Como falar sobre sexo com os pequenos?

por Arlete Gavranic

Essa é uma dúvida frequente que faz com que alguns pais fiquem inseguros.

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Meu filho (a) perguntou:

– O que é sexo?

– Você faz sexo?

– Posso usar a camisinha que passou na propaganda?

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– Como se faz um bebê?

Essas perguntas podem acontecer até com crianças entre 3 e 4 anos. Tudo depende do contexto de vida da criança.

São inúmeras as possibilidades de situações que envolvem perguntas sobre sexualidade: tomar banho junto com os pais, ver irmãos ou amiguinhos se trocando de roupa, questionar as diferenças genitais, a chegada de um irmãozinho, a grávida que passou na rua…

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E nessa hora, como agir?

Desde pequenos devemos estabelecer com os filhos uma relação baseada na verdade. Nada de contos da carochinha, de cegonha, de sementinha na barriga da mamãe. É claro que ninguém vai pegar um manual de anatomia para explicar para uma criança de 4 ou 5 anos como o pênis do papai penetra a vagina da mamãe.

Devemos explicar as diferenças corporais naturais entre homem e mulher. Livros de sexualidade para crianças trazem desenhos bem adequados.

Mas por que falar a verdade?

Já vi muitas crianças pegando sementes ou pedindo para os pais comprarem um pacote de sementes para ela ganhar um irmãozinho ou para ela ter um bebê.

Outro absurdo: dizer que a menina fez malcriação e por isso perdeu o pênis, ou que Aids é doença que ‘Papai do Céu’ manda para quem é desobediente.

Apelidos

Muitas famílias costumam dar apelidos para os órgãos genitais: perereca, xereca, pombinha, florzinha, pipi, cacete, bazuca, bilau, peru…

É importante tomar cuidado com essa atitude, muitos desses apelidos reproduzem diferenças de gênero e de poder social. Um peru assusta uma pombinha, e uma bazuca pode acabar com uma perereca ou uma pombinha.

É consenso entre educadores sexuais que o ideal é desde pequeno, aprender a lidar com os nomes de seus genitais: pênis, vulva e vagina. Mas entendo que esses hábitos estão incorporados nas famílias e a mudança nem sempre é fácil.

Supervalorização do pênis

É importante evitar que pais, tios e avôs tenham atitudes que reforcem uma supervalorização do pênis. Afinal, temos que nos preocupar em formar crianças que sejam equilibradas quando adultas. Essa fixação genital costuma trazer mais problemas do que benefícios; principalmente para os meninos que muitas vezes passam a vida sofrendo com conflitos relacionados ao pênis.

Gravidez = intimidade sem proteção

Deve-se explicar que a gravidez ocorre quando duas pessoas têm intimidade sem proteção. Aí já dá para explicar várias coisas. Primeiramente o que é intimidade: carícias que podem levar ao desejo de deixar os corpos muito juntos e isso pode fazer com que o homem coloque o pênis num espaço do corpo da mulher, a vagina, e libere ali os espermatozóides que vão se juntar com o óvulo da mulher e formar um bebê.

Junto dessa explicação básica, as crianças devem ser orientadas que essas carícias não devem ser feitas em crianças; que carinho no rosto e abraço é bom e pode ser recebido, mas nos genitais, além da higienização, ninguém deve mexer para ficar acariciando, e que se isso acontecer, a criança deve avisar a mãe, a avó ou a professora sem medo.

Pode parecer discriminação, mas não é, precisamos evitar o abuso sexual infantil. E infelizmente sabemos que muitas vezes ele ocorre dentro de casa, por pais, tios, avós, padrastos ou conhecidos. Raramente o abuso é cometido por mulheres, por isso eu oriento as crianças a falarem com as figuras femininas, que precisam aprender a ouvir e proteger essas crianças.

Importância da camisinha

Outra coisa que devemos explicar é o valor da camisinha como proteção e prevenção da gravidez.

Deve-se falar da proteção contra doenças que se pegam pelo sexo e aí valorizar a importância da higiene e deixar eles entenderem que camisinha protege. Nada de dar aula para crianças sobre vírus ou bactérias.

Gravidez planejada

A gravidez deve ser planejada para um período da vida em que duas pessoas adultas que se gostam e desejam ter um filho (a), possam ter condições de criá-lo dando amor, saúde, comida, educação, moradia e proteção.

Muitos podem falar que esse é um modelo burguês, mas precisamos, sim, oferecer um modelo ideal para nossas crianças. Afinal, quando sonhamos com um ideal de vida criamos metas e passamos a ter atitudes no sentido de conquistá-las.

Masturbação

Muitos pais ficam incomodados ao perceberem seus filhos se masturbando – acariciando os genitais, e sempre me questionam. O que fazer? Dar bronca? Deixar fazer?

É importante desde cedo dar aos filhos a noção de limite, mas também é importante respeitar o direito dele viver seu prazer corporal. Falar para a criança que é gostoso acariciar o próprio corpo e descobrir que esse corpo produz sensações boas ao ser tocado, mas que não dá para fazer isso o tempo todo (senão pode machucar, deixar assado), e nem dá para fazer em qualquer lugar, como também não se faz xixi em qualquer lugar.

É importante dar à criança alternativa de como poderá ‘brincar’ com seu corpo. Por exemplo, no banho ela poderá brincar, fazer carinho e sentir ‘o gostoso’ de acariciar o corpo.

Caso a criança esteja muito persistente nesse comportamento, é preciso avaliar se a rotina de vida da criança está prazerosa; se ela tem atividades suficientes para se entreter e gastar energia ou se essa criança passa o dia em frente à televisão e sem outras crianças para brincar.

Toda criança precisa despender uma boa quantidade de energia. Essa energia corporal, que é energia de vida e se chama libido, precisa ser dirigida e consumida em atividades; senão pode gerar atenção excessiva ao corpo ou gerar irritabilidade.

Ereção infantil é reflexa

Se o menino ficar com o pênis duro quando estiver brincando ou quando alguém for dar banho ou higienizá-lo, não é para se assustar achando que isso significa um desejo sexual explicitado, que ele quer transar com a mãe, com a avó ou com a babá. Essa ereção é reflexa e pode acontecer por vários motivos: vontade de urinar, sensação gostosa de um toque (que ele se fez ou recebeu na higiene), o roçar da roupa… O importante é não assustar-se e nem reprimir a criança.

Conversar é sempre bom, falar a verdade também. Assim a criança cria confiança para conversar e perguntar.

Sugestões de livros sobre sexualidade para os pais orientarem os pequenos

'Sexo não é bicho papão' – Marcos Ribeiro – Zit Editora

'Mamãe como eu nasci' – Marcos Ribeiro – Ed. Salamandra

'De onde viemos?' – Peter Mayle Ed Nobel