Quem diz amar duas pessoas ao mesmo tempo não vive um amor real

por Tatiana Ades

Muitos psicanalistas acreditam na possibilidade de uma pessoa amar outra além do parceiro (a) fixo. Eu não consigo conceber o amor real e saudável dessa forma.

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As justificativas dadas pelas pessoas para o fato de amarem outra pessoa é de que o parceiro não supre todas suas necessidades e por isso buscar alguém torna-se a saída.

Porém, se pensarmos na definição de amor real, perceberemos que as diferenças e faltas podem ser os principais ingredientes para uma reconstrução amorosa ainda mais saudável e madura. Afinal de contas, o amor exige tempo, construção, diálogo, aceitação de diferenças, saber lidar com os nossos limites e os limites do outro.

Relato

Betty (nome fictício ) me conta que quando conheceu Daniel, logo percebeu que ele preencheria o lado sexual que ela não encontrava há tempos com o marido, sentia-se desmotivada com o somente boa-noite-querida do marido.

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Aí Daniel entra na vida de Betty e lhe oferece o sexo que ela perdera e a faz novamente sentir-se desejada e com uma autoestima elevada.

Questiono Betty se ela ainda ama o marido e ela seguramente me responde:

– Certamente que sim, ele possui outras qualidades que o Daniel não me daria nunca!

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Negação de um recomeço

Betty está certamente envolvida num processo difícil de negação, onde ela acredita que amar o marido não possa representar um recomeço. Por isso, ao invés de tentar resolver o problema sexual com ele, busca preencher essa carência com outra pessoa. No entanto, essa carência vai além da necessidade física, ela precisa preencher a carência que sente justamente de se sentir desejada por quem ela ama.

Sugeri a Betty uma terapia de casal e, depois de muito insistir, ela concordou. No processo terapêutico ela pôde ouvir o marido dizer o que sentia; a falta que ele sentia em tê-la mais perto e como ele temia se aproximar sexualmente para não levar um "não".

Vemos aqui um processo de falta de comunicação muito comum nos casais que, ao invés de dialogarem sobre os problemas, se tornam calados e seres estranhos um para o outro.

No caso de Betty, após ouvir o que o marido realmente sentia e não o que ela achava que ele sentia, ela percebeu o quanto queria reconstruir a relação e ambos foram sinceros dizendo ao outro o que faltava; o que a rotina trazia de bom e ruim; o que era preciso mudar e dessa forma recomeçaram de forma intensa.

Negação do fim

Em outros casos o amor realmente acaba e as pessoas buscam outras, porque a rotina do casamento já está formada e sair dela é muito difícil para algumas pessoas. Dessa forma, buscam novas paixões e não conseguem se desvincular de um lar que já está formado, tendo uma atitude de negação e a falsa percepção de amar duas pessoas ao mesmo tempo: "Eu ainda o amo, mas amo o outro também".

É bom lembrarmos que quando o amor é real e sincero, não há interesse em outras pessoas, e não digo no sentido moral da questão, mas instintivamente ao amar muito alguém, temos a tendência de investir nessa pessoa.

Cinco sinais de um relacionamento amoroso é saudável:

1º) O casal sempre dialoga sobre o que pode melhorar;

2º) O casal expõem o que falta e analisam juntos como melhorar a situação;

3º) O casal não coloca mecanismos de defesa e negações, a verdade é dita pelo bem da construção e amadurecimento da relação;

4º) Quando há um eventual interesse por outra pessoa, não há concretização do ato, pois a "culpa" e o amor pelo outro "impedem" essa atitude;

5º) O casal é uma unidade respeitando os limites do outro, dando espaço e confiança, trazendo conforto, paz e principalmente sinceridade.

Quando sou sincera comigo mesma, estou pronta para ser sincera com quem amo e não há limites para esse amor. Quando acho que amo duas pessoas, não estou me conhecendo de verdade e construo uma vida falsa para poder lidar com minhas carências.

No amor se joga limpo e isso nenhuma sociedade liquida (onde as pessoas são descartáveis) pode nos tirar.