Consumo de alimentos à base de aloe vera não é seguro

por Jocelem Salgado

Aloe vera, conhecida popularmente como babosa é uma planta nativa do norte da África com mais de 200 espécies catalogadas.

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Dessas 200 espécies apenas 4 são seguras para uso em humanos destacando Aloe arborensis e a Aloe barbadensis (Miller). Esta última é a espécie reconhecida com a maior concentração de nutrientes no gel de sua folha.

Há muitos anos a aloe vera vem sendo utilizada para diversos fins medicinais e geralmente para problemas de pele como: acne, queimaduras, psoríase, hanseníase, etc. O uso dessa planta era comum na antiguidade, pois pesquisadores encontraram relatos de seu uso entre civilizações antigas como os egípcios, gregos, chineses, macedônios, japoneses e até mesmo citações na Bíblia foram mencionadas.

Reconhecida como um poderoso regenerador e antioxidante natural, possui também propriedades antibacteriana, cicatrizante, capacidade de reidratar o tecido capilar ou dérmico danificado por uma queimadura ou outros problemas na derme. A babosa quando aplicada sobre uma queimadura ajuda rapidamente a retirar a dor pelo seu efeito reidratante e calmante.

No Brasil representantes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e da Anvisa têm discutido sobre o uso da aloe vera como alimento. Isso porque não há um número suficiente de pesquisas cientificas que comprovem sua segurança para a saúde do consumidor.

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No entanto, a aloe vera tem sido empregada em alguns países como suplemento indicado e vendido para tratamento de obesidade, hiperlipidemia (excesso de gordura no sangue) e acne (Wang et al., 2002). O uso interno do gel é regulamentado como suplemento dietético nos EUA (Code of Federal Regulations,1991) e Europa (Council of Europe, 1981). O uso do suco da folhas como alimento, entretanto, não é permitido no Japão (Shioda et al., 2003). Pela Legislação Brasileira somente cosméticos e medicamentos fitoterápicos podem ser fabricados industrialmente a partir da planta. Alimentos como suco e isotônico vendidos em outros países não têm sua produção autorizada no Brasil. .

Consumo de alimentos à base de aloe vera não é seguro

Informe publicado em novembro de 2011 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), aponta que alimentos e sucos à base de aloe vera não devem ser consumidos pela população. Isso porque como já mencionado acima não há comprovação de segurança do consumo desses alimentos.

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No Brasil a aloe vera tem o uso autorizado somente em produtos cosméticos e em medicamentos fitoterápicos de uso tópico com função cicatrizante. Para ser classificada na categoria de "novos alimentos", a aloe vera precisa de registro junto à Anvisa para então poder ser comercializada dessa forma.

No entanto, todos os documentos científicos apresentados para a Anvisa, em pedidos de registro de alimentos à base aloe vera foram insuficientes para comprovar que o consumo desses alimentos não represente risco para a saúde da população. A Agência constatou ainda a ausência de estudos toxicológicos sobre esse produto.

O informe técnico indica que as substâncias antraceno e antraquinona presentes na aloe vera são mutagênicas, ou seja, podem causar mutação nas células humanas. Segundo o documento, a aloe vera apresenta produtos de biotransformação potencialmente tóxicos. Assim não possuem efeitos somente imediatos e facilmente correlacionados com sua ingestão, mas também efeitos que se instalam em longo prazo e de forma assintomática, podendo levar a um quadro clínico severo, algumas vezes fatal.

Ingestão de aloe vera: consequências

Alguns autores associam a ingestão de aloe vera com diarreia, disfunção do rim, dermatites, entre outras. Em geral é preciso cuidado com o uso interno a longo prazo.

Um estudo publicado pelo Journal of Environmental Science and Health Part C-Envitonmental Carcinogrnesis & Ecotoxicology Reviews 2010 mostrou uma avaliação das propriedades biológicas e toxicológicas de Aloe barbadensis (Miller), aloe vera. O estudo mostrou que a planta é fonte de dois produtos, gel e látex, que são obtidos a partir de suas folhas carnudas. Possui potenciais atividades biológicas e toxicológicas, no entanto, a ingestão de aloe vera é associada com diarreia e *desequilíbrio eletrolítico, disfunção renal e interações medicamentosas convencionais. Outros relatos como dermatite de contato (reação inflamatória na pele), eritema (vermelhidão/doença inflamatória da pele) e fototoxicidade (espécie de queimadura solar) foram identificados a partir de aplicações tópicas.

Outro estudo publicado em 2008 pela Society for Applied Microbiology, concluiu que a aloe vera possuí atividade bacteriogenica in vitro e alterou a produção de ácidos acético, butírico e propiônico por micro-organismos selecionados para o estudo.

Babosa e sua comercialização

Atualmente é comum encontrar produtos de venda livre em farmácias, drogarias, supermercados ou até em detergentes, xampus e condicionadores. Apesar de alegações sobre possíveis propriedades curativas da aloe, não existem estudos que comprovem essas afirmações.

Diante da falta de um numero suficiente de pesquisas que comprovem seus beneficios à saúde, minha recomendaçao é que não façam automedicação desse produto, pois muitas vezes os danos causados ao organismo poderão ser irreversiveis.

*Os distúrbios eletrolíticos mais graves envolvem anormalidades nos níveis de sódio, potássio e/ou cálcio

SERVIÇO

Em (14/11/2011), a Anvisa proibiu a venda, fabricação e importação de alimentos e bebidas à base de aloe vera. Em alimentos, essa substância só pode ser utilizada como aditivo na função de aromatizantes.

Para mais informações consulte: Informe Técnico nº. 47, de 16 de novembro de 2011. www.anvisa.gov.br