Casas alérgicas a moradores

por Roberto Goldkorn

O meu trabalho como especialista em Medicina da Habitação tem me proporcionado grandes aprendizados.

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Mas o maior deles é que existem casas que simplesmente não toleram moradores!

Pode parecer um contrassenso, uma estupidez mas pensemos melhor.

Certamente você deve conhecer algum médico que odeia os pacientes (eu conheço um pediatra que reza para que as mães simplesmente sejam abduzidas por alienígenas).

Conheci sindicalistas que têm verdadeiro horror de trabalhadores.

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Quanta gente odeia o que faz e mesmo assim segue fazendo.

Certamente essas casas que são alérgicas a moradores foram construídas por alguém que também estava muito mal consigo mesmo e com seu trabalho. Por isso “escolheu” o pior terreno, selecionou materiais ruins, e projetou a construção num desenho desastroso.

O exemplo mais radical desse tipo de combinação são os prédios que desabam, matando e prejudicando moradores e outros. A maioria, porém não desaba de uma só vez, mas vai “desabando” aos poucos ao longo de sua vida – e no caso de uma casa isso pode demorar bastante!

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Ao longo desse tempo de lenta agonia, os infelizes moradores que ali se instalarem vão pagar o preço de dormir no inimigo.

Conheci muitas dessas casas e apartamentos durante os anos em que estou “curando” ambientes.

Praticamente todas exibiam um histórico de moradores disfuncionais, famílias desfeitas, graves problemas financeiros, doenças, desastres, etc.

As casas alérgicas a moradores têm características variadas, mas podem ser identificadas por alguns pontos de fácil diagnóstico.

Por exemplo: imóveis que durante a sua construção tiveram problemas constantes tanto de engenharia quanto legais e sociais.

Espaços de desenho interno tão irregular ou esdrúxulo que não se consegue posicionar os móveis de forma sensata.

Imóveis que apresentam desde a sua inauguração rachaduras, empenas, infiltrações, canalização comprometida, problemas de fiação elétrica, etc.

As piores são aquelas que por mais que você as concerte, “teimam” em continuar desafiando pedreiros, eletricistas e encanadores.

Há ainda casas que foram “batizadas” pelo primeiro morador com um grau de disfuncionalidade tão grave que vão contaminar a todos os que vierem a seguir.

Nesse segmento estão as chamadas “casas mal-assombradas” (como se houvesse as bem-assombradas) que se mantêm impregnadas de resíduos psíquicos de sofrimento e ódio por muito tempo.

Claro que os moradores que ali se aboletarem irão sofrer as consequências dessa impregnação.

Desconfie sempre de casas cujos moradores anteriores passaram maus bocados ali.

Não entre na “roubada” de achar que aquela casa detonada, mas baratinha, pode renascer com uma “pequena reforma”.

Algumas pessoas têm mania de reformas, têm uma atração quase patológica por reformas. Isso em geral só atrasa a vida, gera perda preciosa de tempo e esvai recursos financeiros que irão fazer muita falta adiante. Casas que precisam de reformas são por si só um sinal de alerta.

Costumo comparar essa compulsão a reformar casas com a tendência de algumas mulheres de “consertar” homens disfuncionais. Em 95% dos casos essa história acaba mal e alguém sai muito machucado.

Claro que essas casas hostis não são assim de forma indiscriminada. Há gente que pode até se dar bem em alguns desses ambientes. Gente doente é claro. Gente que se casa com a pobreza e acha “bonito não ter o que comer”.

Para quem exige algo mais da vida, para todos os que querem qualidade de vida, as casas alérgicas a moradores devem ser evitadas.

Fuja do imediatismo, desconfie dos “negócios da China”,  não superestime seu poder regenerador.

Mesmo que demore um pouco mais, que custe um pouco, mais a busca de uma casa ideal, além de ser uma jornada terapêutica, é o caminho para uma vida melhor.