Existem dois tipos de prolixo

por Roberto Goldkorn

Um dos exercícios mais difícieis que proponho aos meus alunos é o jejum de 24 horas, em segundo lugar vem o silêncio absoluto por um determinado tempo.

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Tanto um quanto o outro são formas de girar o relógio no sentido anti-horário, andar para trás ou nadar contra a corrente.

Não fomos programados para isso, não é natural, ou melhor, não é socialmente natural. Mas se a gente pensar bem … vamos ver que os grandes males da humanidade são justamente a comida (por excesso ou falta) e as palavras por (excesso ou falta).

Na verdade nem é bem assim, não é a comida, nem são as palavras os causadores dos males atuais, e sim o controle desses fatores. Não controlamos o nosso apetite e a obesidade já é uma doença epidêmica no Brasil, nos EUA e em vários países.

Por não controlar a comida, esta acaba faltando no terceiro mundo e milhões padecem de fome. Quanto às palavras, pior que o alimento, pois o uso das palavras é gratuito, seu mal uso e abuso tem sido um desastre das maiores proporções.

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Em minha opinião a verborragia, consequência da alta ansiedade e da carência afetiva, é um mal que está cada vez mais presente, levando confusão e incomunicabilidade para muita gente. Por isso que fazer jejum e ficar em silêncio pega no nervo exposto de grande parte da população: o controle, o controle do corpo de desejos!

Um cliente recém-chegado, me mandou em apenas uma semana mais de 40 mensagens, além de telefonar algumas vezes. Eu dizia: antes de mais nada, precisamos controlar o excesso de ansiedade – não matar a ansiedade (eu também sou ansioso), mas controlá-la.

Ele respodeu: "Mas eu não sou ansioso, sou um cara legal, sou trabalhador, bem casado, etc…

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Seria quase impossível para ele fazer com sucesso o exercício do jejum e do silêncio.

Mas o que isso pode ajudar a melhorar a vida do indivíduo. A lista é longa, os benefícios são tantos para a saúde física e mais ainda para a psicológica.

Falar demais coloca o sujeito estatisticamente na lista dos besteirentos, dos incorretos, mentirosos, equivocados e dos distraidos.

Claro que se você fala demais as suas chances de falar bobagem é maior. Quando você fala demais escuta menos, presta menos atenção nas informações que vêm de fora, e isso pode ser fatal.

O ansioso e o vaidoso acabam criando um processo neuropsíquico onde se vicia em ouvir apenas o som de sua voz e perde-se o traquejo de ouvir o outro, ouvir e entender o que é dito e, pior dos males, o que fica por dizer pairando nas entrelinhas silenciosas.

Quantos se enebriam com o som de suas próprias vozes e acabam enfeitiçados ao se autoalimentar de suas palavras e se convencem de que são o máximo, são maravilhosos e infalíveis.

As palavras são seres vivos de vida curta, é verdade, mas de impacto às vezes muito duradouro na vida de quem fala e de quem ouve. Só por esse motivo deveriam ser tratadas com mais consideração, para falar o mínimo.

Palavras são carregadas de energia, portanto, se o sujeito fala demais, a tedência é ficar mais fraco, mais cansado e, na maioria das vezes, a reação natural do organismo é tentar recuperar a energia "vampirizando" os outros. Por isso, quem convive com o prolixo superansioso no cotidiano vive esgotado, está sempre abrindo a boca naqueles bocejos longos e sonolentos.

Os dois tipos de prolixo:

1º) O prolixo ansioso

O prolixo ansioso como tem muita necessidade de falar torrencialmente, não consegue produzir discurso de qualidade, assim ele se repete, dá voltas em torno do mesmo tema, torna-se "barroco", ou como dizia minha mãe: "não fala coisa com coisa".

2º) O prolixo militante

Outro tipo de prolixo é o pregador ou militante: ele fala muito, muitas vezes usa palavras contundentes, argumentos elaborados, mas em todos os casos segue uma cartilha, ele expressa pensamentos adotados, no fim das contas ele ou ela "pensa que pensa". O pregador ou o militante (o que dá no mesmo), precisa falar muito porque busca o convencimento do outro, busca inundar o cérebro alheio com uma enxurrada de informações formatadas em frases de efeito, comparações contundentes (quase sempre estapafúrdias que não resistem a um cutucão crítico), mas que podem enredar os menos críticos, os incautos. Para esse tipo a melhor proteção é a distância ou um bom fone de ouvido.

Embora eu acredite que não exista uma "cura" para a alta ansiedade, assim como para o diabetes, pode haver controle.

Dicas para controlar a ansidedade de falar

1ª) Minha receita, para meu uso pessoal, é aprender a testemunhar-se. Tento criar "um outro eu" que fica sentadinho no meu ombro observando o meu nível de ansiedade e quando ele gera tempestades verbais. Nesse ponto o vigia toca um apito e eu paro. Respiro, mudo o tom da voz e reavalio a propriedade e a intensidade do que estou falando em relação à audiência e sua reação.

2ª) Outro truque que uso é: se estou começando a contar alguma história ou dar alguma explicação e alguém interrompe, paro e espero haver uma solicitação para retomar de onde fui interrompido. Se não houver, eu não recomeço ironizando: "Como eu estava dizendo, antes de ser grosseiramente interrompido." Isso não faço mais (obviamente que já fiz). Vejo a interrupção e o não pedido para continuar, como um sinal de que meu discurso não interessa àquelas pessoas, ou seja, se só interessa a mim, por que insistir?

Egocentrismo

O prolixo é antes de tudo um egocêntrico e em alguns casos tem uma criança atemorizada dentro de si, que precisa falar sem parar para tentar driblar o silêncio: esse equivale ao quarto escuro, que representa a solidão e o abandono dos pais.

O controle dos discursos é uma ferramenta importantíssima para a evolução emocional e espiritual da pessoa prolixa. Falando menos é possível melhorar a qualidade do discurso. A qualidade do discurso está diretamente ligada a equilibrar perguntas e afirmações, e não apenas afirmações e decretos. Assim podemos ouvir mais e melhor. Ouvindo mais e melhor vamos entender mais as pessoas e a vida. O que isso significa nem é preciso explicar.

Por falar nisso, percebo que já tem leitor aí, querendo mudar de texto, por isso acho que está na hora de parar, colocar a viola no saco e me despedir.

Fui.