Sons: como mantras e rock pesado atuam em você

por Angelo Medina

Vya Estelar entrevista a cantora hindu Meeta Ravindra. Ela é dona de uma voz que altera o estado de consciência dos ouvintes e já lançou 13 álbuns.

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A cantora zen explica como a música pode ajudar no equilíbrio e no bem-estar. Meeta apresenta os benefícios dos mantras e mostra o que difere a música indiana da música de outras culturas e diz por que o rock pesado pode desarmonizar os corpos mental e emocional.

Ravindra nasceu na Índia, em Sewagram, aldeia fundada por Mahatma Gandhi. Iniciou sua carreira aos cinco anos e conquistou aos quatorze o primeiro prêmio no "Bhajan Sangeet" – música devocional. Completou sua formação na universidade de Nagpur, com distinção em música.

Há vários anos estabelecida estabelecida no Brasil, ela fundou a Associação Cultural Índia-Brasil com o intuito de aproximar a cultura dos dois países. Foi honrada pelo governo indiano pela divulgação da música clássica indiana.

Vya Estelar – Como utilizar a música como veículo terapêutico?

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Meeta Ravindra – Escutar música faz maravilhas quando a utilizamos para aliviar o estresse. A música sempre foi um método de cura. O ritmo da música, ou mesmo as suas batidas, têm um efeito calmante, mesmo que não estejamos conscientes disso.

Ainda no útero de nossas mães, provavelmente fomos influenciados de alguma forma pelos seus batimentos cardíacos. Nós também respondemos à música nos outros estágios da vida. Às vezes associamos a música com o ambiente seguro, relaxante e protetor que nossas mães nos deram. A música é uma forma de tocar no conhecimento inato que está dentro das nossas células. Nós 'vivemos' na música.

A boa música inspira, relaxa e energiza. Enfim, ela cura e mantém o bem-estar. Por exemplo, no trânsito pode-se ouvir uma música erudita que mudará o humor.

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O universo emana uma sinfonia dos mais variados sons interagindo e vibrando entre si. A música é o pulso de energia que caminha por, e entre tudo, através de vibrações.

Vya Estelar – A música indiana tem algo em especial que a difere da música de outras culturas?

Meeta Ravindra – A diferença mais clara entre a música indiana e as de outras culturas consiste no fato de que, por exemplo, a composição ocidental possui uma complexidade tonal – mudanças de tons – enquanto que a melodia indiana concentra-se completamente numa tendência ou num sentimento principal – monocórdio – uma célula harmônica/melódica que se expande.

Por isso existe a intensidade e o hipnotismo, tornando o efeito mágico. Na música indiana existem os ragas – escalas de determinados horários, determinadas estações – que geram certos tipos de emoções que equilibram a psique.

Por exemplo: na estação de calor é cantado um raga próprio, o sentimento de bem-estar e frescor é obtido. No caso de uma depressão, se o raga correto for cantado ou tocado, os sentimentos depressivos serão amenizados dando lugar a pensamentos positivos.

Vya Estelar – O que vem a ser a filosofia de vida associada à yoga e à música?

Meeta Ravindra – O yoga e a música em tempos remotos se transformaram, simultaneamente, numa arte do viver e do espiritualismo para alcançar 'A Verdade Absoluta'.

Atualmente a música possui seu valor como uma arte, mas começou a perder seus valores espirituais. O yoga começou a perder seus valores como uma forma de vida para o homem como ser social. Torno-se unicamente uma filosofia e um trajeto espiritual.

Vya Estelar – A música indiana possui melodias envolventes. Porém, as letras e mantras em 'sânscrito', impedem nós ocidentais de entender o seu significado. Mesmo assim, poderíamos atingir a consciência suprema – limpeza da mente?

Meeta Ravindra – Qualquer palavra produz uma vibração física real. Se nós soubermos qual o efeito dessa vibração, então a palavra poderá ter seu significado associado com o efeito da vibração vocal (palavra). Este é um nível da base da energia para as palavras. O outro nível é a intenção. Se a vibração física real for acoplada com uma intenção mental, a vibração passa a conter um componente mental adicional que influencia o resultado do 'dizer'. O som é a onda portadora e a intenção fica sobreposta sobre a forma da onda, exatamente como um gel colorido que influencia a aparência e o efeito de uma luz branca.

A palavra é baseada em uma energia. E isto que ocorre em um mantra em sânscrito. Mesmo que exista um significado literal de cada mantra, o efeito dele será real somente com a pronunciação e o conhecimento do propósito deste mantra.

O sânscrito é uma língua vibratória. O padrão vibratório que são criados pela repetição dos mantras alteram o físico do nosso mundo. Essas vibrações são chamadas de 'Shakti'. Se um grupo de pessoas começa a meditar e repetir, em conjunto, a palavra OM, e tem um pratinho com açúcar ou sal, por exemplo, esse açúcar ou sal começará a criar o formato desse som – não o simbolo do OM, mas a representação simbólica do significado do OM. Criará uma mandala por exemplo.

Vya Estelar – Cada pessoa deve descobrir qual tipo de música mais a faz relaxar, ou existe, sim, um determinado tipo de música mais relaxante?

Meeta Ravindra – A música que você escolhe, depende dos resultados que você espera. Se você quer se relaxar ou buscar energias positivas para a mente, a melhor escolha seria uma música ou sons que levem você a um estado que altera a consciência e não requer a análise intelectual. Eu sugiro mantras. Quando repetidos, ajudam a mente a conseguir um sentido de equilíbrio. Uma combinação dos sons em mantras sânscritos produz determinadas vibrações positivas e eleva a mente a um estágio mais elevado de consciência.

Vya Estelar – Você pode extravasar sua agressividade e estresse ouvindo um 'som pesado', ou ocorreria o inverso, 'chacoalharia' mais ainda a mente?

Meeta Ravindra – No estado físico, o som tem a habilidade de rearranjar a estrutura molecular. Este é um fato científico. Como nós sabemos, tudo no universo está em um estado de vibração, desde a cadeira em que você senta para ler esta entrevista, como a própria. Todas as partes do nosso corpo estão também em estado da vibração, dos vários órgãos aos tecidos, ossos, etc. Quando nós estamos em um estado saudável, todas estas peças corporais estão trabalhando juntas, criando um harmonia total de saúde.

Se uma destas peças começar a vibrar em uma forma diferente, acaba gerando um estado que chamamos de 'doença'. Um dos conceitos básicos de cura com o som no corpo físico é projetar uma ressonância correta de acordo com a freqüência do órgão. Nos corpos emocionais e mentais, a música é muito eficaz. A música afeta o sistema límbico, parte do cérebro que governa as emoções.

Portanto, uma música que provoca grandes diferenças entre tons e freqüências, altera o estado de harmonia das vibrações corpóreas e mentais. O rock, por exemplo, possui uma série de notas repetitivas, tons muitos elevados (agudos) ou muito baixos (graves). Essas notas e tons requerem um ajuste imediato da mente para compreender as freqüências diferentes.

Por isso a mente não consegue assimilar facilmente as mais diferentes mudanças tonais, e envia sinais errados para lugares errados do corpo, provocando um desbalance das vibrações harmoniosas. Por isso, concluo que um rock pesado alteraria o estado emocional da pessoa num aspecto não harmonioso.

Vya Estelar – Ouvir, dançar, cantar, ou tocar um instrumento: dá para dizer o que traz os maiores benefícios no sentido de extravasar as emoções?

Meeta Ravindra – Cada atividade diferente resulta em uma reação diferente. Dançar, cantar, tocar um instrumento ou mesmo somente ouvir a música, levam o corpo e a mente a diferentes tipos de reações. Se o propósito é o relaxamento mental e corporal, ouvir mantras seria o recomendado. Dançar ritmicamente, combinando o ritmo com os movimentos corporais, resulta na circulação das moléculas de energia e, conseqüentemente, na sua renovação.

Tocar um instrumento traz o beneficio do movimento físico, que se harmoniza com as vibrações sonoras do instrumento. Neste caso, existe uma transfusão mútua de energia entre o corpo físico com o instrumento.

Quando cantamos, especialmente sons que promovem benefícios externos e internos como os mantras, o corpo usa a si próprio como instrumento. Aquela troca de energia entre o instrumento e o corpo físico acontece em maior harmonia, porque o corpo já esta sintonizado consigo mesmo. O corpo não perde tempo em sintonizá-lo com uma matéria exterior.

Vya Estelar – Por que a senhora dedicou um álbum inteiro a Shiva?

Meeta Ravindra – Quando gravei o CD OM Shiva meu objetivo era agradecer ao deus Shiva por salvar a vida do meu marido, Ravindra, num gravíssimo acidente.

Shiva significa literalmente o 'auspicioso, promovedor do bem-estar'. É o destruidor de todo o mal. No hinduismo, a criação segue a destruição. Conseqüentemente, Shiva é considerado também um poder reprodutivo, que restaura que foi dissolvido.

Vya Estelar – Quais são os seus próximos projetos?

Meeta Ravindra – O meu propósito, desde que comecei a minha carreira no Brasil, sempre foi de divulgar a cultura indiana, através da música e de sua língua. E este é um projeto eterno que trabalharei até quando Deus permitir. Mas os meus próximos trabalhos envolvem a gravação de CD's. Acabei de lançar o álbum Jai Shri Krishna e o próximo lançamento será um álbum dedicado ao deus Ganesha – deidade hindu conhecida por remover os obstáculos.