas deve ser amplamente controlada, bem como o método de administração da medicação.

Quanto melhor for o acompanhamento médico e maior a adesão do paciente às orientações do especialista, melhores serão as chances de um adequado desenlace do quadro.

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Alguns fatores de risco têm sido aventados para o desenvolvimento da síndrome de dependência de opioides entre portadores de dor crônica tratados com medicações opioides. Antecedentes pessoais e familiares de problemas com o uso de substâncias psicoativas, presença de * comorbidades psiquiátricas (traços específicos de personalidade por exemplo), idade jovem de início da prescrição dentre outras, podem trazer algum grau de alerta. Entretanto, esse 'alerta' não significa deixar de tratar adequadamente aquele que padece de dor crônica; muito pelo contrário, o tratamento, se indicado e pautado em evidências científicas de efetividade e segurança terapêutica, deve ser realizado com equipe bastante especializada e atenta.

A Oxicodona é uma importante medicação que deve ser prescrita por médicos especialistas, dada a chance do paciente desenvolver quadro de dependência. Quando estamos diante de uma pessoa que faz uso de opioides, precisamos saber se esse uso foi prescrito por médico e se o paciente é portador de quadro de dor crônica.

No caso de ter sido prescrito por médico para o tratamento de quadro de dor crônica, o paciente deve ser rigorosamente acompanhado a fim de evitar resultados danosos, como seria o caso do desenvolvimento de uma síndrome de dependência.

No caso de não ter sido prescrita por médico para o manejo clínico de um quadro de dor crônica, podemos mais fortemente estar diante de um indivíduo que faz uso abusivo da droga. Nessa situação, o paciente deve iniciar um tratamento especializado para a retirada da substância.

Pacientes que recebem prescrição médica de medicações opioides como a Oxicodona podem desenvolver quadro de síndrome de dependência, infelizmente. Nesses casos, o paciente costuma demonstrar alguns sinais que chamam a atenção de familiares e da própria equipe médica.

Sinais de dependência:

a) Comportamento de busca de droga (visitas frequentes a serviços de emergência médica, para obter medicação, sem o conhecimento do seu médico; obtenção de medicamentos através de outros recursos, como amigos, familiares, traficantes; atitudes de "forjar" receitas; mentiras frequentes sobre "perdas" de receitas);

b) Comportamentos de automedicação (aumento da dose, sem orientação médica; uso do opioide para aliviar outros sintomas, como ansiedade, tristeza, angústia);

c) Evidência de prejuízos sociais, familiares e no trabalho, associados ao consumo progressivo dos opioides;

d) Administração concomitante de outras drogas, como álcool, benzodiazepínicos, maconha etc;

e) Abuso de opioides injetáveis.

Síndrome de abstinência: sintomas

Quando um indivíduo que faz uso crônico de medicações opioides tenta cessar seu consumo, ele pode apresentar sintomas da chamada síndrome de retirada ou síndrome de abstinência, tais como:

a) Sudorese;

b) Dores pelo corpo;

c) Cãibras;

d) Taquicardia e hipertensão;

e) Pupilas dilatadas;

f) Humor irritado ou deprimido;

g) Mal-estar geral;

h) Inquietação psicomotora;

i) Calafrios

Como a dor é uma medida subjetiva, muitos pesquisadores têm envidado esforços para investigar a dor de forma objetiva. Algumas medidas de perfil inflamatório têm mostrado algum sucesso em uma parcela significativa de portadores, mas ainda não dão certeza absoluta. Assim, a equipe que maneja o paciente com dor crônica em tratamento com medicações opioides deve ser interdisciplinar, dada a complexidade do tema.

Os profissionais que tratam vocês devem receber informações objetivas a respeito da evolução do problema. Infelizmente, para uma parcela pequena, mas existente, dos portadores de dor crônica que usam medicações opioides, comportamentos de risco do tipo 'forjar' receitas de opioides, peregrinar de hospital em hospital objetivando angariar medicações, pedir medicações emprestadas para vizinhos ou conhecidos, dizer ao médico que 'perdeu' as receitas… são comuns. Assim, a equipe deve estar munida de informações para manejar o quadro de forma ética e cientificamente embasada.

Não tenha receio de contar aos seus médicos esses fatos preocupantes. O médico especialista deve estar treinado para manejar adequadamente essa situação, respeitando os pilares da ética médica.

Boa sorte!

* duas ou mais doenças estarem associadas.