A primeira entrevista… a gente nunca se esquece – Parte II

por Roberto Santos

Na segunda parte deste artigo vou dar todas as dicas e detalhes para você ir bem preparado para a entrevista. Para ler a primeira parte clique aqui.

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A vida não começa no primeiro emprego

Uma das consultas recebidas aqui no Vya Estelar, tratava do nervosismo com a primeira entrevista, em parte por não saber o que acontece e outra, por não se saber o que falar uma vez que se trata do primeiro emprego ou estágio.

Se somos chamados para uma entrevista em que o selecionador tem informações a nosso respeito, ele sabe que não temos nenhuma experiência, daí já poderíamos nos acalmar, pois ambos sabem que não há experiências profissionais anteriores para comentar.

Entre milhares de currículos iguais, por que fui chamado?

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Então, de milhares de CVs iguais ao seu, por que você foi chamado(a) para uma entrevista? É por seu Q.I.? — não o quociente de inteligência, mas o famoso "Quem Indicou" — os "padrinhos" que pedem uma chance para uma entrevista? Isso pode ajudar, mas não é nem garantido e nem sustentável. Cabe-nos pensar sobre o que pode ter levado o selecionador a nos chamar — moro perto da empresa (o que significa menos custo de vale transporte) e menos atrasos? Que escolas eu estudei e se solicitado, minhas notas durante o curso? Alguma atividade extracurricular que tenha feito ou experiências culturais como intercâmbio? O velho e bom diferencial do domínio de um idioma importante — inglês, espanhol, alemão e mandarim?

Em todas nossas experiências antes mesmo do trabalho, estamos nos preparando para a vida, formando nosso caráter, definindo nossos valores, afinando nossa personalidade. Falar sobre essa formação de maneira transparente e honesta também "conta ponto" para essa primeira entrevista.

Detalhes tão pequenos: não chegue atrasado

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Se vamos nos preparar com estes aspectos complexos e filosóficos de nossa personalidade e a reputação que queremos construir para o futuro, não podemos perder a "guerra" pelas melhores oportunidades por detalhes tão pequenos, como chegar atrasado. Se você mora numa grande cidade como São Paulo, fica difícil não encontrar surpresas no caminho, como motoqueiros estatelados no asfalto, mas qualquer desculpa poderá ser encarada apenas como… uma desculpa. Então conte com todos os possíveis percalços, nem que seja para chegar uma hora antes do horário.

Vestimenta

Outro detalhe é a vestimenta. Pode parecer bobo e até inaceitável você ter que abandonar os rasgos de estimação em seu velho jeans desbotado e aquele tênis superconfortável e ventilado por cima e por baixo, e pior ainda, deixar em casa aquela camiseta do megasshow do último Rock in Rio. Afinal, você deveria ser aceito como você é… Por mais que isso fosse o ideal dos mundos, essa não é a realidade do mundo corporativo. Por outro lado, você não precisa invadir o guarda-roupa do seus pais ou irmãos /irmãs mais velhos para pegar aquela roupa dois números acima da sua. Conhecer um pouco sobre a empresa por algum conhecido que trabalhou lá, pode ser útil para saber se ela é mais liberal, como algumas agências de publicidade ou conservadora como aquele banco que para a "sexta casual" recomenda terno preto, camisa branca e gravata vermelha.

Tatoos e piercings

As tatuagens cobrindo os braços e os piercings crivando o corpo, por sua vez, são mais difíceis de disfarçar e, certo ou errado, provavelmente encontraremos preconceitos da parte de algumas empresas, ainda que as tatuagens estejam se tornando muito comuns – até entre entrevistadores de seleção! Para lidar com esses obstáculos, o caminho menos frustrante é buscar locais para trabalhar onde sabemos que há membros dessas "tribos" que são mais reconhecidos por sua competência do que pelos aspectos externos.

Voz

Nossa voz pode ser o veículo de conteúdos excepcionais que revelam nossos conhecimentos e experiências, nosso traquejo com o idioma nativo, livre de gerundismos e concordâncias discordantes — no padrão de ex-presidente.

Nossa voz pode ser veículo de múltiplos idiomas e de um vocabulário sofisticado, mas o veículo pode deixar a desejar quando o veículo não ajuda — falar baixo demais ou alto demais, mostrar tiques nervosos como "…entende?" ao final de cada frase, pode ser prejudicial para ter a atenção do entrevistador ao que interessa, ou seja, seu conteúdo.

Gestos, expressões faciais e postura: o corpo fala

Porém, mais alto e mais significativo do que o conteúdo ou nossa voz, pode ser o que nossa postura, expressões faciais e gesticulação comunicam sobre como estamos nos sentindo na entrevista — esparramados na cadeira, como se estivéssemos no sofá de casa, bocejando ou olhando no relógio ou pior, no SMS, ou desviando os olhos do olhar do entrevistador como o vampiro da bala de prata — são sinais que não nos ajudam na entrevista. Para estes e outros aspectos que comunicamos sem querer, nada como o "espelho social" do feedback de bons amigos sinceros que nos falem como nos comunicamos para podermos estar alertas na entrevista e assim evitar as falhas ao máximo.

E se um grande problema surge na véspera ou no dia da entrevista

Às vezes, nossa entrevista pode ser marcada com antecedência e eis que na véspera ou no dia, surge uma problemão familiar, mas você mantém a entrevista com medo de perder a vaga. Todos nós, inclusive o selecionador, sabe que podemos passar por isso, então, ser pró-ativo e logo avisar que você poderá receber uma ligação sobre essa emergência durante a entrevista, abrirá as portas para a compreensão de seu nervosismo, desde que o problema seja autêntico.

Mentir

E lembre-se do comprimento das pernas da mentira. Quando estamos inseguros quanto a algum aspecto de nosso currículo — por exemplo, a saída de uma empresa não muito bem explicada, um colorido mais exagerado para pintar um projeto no qual tivemos papel apenas terciário ou um curso que largamos pela metade, mas que assumimos que fizemos matérias suficientes para nos considerarmos formados — é nessa hora que bate aquela dúvida cruel: falo a verdade ou conto uma "mentirinha branca".

Surgem aquelas vozes internas — "isso não é mentir… é apenas omitir a verdade", ou "eu não menti, apenas contei a minha verdade", etc. A realidade é que essas mentiras podem ser descobertas por uma contradição que bons entrevistadores conseguem pegar, ou quando a empresa usa duas ou mais entrevistas, ou por um conhecido seu que trabalha na empresa ou é amigo do selecionador, ou na checagem de referências ou ainda, depois de contratado, na hora da entrega do prometido que não se consegue entregar.

Em cada um destes momentos teremos que conviver com as consequências e quanto mais avançado o processo de contratação mais difícil se torna retroceder para a verdade. Por isso, como disse Ghandi: "Um 'Não' expresso das convicções mais profundas é melhor do que um 'Sim' meramente falado para agradar, ou pior, para evitar problemas". Responder com a verdade as perguntas que nos são feitas, sempre será mais sustentável. Existem deficiências em nosso currículo que o empregador até pode aceitar por serem passíveis de treinamento, principalmente aquelas de natureza técnica, mas dificilmente se aceita para treinar alguém com deficiências de caráter, simplesmente porque não dá para fazê-lo com sucesso.

Os célebres três pontos fortes e fracos

Voltando para o leitor que perguntava sobre como se preparar para a primeira entrevista de sua vida. Uma questão que já respondi em outros momentos é sobre a tradicional pergunta: quais são seus três pontos fortes e três pontos fracos? que é feita por 9 dentre 10 selecionadores.

Para as qualidades sempre parece fácil, mas… e os defeitos? Se eu falar que eu tenho alguns, não serei contratado? A não ser que você esteja concorrendo a uma vaga de Deus, qualquer entrevistador sabe que todos temos defeitos — ou o eufemismo de RH, todos temos "oportunidades de desenvolvimento". E não vale dizer: "sou perfeccionista", "trabalho demais" ou "sou muito exigente"… A não ser que seu entrevistador também seja um calouro em entrevistas de seleção, estas não colam mais.

Uma sugestão para ambas as perguntas seria falar de coisas que colegas, amigos, parentes, professores já falaram para você sobre seu comportamento, sua atitude, seu estilo, etc. Assim, você estará transmitindo algo sobre sua reputação que é o que realmente conta no ambiente de trabalho — a imagem nossa que construímos na mente de outras pessoas, assumindo que as pessoas falam coisas boas e outras coisas não tão boas.

Essa visão equilibrada só contribuirá para você causar uma boa impressão, e é bom caprichar já que raramente a gente tem uma segunda chance de causar uma boa primeira impressão.