O que é e quanto tempo dura um estresse pós-traumático?

por Dr. Joel Rennó Jr.

O mundo atual extremamente competitivo, individualista, agressivo e violento tem provocado um aumento do número de casos clínicos de um transtorno mental (em pessoas predispostas) conhecido como o Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT).

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Psicoterapia ainda é o tratamento mais indicado para tratar do estresse pós-traumático

Segundo o DSM-IVManual Diagnóstico e Estatístico em Saúde Mental da Associação Psiquiátrica Americana, a característica essencial do TEPT é o desenvolvimento de sintomas característicos após a exposição a um extremo estressor traumático (violência moral ou física, seqüestro, assalto, terrorismo, guerra, etc) envolvendo a experiência pessoal direta de um ‘evento real ou ameaçador’ que envolva morte, sério ferimento ou outra ameaça à própria integridade física; ter testemunhado ou ouvido falar de um evento igualmente ameaçador a outrem (incluindo membros da família e pessoas de estreita associação com o indivíduo).

O TEPT pode ter efeitos agudos, com duração dos sintomas inferior a três meses, e efeitos crônicos (se a duração dos sintomas for de três meses ou mais). Pode ainda ter início tardio, com manifestações características ocorrendo pelo menos seis meses após o estressor.

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A resposta ao acontecimento estressante envolve intenso medo, impotência ou horror (em crianças, a resposta pode envolver comportamento desorganizado ou agitado). Os sintomas característicos resultantes da exposição a um trauma extremo incluem, persistentemente, a revivência do evento traumático, a esquiva de estímulos associados com o trauma, o embotamento da ‘responsividade’ geral e sintomas de excitação aumentada.  O quadro sintomático completo deve estar presente por mais de um mês e a perturbação deve causar sofrimento ou prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, ocupacional ou outras áreas importantes da vida do indivíduo.

Conforme citado anteriormente, os eventos traumáticos vivenciados diretamente incluem, entre outros, combate militar, agressão pessoal violenta (ataque sexual, ataque físico, assalto à mão armada, roubo), seqüestro, ser tomado como refém, ataque terrorista, tortura, encarceramento como prisioneiro de guerra ou em campo de concentração, desastres naturais ou causados pelo homem, graves acidentes automobilísticos ou receber o diagnóstico de uma doença que traz risco de morte. Os acontecimentos podem ser revividos de várias maneiras. Geralmente, a pessoa tem recordações recorrentes e intrusivas ou sonhos aflitivos recorrentes que reencenam a ocorrência. 

Em casos raros, a pessoa experimenta estados dissociativos. A característica essencial dos estados dissociativos é uma perturbação nas funções habitualmente integradas de consciência, memória, identidade ou percepção do ambiente. O distúrbio pode ser súbito ou gradual, transitório ou crônico. Pode haver dificuldades para recordar as memórias traumáticas e confusão em relação à própria identidade, por exemplo, que duram de alguns segundos a várias horas, ou mesmo dias.  Nesse  período a pessoa se comporta como se  vivenciasse o fato traumático naquele instante.

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Intenso sofrimento psicológico ou reatividade fisiológica freqüentemente ocorrem quando a pessoa é exposta a eventos que lembram ou simbolizam um aspecto do evento traumático. Por exemplo: aniversários do evento traumático; tempo frio ou guardas uniformizados para sobreviventes de campos de extermínio em climas frios; tempo quente e úmido para veteranos de combate do Pacífico Sul; ingresso em qualquer elevador para uma mulher que foi estuprada em um elevador.

Os estímulos associados com o trauma são persistentemente evitados. O indivíduo em geral faz esforços deliberados no sentido de afastar pensamentos, sentimentos, conversas, atividades, situações e pessoas que provoquem recordações do evento. Esta esquiva de lembretes pode incluir amnésia para um aspecto importante do evento traumático.

Uma ‘responsividade’ diminuída ao mundo externo, conhecida como ‘torpor psíquico’ ou ‘anestesia emocional’, geralmente começa logo após o evento traumático. O indivíduo pode queixar-se de acentuada diminuição do interesse ou da participação em atividades anteriormente prazerosas, de se sentir deslocado ou afastado de outras pessoas, ou de ter uma capacidade acentuadamente reduzida de sentir emoções, especialmente aquelas associadas com intimidade, ternura e sexualidade.

Pode haver sentimento de futuro abreviado (a pessoa não espera ter uma carreira, casamento, filhos ou um tempo normal de vida), ansiedade ou maior excitação inexistentes antes do trauma. Estes sintomas podem incluir dificuldades em conciliar ou manter o sono, possivelmente devido a pesadelos recorrentes durante os quais o evento traumático é revivido, hipervigilância e resposta de sobressalto exagerada. Alguns podem relatar irritabilidade ou ataques de raiva ou dificuldades em concentrar-se ou completar tarefas.

Estratégias terapêuticas

Antidepressivos e ansiolíticos são comumente usados em quadros de ansiedade e depressão associados ao TEPT, mas a primeira linha da estratégia de tratamento inicial para estresse pós-traumático agudo ou crônico é a psicoterapia individual, com ou sem medicação adjunta, em sessões semanais de 60 minutos de duração.

No entanto, a elaboração de uma experiência traumática em nível cognitivo e emocional dentro de um espaço de tempo relativamente curto pode ser difícil para certas pessoas. Sessões adicionais de aconselhamento podem ser necessárias.

Muitas intervenções atuais de aconselhamento empregam uma combinação de técnicas para diminuir tanto as reações baseadas no medo (o senso de segurança) como as baseadas na vergonha (o senso de si próprio). A literatura sobre terapias de grupo para o tratamento do trauma é atualmente bem esparsa e algumas notas encorajadoras provêm dos estudos publicados. 

O interrogatório (debriefing) é uma estratégia de tratamento originalmente utilizada para tratar reações de estresse de agudo em soldados de combate retornando para casa. Os resultados positivos dessa intervenção estimularam estratégias similares para um conjunto de adversidades em que um evento traumático ou ‘incidente crítico’ havia causado reações de estresse particularmente intensas.

O interrogatório sobre estresse do incidente crítico (CISD) é um processo que tenta evitar ou limitar o desenvolvimento de TEPT, permitindo que o indivíduo afetado discuta seus pensamentos e sentimentos sobre o evento em um ambiente controlado e seguro. A eficácia dessa estratégia de tratamento está atualmente em debate e a opinião atual sustenta que são limitadas as evidências de que o interrogatório evite o problema em todas as situações. De fato, há indicações de que alguns dos indivíduos mais vulneráveis possam experimentar um aumento nos sintomas como resultado de um interrogatório psicológico.