A importância da digestão

por Gilberto Coutinho

Tão vital quanto a respiração, a digestão, do Latim "digestionem", é considerada um dos processos químicos e fisiológicos mais importantes. O sistema digestivo estende-se da boca até o ânus. Consiste de trato gastrointestinal e de seus órgãos apêndices como, por exemplo, glândulas salivares, fígado, vesícula biliar e pâncreas.

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A digestão começa na boca com a mastigação, onde os alimentos sólidos são triturados e impregnados pela saliva, a qual contém uma enzima que atua sobre o amido, convertendo-o em açúcar. Através da deglutição, o bolo alimentar passa para o esôfago e, então, para o estômago, onde se desintegra ainda mais, sofre uma série de amassamentos e é atacado pelos sucos gástricos, que contêm ácido clorídrico, pepsina e outras substâncias como renina, que coagula o leite.

As alterações físicas dos alimentos sólidos dão-se mediante a mastigação e a mistura do bolo alimentar (quimo) com os sucos digestivos, ao passar pelo trato digestivo. Os sucos digestivos são responsáveis pelas quebras químicas do quimo, e seus compostos ativos constituem-se, basicamente, de enzimas.

Os alimentos necessários para o bom funcionamento orgânico podem ser classificados em carboidratos (sacarose: cana-de-açúcar; lactose: leite; amidos: cereais; celulose – o tubo gastrintestinal humano não produz enzima capaz de hidrolisar ou digerir a celulose); proteínas – incluindo as dos vegetais; gorduras – que, em grandes quantidades, são muito prejudiciais à saúde; água; e pequenas quantidades de substâncias como vitaminas e sais minerais. Em geral, tais alimentos não são absorvidos em suas formas naturais através da mucosa gastrointestinal e, por isso, são submetidos ao processo preliminar da digestão.

Segundo a Medicina Tradicional Indiana – Ayurveda, o apetite e a digestão encontram-se interrelacionados e refletem a eficácia do fogo bioenergético digestivo (agni). Quando agni é adequado (forte), os alimentos são bem digeridos e o metabolismo funciona adequadamente. Em geral, as pessoas podem apresentar problemas digestivos relacionados tanto à deficiência quanto ao excesso de fogo digestivo que, nesses casos, podem causar calor na região do estômago, azia e indigestão ácida.

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As ervas que podem estimular agni são picantes e devem ser ingeridas antes ou após as principais refeições: gengibre (estimula o fluxo de enzimas salivares, melhora a atividade estomacal e contém enzimas que auxiliam na digestão das proteínas), pimenta-do-reino, pimenta-de-caiena, sementes de aipo, pimenta-longa (Piper longum); apresentam óleos essenciais que auxiliam na digestão.

As ervas amargas também são importantes para estimular a fase inicial da digestão, através de um reflexo neural entre a língua e o centro de estimulação gástrica localizado no tronco cerebral. A genciana (Gentiana lutea) é considerada um clássico tônico digestivo amargo que estimula o apetite e as secreções de enzimas pelo estômago, vesícula biliar e pâncreas.

Nos casos de hiperatividade do fogo digestivo (hiperacidez, refluxo gastroesofágico, azia e úlceras pépticas), ervas refrescantes que pacificam o "calor" excessivo e melhoram a digestão podem ser utilizadas: cominho, coentro, funcho, alcaçuz etc; devem ser ingeridas após as refeições ou quando existirem sintomas de indigestão.

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Na segunda fase da digestão, quando o alimento sai do estômago e segue para os intestinos, pode-se dar a formação de gases, inchaço abdominal (distensão) e sensação de peso pós refeição. Nesses casos, as ervas indicadas para combaterem espasmos e inchaço abdominal são: hortelã, noz-moscada, camomila e verbena-limão (Aloysia triphylla). A canela, o louro e o cardamomo são carminativos, isto é, atenuam o desenvolvimento de gases no estômago e intestinos.

Pessoas sensíveis ao leite, mas que não apresentem deficiência de lactase (enzima secretada pela mucosa intestinal), devem tomá-lo quente com canela, cardamomo ou noz-moscada (em pó). Manjericão, orégano, sementes de aipo, tomilho, pimenta longa, coentro, cominho e funcho também são indicados no combate da flatulência. Cozinhar o feijão com algumas folhas de assa-fétida (Ferula assafoetida) ajuda evitar formação de gases intestinais, pois que apresenta propriedades antiespasmódicas.

O problema maior em relação ao uso regular de ervas laxantes é o fato de os intestinos tornarem-se cada vez mais preguiçosos. Praticar exercícios moderados e regulares tais como Yoga, caminhada e natação auxilia no funcionamento dos intestinos.

Sistema digestivo

Boca: recebe os alimentos, mediante a mastigação, transforma-os em pequenos pedaços, ao mesmo tempo em que são misturados com a saliva.

Esôfago: transporta os alimentos (sólidos e líquidos) da cavidade oral (boca) para o estômago.

Estômago: é responsável pela digestão de proteínas e a ionização de sais minerais, para que esses possam ser absorvidos pelo organismo; secreta ácido gástrico (ácido clorídrico, vários hormônios e enzimas). Apesar da grande preocupação existente em relação à hiperacidez (como, geralmente, acontece nas úlceras pépticas), problemas ainda maiores de saúde podem ser ocasionados pela secreção deficiente de ácido gástrico (hipocloridria).

Fígado: órgão complexo e intrigante, o mais importante do metabolismo. A saúde e a vitalidade de uma pessoa em muito dependem do bom funcionamento desse órgão. Dentre as principais funções, incluem o metabolismo das proteínas, carboidratos e gorduras; dos hormônios desintoxicantes, toxinas e drogas e a síntese de substâncias fisiológicas. Também fabrica a bile que é secretada no intestino delgado ou armazenada na vesícula biliar.

Vesícula biliar: armazena a bile que é importante na digestão de gorduras e vitaminas solúveis em gordura. Assim como as enzimas pancreáticas, a bile também serve para manter o intestino delgado livre de microrganismos patogênicos. Diariamente, é secretado um litro de bile no intestino delgado, com cerca de 99% de reabsorção.

Intestino delgado: participa em vários aspectos da digestão tais como: absorção e transporte de materiais ingeridos; secreta várias substâncias digestivas e protetoras; e recebe secreções do pâncreas, fígado e vesícula biliar. O intestino delgado tem mais de 6 metros de comprimento e divide-se em três segmentos: duodeno (os primeiros 25 a 30 cm, absorve os sais minerais); jejuno (porção média, com aproximadamente 2,4 m, absorve vitaminas solúveis em água, carboidratos e proteínas); e íleo (que tem cerca de 3,6 m, absorve vitaminas solúveis em gordura, colesterol e sais biliares).

O mau funcionamento do intestino delgado ocasiona, na maioria das vezes, má absorção caracterizada por deficiência de diversos nutrientes; como é o caso da gastroplastia (que reduz o tamanho do intestino e indicada em casos de obesidade mórbida).

Alguns exemplos mais comuns de má absorção: doença celíaca (intolerância ao glúten), intolerância alimentar, infecções intestinais e doença de Crohn.

Intestino grosso (cólon): apresenta cerca de 1,50 m de comprimento e tem a função de absorver água, eletrólitos e alguns produtos finais da digestão. O bom funcionamento desse órgão depende da qualidade da alimentação (saudável). A fibra encontrada nos vegetais é de grande importância para a manutenção da saúde do cólon.

Pâncreas: produz secreções enzimáticas necessárias para a digestão e absorção dos alimentos. Diariamente, secreta cerca de 1,5 litros de suco pancreático no intestino delgado. As enzimas são: lipases (digerem a gordura, juntamente com a bile; sua deficiência resulta em má absorção de gorduras e de vitaminas solúveis em gorduras), proteases (digerem proteínas em aminoácidos simples) e amilases (digerem o amido em açúcares menores).

A digestão incompleta de proteínas ocasiona diversos problemas de saúde, tais como desenvolvimento de alergias e formação de substâncias tóxicas produzidas durante a putefração (quebra do material protéico por bactérias). As proteases, assim como outras secreções digestivas, são responsáveis pela manutenção do intestino delgado livre de parasitas (bactérias, protozoários, leveduras e vermes intestinais), inclusive, infecção intestinal.

Indigestão

Indisposição proveniente de uma digestão malfeita (dispepsia), quadro de distúrbios que se caracteriza por um mau funcionamento digestivo após uma refeição mal tolerada ou excessiva. Atribuída a diversas causas, inclusive deficiência na secreção dos sucos gástricos e enzimas digestivas e mau funcionamento do fígado e vesícula biliar.

Como melhorar a digestão?

(1) mastigação completa dos alimentos; (2) almoço por volta do meio-dia, quando o fogo biológico digestivo encontra-se mais ativo; (3) a não ingestão de água durante as refeições (almoço e jantar), principalmente, água gelada; (4) a não utilização de antiácidos, para se aliviarem sintomas da indigestão, pois estudos clínicos revelaram que a neutralização do ácido gástrico não traz benefício terapêutico; (5) uso de preparações enzimáticas, pancreatina, bromelaína, papaína, de verduras e remédios botânicos amargos; acredita-se que os amargos terapêuticos estimulem a digestão mediante a ativação dos receptores do paladar para o amargo, presentes na superfície da língua, na ativação de vários processos digestivos, inclusive, a secreção dos sucos gástricos. Exemplos: dente-de-leão (Taraxacum officinale), Camomila (Matricaria chamomilla), Hidraste (Hydrastis canadensis), genciana (Gentiana lutea), zedoária (Curcuma zedoaria), absinto, jiló, rúcula, gengibre, alho, mamão, maçã etc.

Alguns sintomas e sinais de deficiência dos sucos gástricos

Inflamação abdominal; eructação; ardor; flatulência após as refeições; sensação de "saciedade' depois de comer; indigestão; diarréia; prisão de ventre; intolerâncias alimentares; náuseas, após a ingestão de suplementos; coceira em torno do reto; unhas fracas, descamadas e quebradiças; vasos sangüíneos dilatados nas bochechas e nariz (nos não alcoólatras); acne; deficiência de ferro; parasitas intestinais crônicos; flora intestinal anormal; alimentos não digeridos nas fezes; infecções crônicas por Candida albicans; gazes no trato digestivo superior.

Distúrbios relacionados a deficiência da acidez gástrica

Doença de Addison, asma, doença celíaca, dematite herpetiforme, diabetes mellitus, eczema, distúrbio da vesícula biliar, doença de Graves, distúrbios auto-imunes crônicos, hepatite, urticária crônica, lupus eritematoso, miastenia grave, osteoporose, anemia perniciosa, psoríase, artrite reumatóide, rosácea, síndrome de Sjögren, tireotoxicose, hiper ou hipotireoidismo e vitiligo.