A tal da síndrome do pânico

por Luís César Ebraico

Vou atrasar minha contribuição sobre o conceito de “mente”, algo que interessará certamente mais a profissionais do que a leigos, para fazer uma contribuição de maior utilidade pública. Ela diz respeito à tal “Síndrome do Pânico”.

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A massa do público leigo e, até onde posso perceber, uma significativa quantidade de profissionais, está bastante mal informada sobre esse diagnóstico, que, desde o surgimento do Alprazolam, na última década de 70, passou a ocorrer com multiplicada frequência. Minha presente comunicação tem por objetivo minimizar essa lacuna.

Começo por relembrar a diferença entre sintoma, síndrome, transtorno, etiologia e patogenia.

SINTOMA – é a menor unidade de análise de uma doença. "Taquicardia" é um sintoma, "tristeza" é um sintoma;

SÍNDROME – é um conjunto de sintomas que costuma ocorrer simultaneamente. A "Síndrome de Pânico", por exemplo, apresenta sintomas como sensação subjetiva de pavor, taquicardia, dispnéia, dispepsia, tonteira, sensação de morte iminente etc..Vou, adiante, oferecer uma listagem mais completa dos sintomas da síndrome.

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Para melhor entendermos o que mais nos importa aqui, seja, a DIFERENÇA entre SÍNDROME e TRANSTORNO, é preciso saber o significado de dois outros termos: etiologia e patogenia.

ETIOLOGIA – é a CAUSA de um sintoma, de uma síndrome ou de um transtorno. Assim, por exemplo, suspensão da ingestão de álcool em um usuário habitual e excessivo dele é a causa (etiologia) da "síndrome de abstinência alcoólica", que pode apresentar desde sintomas leves como insônia, a sintomas graves, como convulsões.

PATOGENIA – é o processo que ocorre entre a ação da causa e a produção do(s) sintoma(s). Para ilustrar, consideremos a patogenia da "síndrome de abstinência alcoólica". O álcool tem um efeito sedativo sobre o cérebro. Em uma pessoa que bebe muito desde longa data, o cérebro fica exposto quase continuamente, durante longos períodos, a esse efeito depressor. Com o passar do tempo, o cérebro ajusta sua própria química para compensar tal efeito, produzindo substâncias químicas naturalmente estimulantes (como a serotonina ou a noradrenalina – “parentes” da adrenalina) em quantidades maiores que as normais. Se o álcool é retirado de repente, o cérebro se comporta como um veículo acelerado que perdeu os freios. Consequentemente, a maioria dos sintomas da abstinência alcoólica são sintomas de superestimulação cerebral.

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TRANSTORNO – quando se supõe que uma síndrome pode ocorrer devido a causas diversas (etiologias) – saibamos nós ou não que causas são essas – dizemos que ela pode ocorrer em diversos "transtornos" (ou doença, = entidade nosológica, ou nosográfica).

A SÍNDROME de Pânico, por exemplo, ocorre principalmente em três grandes tipos de TRANSTORNO: nos Transtornos devidos ao Uso de Substâncias Psicoativas (F10 a F19 da décima versão do Código Internacional de Doenças), nos Transtornos Fóbico-Ansiosos (F40 do CID-10) e no Transtorno de Pânico (F41.0 do CID-10).

A lição essencial que devemos tirar do acima exposto é a de que: a "Sindrome de Pânico" pode ocorrer em MAIS DE UMA "DOENÇA" (= TRANSTORNO). Para que seja tratada adequadamente, é necessário que se saiba QUE DOENÇA (= TRANSTORNO) É ESSA.

Caso contrário, o paciente ou (A) NÃO FICARÁ JAMAIS CURADO ou (B) terá apenas seus sintomas MANTIDOS SOB CONTROLE durante um TRATAMENTO INTERMINÁVEL.