Caminhos para o diálogo saudável e eficaz – Parte I

por Luís César Ebraico

Após haver lido meu livro “A Nova Conversa”, em que eu mostro como alguns princípios fundamentais da Psicanálise – da qual a Loganálise não é mais do que uma variação – podem ser empregados em nossa fala cotidiana para promover nossa saúde psicológica e a daqueles que nos cercam, Paula (óbvio que se trata de um pseudônimo) entrou em contato comigo perguntando – ela mora em outro estado – se eu não poderia orientá-la via Internet no que diz respeito à melhor forma de se comunicar com seu marido.

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Curioso, aceitei o desafio, mas eu não tinha certeza sobre o quanto esse tipo de mídia se prestaria para instrumentar uma orientação loganalítica, disse que não iria cobrar pela orientação, pelo menos enquanto não tivéssemos certeza de que ela poderia ser eficaz.

Enviei-lhe, então, o seguinte e-mail:

Primeiro e-mail

Paula, estar fora de rota é a pior das derROTAS. Qual a nossa rota? Treinar você a empregar a Nova Conversa (NC) em seu cotidiano para promover sua saúde mental e a dos próximos a você. Isso se faz mediante o emprego de frases autológicas (enunciadas em primeira pessoa), microscópicas (referidas a situações específicas), expressando emoções e desejos e com DIREITO INCONDICIONAL de serem enunciadas.

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“Nossa cultura, infelizmente, é alérgica à NC, remédio de que necessita desesperadamente para superar suas fixações e ingressar em uma nova era. Para combater a NC, ela aplica, contra quem tenta empregá-la, essencialmente QUATRO ARGUMENTOS. É preciso que saibamos deles nos defender. Exemplifico:

O argumento da “irracionalidade”:

FULANO: — QUANDO você fala isso (= microscopia), EU (=autologia) me sinto CULPADO (expressão de sentimento)!

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BELTRANO: — Você NÃO TEM RAZÃO (= argumento da irracionalidade) de se sentir culpado .

FULANO: — Eu não disse que eu tenho RAZÃO em me sentir culpado, eu disse que ME SINTO CULPADO (= direito incondicional de expressar verbalmente as próprias emoções, sentimentos e desejos).

O argumento da “inutilidade”:

FULANO: — QUANDO você fala isso (= microscopia), EU (=autologia) me sinto CULPADO (expressão de sentimento)!

BELTRANO: — Pode tirar o cavalinho da chuva, porque eu NÃO VOU PARAR DE FALAR ISSO (= argumento da inutilidade) só porque você se sente culpado.

FULANO: — Eu não me lembro de haver dito para você PARAR DE FALAR ISSO, eu me lembro de ter dito que, quando você fala, EU ME SINTO CULPADO (= direito incondicional de expressar verbalmente as próprias emoções, sentimentos e desejos).

O argumento da “irrelevância”:

FULANO: — QUANDO você fala isso (= microscopia), EU (=autologia) me sinto CULPADO (expressão de sentimento)!

BELTRANO: — Esse negócio de você se sentir culpado ou não NÃO TEM A MENOR IMPORTÂNCIA (= argumento da irrelevância).

FULANO: — Se tem importância ou não eu me sentir culpado, não tenho a mínima idéia. Mas que tem importância eu poder falar que estou me sentindo culpado, quando estiver sentindo culpa, disso eu tenho toda a certeza (= direito incondicional de expressar verbalmente as próprias emoções, sentimentos e desejos).

O argumento do “desprazer”:

FULANO: — QUANDO você fala isso (= microscopia), EU (=autologia) me sinto CULPADO (expressão de sentimento)!

BELTRANO: —. Para mim, é muito DESAGRADÁVEL (= argumento do desprazer) você ficar dizendo que se sente culpado, quando eu digo que você não gosta de mim porque optou por fazer um doutorado fora, sabendo que eu não posso acompanhar você.

FULANO: — Lamento, mas para mim também seria extremamente desagradável NÃO PODER DIZER isso.

Desses argumentos, empregados para ilegitimar a fala do próximo, o mais freqüentemente empregado pelos homens na relação com as mulheres é o da “irracionalidade”, o de que ela NÃO TEM RAZÃO e, para que se possa instalar uma NC, é fundamental que a mulher saiba lidar com esse tipo de ilegitimação.

Note-se que, à medida que se vai instalando a NC, tendem a vir à tona sonhos, lembranças de infância e, com eles, a remissão de sintomas.

Dito isso, quero que você passe a me enviar fragmentos de diálogos que você considerou malsucedidos, ocorridos entre você e seu marido, para que eu possa comentá-los.