Por que adultos jovens optam por solidão

por Marisa Micheloti

Constantemente tenho atendido adultos jovens (essa é uma denominação de pessoas entre 20/25 anos, mais ou menos) em meu consultório de um bom poder aquisitivo, bonitos, cultos, ótima aparência física que apresentam queixas muito semelhantes, vindas tanto de homens como de mulheres: "Não encontro ninguém legal e se é para ficar com alguém que não é o que eu quero, prefiro ficar sozinho".

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Quando aponto que se está tão bom ficar sozinho, por que não cultiva essa sensação? Aí rapidamente vem a resposta: "Ah, mas eu quero viver um amor, ter uma família, casar, realizar sonhos…". São esses os frequentes conflitos e muitos persistem nessa dinâmica como a causa de suas vidas.

Realmente o mundo moderno contribui para dissimular uma falta de contato que aprofunde mais intensamente as relações. Pensemos em algumas delas.

Os locais que esses jovens frequentam aparentemente sugerem uma relação grupal, mas na realidade tendem ao isolamento. A relação com os computadores que um cyber café ou "lan house" oferece exige uma certa competência, mas estimula mesmo uma competição entre os integrantes, onde os indivíduos interagem com os outros apenas indiretamente. A máquina garante um sigilo do fracasso, da insegurança, do insucesso, sem que tudo seja desmascarado como acontece nas relações humanas. Em muitos casos ha uma relação com as máquinas e aí se estabelece um vínculo de companhia.

Nos bares e nas danceterias as situações mudam um pouco de figura. Muitos desses locais, a música tem um volume que impossibilita entender o que a pessoa ao seu lado diz. Frequentemente se desiste de um diálogo.

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Os jantares mais íntimos também estão condenados quando se têm o propósito de criar um clima aparentemente romântico, mas novamente a conversa se escasseia pela dificuldade de se entabular um assunto e pelo esforço que se despende para se fazer entender ou compreender o outro. Os casais muitas vezes cedem ao barulho devido à exaustão, fazendo o silêncio tomar conta da noite.

As casas de dança apresentam os indivíduos dançando isoladamente ou, se em grupos, em uma coreografia individualizada onde não importa ver o outro, mas ser visto e notado em um movimento narcísico, onde momentaneamente a pessoa se sente bem, mas posteriormente a sensação de solidão se apropria já que nesse tipo de relação não há troca, apenas se recebe e não se dá. O único momento passivo do ser humano onde isso ocorre naturalmente, é na vida de bebê. Depois dessa fase, tudo é interação e se essa interação não ocorre, a sensação de solidão se estabelece.

Um outro olhar para as falsas companhias é feito quando percebemos que homens e mulheres buscam companhia desenfreada através do consumo de drogas e bebidas. É uma forma de se envolver com o prazer de uma maneira solitária. Os jovens buscam se automedicar procurando "alguém" que possa lhe trazer prazer imediato e não lhe exija nada. Por isso o uso tão frequente de drogas que proporciona o isolamento.

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A sexualidade então nem se fala, você pode escolher um parceiro idealizado e seu computador traz para você as maiores adequações de suas fantasias sexuais. Tudo é possível sem precisar interagir com ninguém.

O psicólogo inglês Steve Biddulph alerta sobre a dificuldade dos pais de se apropriarem da real responsabilidade que é educar os filhos, do constante trabalho que isso exige e comenta que não basta os pais estarem em casa assistindo televisão, isso não os faz presentes para os filhos. Necessita-se de uma relação de interação em tarefas conjuntas. Assim estabelecem-se relações de respeito.

Realmente as relações sofrem com esse quadro social moderno, mas é importante ressaltar que aquilo que parece melhor, o "estar só", nada mais é que uma grande dificuldade de enfrentar um envolvimento, criar um projeto de vida comum e isso significa que estar junto é um constante processo educativo, onde se criam transformações, mas muitas vezes parece que é mais fácil mandar tudo pelos ares.

É necessário saber que se você desistir de pedir para seu filho que escove os dentes, o fracasso é seu, não do seu filho. Em uma relação onde os tão sonhados planos se perdem, a sensação de fracasso pode ocupar o espaço vazio e ser chamada de solidão. Cuidem das relações em respeito aos seus sonhos e suas conquistas lhe trarão fortalecimento.

Marisa Micheloti é psicóloga e educadora sexual