Riscos das drogas lícitas

por Dr. Joel Rennó Jr.

O fato de uma droga ser considerada lícita, não significa que não possa ser muito danosa à saúde e a vida das pessoas. Portanto, não apresenta quaisquer vantagens. Recente pesquisa feita pelo CEBRID (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas) registrou, entre 2001 e 2005, um pequeno aumento no número de dependentes de bebidas alcoólicas e de tabaco.

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O índice de dependentes de álcool passou de 11,2% para 12,3% no período, o que representa cerca de 5,8 milhões de brasileiros com idade entre 12 e 65 anos. Já os dependentes de tabaco subiram de 9% para 10,1% – 4,7 milhões de pessoas.

Mais importante que o aumento detectado, foi a constatação do uso cada vez mais precoce de álcool e tabaco. Os pais dos adolescentes devem deter o conhecimento, assim como as escolas e instituições governamentais, a fim de evitarmos o contato precoce com o álcool e o tabaco.

Quanto mais precoce o contato com essas drogas, maiores riscos de dependência e prejuízos na saúde. A própria permissividade ou passividade dos pais, ao usarem também tais drogas, podem estimular e iniciar os filhos nas mesmas. Algumas pesquisas detectam que os antecedentes familiares são importantes, além da identificação com o grupo de convívio adolescente. As propagandas precisam de maior regulamentação. Os locais que vendem necessitam de fiscalização rigorosa. Os impostos deveriam até ser maiores e revertidos para as campanhas governamentais com programas de prevenção eficientes.

Os dados alarmantes não param por aí. Os benzodiazepínicos ou tranqüilizantes (os populares remédios de faixa preta), assim como as anfetaminas, também tiveram aumentos significativos. Com relação aos tranqüilizantes subiu de 3,3% para 5,6%. Entre mulheres, o consumo é ainda maior, cerca de 6,9%. Quando a mulher se queixa de tristeza, ansiedade, estresse e insônia tende a sair de alguns consultórios com esses calmantes. E a tendência é que mantenham o uso continuado das medicações. Já os estimulantes (anfetaminas) passaram de 1,5% para 3,2%, ou seja, o uso dobrou. Cabe ressaltar que o Brasil é o maior consumidor de anfetaminas do mundo; padrões estéticos rígidos, falsas promessas de emagrecimentos rápidos e mágicos, cultuação excessiva ao corpo magro estão entre os principais responsáveis pelo seu uso abusivo.

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A responsabilidade por esses dados alarmantes deve ser de toda a sociedade, sem exceções. Recebo ainda nos meus atendimentos muitas mulheres que vêm tomando anfetaminas, prescritas por certos médicos despreparados ou antiéticos ou adquiridas por conta própria em um mercado paralelo de alto risco.

Cabe às instituições governamentais e à própria sociedade fiscalizarem e punirem as pessoas que agem dessa forma. Sociedades de Especialidades Médicas têm também lutado bastante contra essa distorção, até com campanhas educativas. Mas até o presente, todos os procedimentos mostraram-se ineficientes para conter os abusos.

O uso de anfetaminas, além de poder gerar dependência, tremores, suores intensos, taquicardia, pode causar ou desencadear transtornos ou sintomas psiquiátricos como depressão, irritabilidade, agitação psicomotora e psicose (alucinações e delírios). Há até risco de morte.

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O pior é que algumas das fórmulas de regime contêm a associação incoerente e absurda de doses excessivas de antidepressivos, tranqüilizantes e anfetaminas. Alguns pacientes sequer sabem com profundidade dos riscos que correm. Outros, mesmo cientes dos riscos, tentam ignorá-los em busca da felicidade idealizada através de um aspecto puramente material. O pior é que tal emagrecimento, sem um suporte psicológico adequado, não significa melhora da qualidade de vida e da autoestima.