Tudo o que agride, sobrecarrega e perturba pode causar estresse

por Gilberto Coutinho

Nos anos 40, os fisiologistas Cannom e Seyle empregaram o termo “stress” para caracterizar a “Síndrome de Adaptação Geral” e evidenciaram a importância das reações do córtex da supra-renal (descarga de adrenalina)..

Continua após publicidade

Do inglês “stress”, “tensão”, “estafa”, o estresse consiste numa das síndromes mais complexas, capaz de desencadear diversas alterações biológicas, cujos sinais e sintomas são bastante típicos e variados.

Resulta das constantes situações de preocupações e tensões do dia-a-dia, das exigências, dos desafios e das pressões do trabalho e da vida “moderna”, como também dos problemas pessoais (existenciais), emocionais, financeiros, familiares, etc.

Tudo o que “agride”, “sobrecarrega” ou “perturba” uma pessoa pode causar estresse, por exemplo: exposição ao calor, ao frio e a ventos; barulho; dor; viagens longas e cansativas; poluição ambiental; trânsito caótico; enfermidades; ambientes hostis; intervenção cirúrgica; choque traumático; supressão dos hábitos saudáveis de vida; morte de familiares e amigos, desentendimentos; discussões; até mesmo toxinas produzidas no interior do organismo por microrganismos, tabagismo, alcoolismo, uso de drogas, etc.

Quando intenso e prolongado, o estresse sobrecarrega diversos órgãos e sistemas: nervoso, imunológico (predisposição a infecções), vasos sangüíneos, coração, glândulas supra-renais… e podem ocorrer inúmeras disfunções: abatimento físico e mental, insônia, dores de cabeça, depressão, distonia neurovegetativa (desarmonia entre os sistemas simpático e parassimpático, os sintomas muito se assemelham ao estresse), perda de micronutrientes, emagrecimento, queda de cabelo, aumento da produção de radicais livres (compromete a integridade das células e predispõe ao desenvolvimento de doenças degenerativas como, por exemplo, vários tipos de câncer e doenças cardiovasculares), diminuição da oxigenação nos tecidos, acidificação do sangue, intoxicação crônica, mau equilíbrio energético, etc.

Continua após publicidade

Em geral, as glândulas adrenais (supra-renais) tornam-se “exauridas” em conseqüência das constantes exigências que o organismo sofre quando se encontra sobrecarregado e estressado. A exaustão adrenal pode fazer com que uma pessoa se sinta “estressada”, cansada, desvitalizada e fique propensa a alergias; enquanto a excessiva atividade adrenal predispõe à ansiedade, à hipertensão arterial, à depressão, à elevação da quantidade do açúcar ou glicose no sangue (hiperglicemia) e ao aumento da quantidade de colesterol (hipercolesterolemia).

A fadiga adrenal é um distúrbio (doença) que, geralmente, manifesta-se após períodos prolongados de estresse físico ou mental ou pela insistência da pessoa em trabalhar até a exaustão, sem intervalos para descanso, lazer e relaxamento. O hábito de dormir tarde também pode contribuir para sobrecarregar e exaurir as glândulas adrenais. Alguns sintomas e sinais: alergias, fraqueza muscular, fadiga crônica, prisão de ventre, diarréia, queda da pressão arterial ao se levantar, etc. O tratamento inclui: repouso, dormir cedo, relaxamento, lazer, atividade física moderada e balanceada, modificação dos hábitos alimentares e o uso, sob orientação terapêutica, de um complexo polivitamínico, polimineral e de aminoácidos.

A atrofia ou a contração do córtex adrenal é um efeito adverso muito comum ao estresse contínuo. A saúde de uma pessoa também muito depende do bom funcionamento de suas glândulas adrenais.

Continua após publicidade

Também podem ocorrer períodos de grande ansiedade, agitação, variação do estado de humor e exuberância energética seguidos de abatimento, prostração, desânimo e depressão. Nos casos brandos: ansiedade, variação de humor, irritabilidade, distúrbios da memória, inapetência, etc. Com o agravamento da síndrome: instabilidade emocional, distúrbios afetivos, auto-estima baixa, síndrome de pânico, aumento de peso, distensão abdominal, flatulência, inchaços, impotência sexual, ejaculação precoce, desinteresse ou exaltação sexual anormal, gastrites, úlceras pépticas, azia, prisão de ventre, dores de cabeça, elevação ou rebaixamento da pressão arterial, alopecia (queda temporária, parcial ou geral, dos pêlos ou cabelos) e dermatose (doença de pele).

As três fases da síndrome de adaptação geral

· Alarme: resposta inicial, de curta duração, destina-se a combater o “perigo” ou a “agressão”; mobilizam-se recursos corporais para a atividade física imediata, desencadeada por reações no cérebro que fazem com que a medula adrenal secrete adrenalina e outros hormônios relacionados ao estresse.

· Resistência: reação que faz com que o organismo continue a “lutar” ou a reagir contra o agente estressor mesmo após os efeitos da resposta inicial de alarme terem cessado; os corticosteróides, secretados pelo córtex adrenal, são responsáveis por essa reação.

· Exaustão: pode ocorrer mediante o colapso das funções orgânicas ou de órgãos específicos, devido à perda de íons de potássio (as células deixam de funcionar adequadamente e, eventualmente, morrem); a depleção (diminuição) dos hormônios glicocorticóides adrenais (como, por exemplo, cortisona) que resulta em hipoglicemia, as células passam a não receber de forma adequada a glicose (açúcar) e outros nutrientes; e o enfraquecimento dos órgãos.

Os efeitos fisiológicos da resposta terapêutica da prática de relaxamento, meditação e Yoga (milenar ciência filosófica e terapêutica da Índia) são opostos aos observados com o estresse. Durante situações de estresse, o sistema nervoso parassimpático passa a controlar as funções fisiológicas. Ele destina-se à proteção contra o perigo imediato. Durante períodos de repouso, relaxamento, meditação e sono, o sistema nervoso parassimpático passa a reger as funções fisiológicas, tais como: digestão, respiração e freqüência cardíaca; destina-se à manutenção, ao reparo e à restauração do organismo; o fluxo sangüíneo rico em oxigênio e micronutrientes é desviado para os órgãos.

Enfermidades relacionadas ao estresse psicológico

Angina, artrite reumatóide, asma, câncer, cefaléia, colite, depressão, dermatites, diabetes (tipo II), doenças auto-imunes e cardiovasculares, enxaqueca, gastrite, hipetensão, imunossupressão, síndrome do intestino irritável e de tensão pré-menstrual, úlceras etc.

Benefícios fisiológicos da prática de relaxamento e meditação

Recomenda-se a prática regular de relaxamento, meditação e Yoga no combate ao estresse.

A freqüência cardíaca diminui (o coração bate mais lenta e efetivamente), assim como a pressão sangüínea (o que beneficia quem sofre de hipertensão arterial); o fluxo sangüíneo é desviado para os órgãos internos, principalmente para os que estão envolvidos na digestão; menor freqüência respiratória devido a uma necessidade menor de oxigênio durante os períodos de repouso e meditação; diminuição da produção de transpiração (o que beneficia quem sofre de perspiração nervosa); aumento da produção de secreções digestivas (o que muito melhora a digestão); os níveis de açúcar no sangue são preservados dentro do padrão fisiológico normal.

Benefícios fisiológicos da atividade física moderada e regular

Observação: Devem ser evitadas sobrecargas de atividade física e/ou esportiva, pois, quando em excesso, pode tornar-se um grande estressor físico.

Maior condicionamento físico; melhor desempenho cardiovascular devido a uma menor freqüência cardíaca, contrações cardíacas mais efetivas, pressão sangüínea reduzida e menores níveis de colesterol no sangue; secreções reduzidas de adrenalina e noradrenalina; melhora da capacidade respiratória e da utilização do oxigênio e de micronutrientes em todos os tecidos do corpo; melhoria do estado de humor, da vitalidade, da auto-estima e da autonomia; coluna vertebral e articulações mais fortalecidas, flexíveis e lubrificadas; musculatura fortalecida elástica e relaxada.

Terapêutica naturopática e ortomolecular

O uso de remédios botânicos e de suplementos nutricionais deve sempre ser feito sob orientação e acompanhamento terapêutico.

· Remédios botânicos: Panax ginseng (Ginseng-coreano, famosa raiz oriental, considerada um “adaptogênio”, ou seja, ajuda a combater os efeitos maléficos do estresse sobre o organismo; é recomendado para melhorar o estado de saúde em geral; combate o estresse e o cansaço mental; a planta, da família das araliáceas, não é estimulante e, sim, tônico geral; apresenta propriedades de ampliar a função das glândulas adrenais, proteger o organismo contra a fadiga física e mental e de proporcionar resistência orgânica contra o estresse etc.); Tinospora cordifolia (conhecido pela Medicina Indiana Ayurveda como “amrit” ou “guduchi”; combate os efeitos nocivos do estresse; melhora a imunidade; combate doenças infecciosas, resfriados, gota e sífilis; apresenta propriedades desintoxicantes, anticancerígenas e rejuvenescedoras); Withania somnifera (cereja-do-inverno, conhecida pelo Ayurveda como “ashwagandha” e, mais recentemente, como “ginseng indiano”; tônico; adaptogênio; antioxidante; anticancerígeno; reduz os efeitos colaterais da rádio e quimioterapia contra o câncer; rejuvenescedor e estimulante sexual; apresenta também propriedades calmantes; beneficia o sistema nervoso, a memória, a concentração e o tecido muscular).

· Suplemento nutricional: Chorela regularis (clorela, alga microscópica de água doce, do tamanho aproximado de uma célula vermelha do sangue, é considerada uma das mais antigas formas de vida do planeta; apresenta propriedades desintoxicantes e remineralizantes, muito rica em elementos primários como vitaminas, microminerais, aminoácidos, proteínas, enzimas etc.; uma das mais ricas fontes de beta-caroteno; indicada no combate ao envelhecimento precoce, estresse e como estimulante da imunidade);

· Complexo de vitaminas, microminerais, enzimas e aminoácidos: Aspartato de Potássio (indicado no combate da fadiga crônica e na preparação de atletas); Vitamina C (fadiga crônica e preparação de atletas pelo seu efeito antioxidante); Vitamina E (auxilia o organismo a responder às situações de estresse, protegendo os tecidos da oxidação dos radicais livres); Vitamina B1 ou Tiamina (antioxidante, indicada no combate da fadiga crônica, estresse, insuficiência cardíaca e depressão); Vitamina B5 ou Ácido Pantotênico (indicado na preparação de atletas, no combate da fadiga crônica, do estresse, da queda de cabelos, de alergias e da enxaqueca, estimula a síntese de cortisol nas supra-renais); Vitamina B6 ou Piridoxina (alterações do humor, fadiga, estresse, preparação de atletas, depressão, enxaqueca, imunodeficiências, infecções virais e deficiência de aprendizado); Zinco (segundo oligoelemento mais abundante no homem, aumenta a força, a resistência muscular e equilibra as funções cerebrais); Aspartato de Magnésio (essencial à síntese de ATP, melhora a performance física e à função de diversas enzimas); Ácido fólico (sua deficiência provoca sintomas de cansaço); Coenzima Q-10 (ação contra a fadiga); Dimetilglicina (melhora a performance de atletas e combate a fadiga); Glutamina (melhora o transporte de amônia e aumenta os níveis cerebrais de ácido glutâmico, neurotransmissor excitatório essencial ao bom funcionamento do sistema nervoso central); Octacosanol (derivado do gérmen de trigo, melhora a utilização do oxigênio e a performance física); Arginina (aminoácido semi-essencial participa da estrutura protéica do corpo, estimula a produção de hormônio do crescimento aumentando a massa muscular e o metabolismo das gorduras); Taurina (aminoácido essencial em recém-nascidos e semi-essencial em adultos, indicado no combate da ansiedade, estresse, insônia e depressão) e Tirosina (no estresse encontra-se, geralmente, em níveis baixos, apresenta efeito antioxidante).

Dietoterapia

Durante o estresse, é imprescindível que se mantenham os níveis de potássio de que o organismo necessita. Portanto, recomenda-se consumir alimentos ricos nesse mineral e evitar alimentos com elevado teor de sódio. Alimentos ricos em potássio e pobres em sódio: abricó seco, acelga, abacate, ameixa seca, amêndoa, amendoim, aspargo, banana, batata inglesa, batata doce, beterraba, cenoura (crua), damasco, espinafre cozido, fava branca, feijão cozido, frutas frescas, iogurte desnatado, laranja, leite de vaca, maçã, melado, melão, milho, morango, pêssego, semente de abóbora, soja, tomate, frango (carne branca), peixes, arenque, bacalhau, cavalinha, linguado, merluza, salmão e atum (sólido seco).