Empréstimo em família deve ser bem estipulado

por Eliana Bussinger

Diz o ditado que "amigos, amigos, negócios à parte". Gosto de estender esse ditado, também para a família, porque, em verdade "parentes, parentes, os negócios também deveriam ser à parte".

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Empréstimos, em particular, costumam azedar as relações entre os membros da família. Familiares bem-intencionados – principalmente pais – costumam achar que estão ajudando quando emprestam ou doam dinheiro para seus filhos.

Não é raro vermos jovens recém-casados receberam dos familiares uma "ajuda" para a compra ou montagem do primeiro lar. Às vezes na forma de doação, às vezes na forma de empréstimo.

Meses após o casamento, quando o jovem casal comunicar à família que vai sair de férias para o Nordeste ou vai trocar de carro, os sogros imediatamente se lembrarão do dinheiro emprestado – e provavelmente ainda não pago. Ainda que a um nível inconsciente, no cérebro do parente credor vai ocorrer a pergunta; "Como podem viajar se ainda me devem? Que falta de consideração".

E assim será para cada despesa que o casal fizer que não estiver na rotineira compra de comida, sabão em pó e papel higiênico. Roupa nova no domingo, no encontro da família? Todos notarão se o empréstimo *Dâmocles, ainda estiver pendurado na sua cabeça. E aposte que os olhares não serão sobre como a roupa lhe caiu bem.

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Afinal, você foi almoçar com seus credores e não apenas com seus familiares. Credores costumam observar essas coisas sobre o seguinte aspecto: "Se eles têm dinheiro porque não me pagam o que me devem?"

A relação inteira se modifica. Se há dependência financeira, não pode haver liberdade. Eu particularmente acho que empréstimos dessa natureza sempre resultam em algum tipo de rusga. Sempre.

Anos e anos depois, ainda que tudo tenha sido acertado, sempre fica um certo ranço. Mas, enfim, se for inevitável, a moral da história aqui é simples: um empréstimo familiar precisa ser muito bem estipulado, tal qual um contrato. E a determinação de prazo é uma das coisas mais importantes. E também a remuneração do capital. Não deixe de pagar juros a quem te empresta, mesmo sendo seus pais.

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Nós vivemos num país que ainda tem as maiores taxas de juros do mundo. Se você usasse uma financeira estaria pagando cerca de 270% ao ano por um empréstimo.

Portanto, leve isso em consideração se – e apenas se – emergencialmente você não tiver outra saída a não ser recorrer a seus parentes. É mais do que justo e ameniza a situação de dependência.

Alguns familiares acharão ótimo um contrato que seja favorável a eles. Afinal emprestar a 1% ao mês, por exemplo, é mais gratificante do que deixar na poupança.

Assim, você precisa saber negociar. Seja generoso com quem estiver querendo te ajudar. E seja um bom pagador. Fama de mau pagador na família é pecha para toda vida.

Amigos somem. Alguns voltam, outros não. Mas família é fardo – e alegria – para todo sempre.

*Dâmocles, ao que parece, era um cortesão bastante bajulador na corte de Dionísio I de Siracusa – um tirano do século 4 A.C em Siracusa, Sicília. Ele dizia que, como um grande homem de poder e autoridade, Dionísio era verdadeiramente afortunado. Dionísio ofereceu-se para trocar de lugar com ele por um dia, para que ele também pudesse sentir o gosto de toda esta sorte. À noite, um banquete foi realizado, onde Dâmocles adorou ser servido como um rei. Somente ao fim da refeição olhou para cima e percebeu uma espada afiada suspensa por um único fio de rabo de cavalo, suspensa diretamente sobre sua cabeça. Imediatamente perdeu o interesse pela excelente comida e pelos belos rapazes e abdicou de seu posto, dizendo que não queria mais ser tão afortunado.

A espada de Dâmocles é uma alusão freqüentemente usada para remeter a este conto, representando a insegurança daqueles com grande poder (devido à possibilidade deste poder lhes ser tomado de repente) ou, mais genericamente, a qualquer sentimento de danação iminente.
Fonte: Wikipedia