Tenho que ficar rico

por Roberto Santos

“Não sei o que fazer, eu apenas sei que tenho que ficar rico. Como posso fazer isso?” (H.M.)

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Entre os elementos que podem fazer uma pessoa tornar-se rica destacam-se:

– Competência técnica em alguma área;

– Diferencial competitivo;

– Paixão pelo que se faz;

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– Credibilidade;

– Genialidade ou transpiração e/ou muita sorte.

Consultando meus arquivos, descobri que em Novembro de 2008, esta minha coluna no Vya Estelar completará cinco anos. Desde o primeiro artigo, procurei fugir das receitas rápidas e respostas prontas de auto-ajuda, ou me esquivei das expectativas que confundem um consultor de carreira e de gestão pessoal com astrólogo, adivinho, numerólogo, guru, vidente, e outros bruxos.

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Devo ter decepcionado muitos leitores e “consulentes” que esperam, sem receber, a resposta certeira do que vai acontecer com eles, como se eu soubesse, ou como tudo se resolvesse pela palavra alheia de uma luz (falsa) no fim do túnel.

Entretanto, a pergunta que dá título a este artigo, enviada por um leitor, me sensibilizou, me convenceu. Então, em comemoração antecipada deste lustro (5 anos) de artigos, vou responder a HM, ao autor desta consulta via Cyber Carreira (clique aqui), na tentativa de iluminar o caminho dele e de inúmeras pessoas que têm a mesma questão entalada na garganta.

Em resumo, o que HM quis dizer é que não importa o que ele tenha que fazer mas ele precisa ficar rico!

O que tem de bom desta pergunta é que ele sabe que alguma coisa ele terá que fazer, uma vez que, aparentemente, ele não nasceu em berço de ouro. Pode ser que ainda não se casou, então teria a chance de deitar em um “leito nupcial de ouro”, ou seja casar-se com uma mulher muito rica, com total comunhão de bens.

Vamos assumir que ele não teve a sorte do primeiro e a competência + sorte do segundo meio civil de ficar rico com facilidade. Sobra a outra sorte do imaginário e sonhos de milhões de pessoas – ganhar sozinho na Mega-Sena ou seu equivalente.

Para tal, nosso leitor já precisa fazer alguma coisa que requer no mínimo algum capital inicial – apostar na loteria, gastando algum ou muito dinheiro, desenvolver algum conhecimento de probabilística e acima de tudo, contar com uma sorte daquelas!

Excluídas as saídas relativamente fáceis: nascer rico, casar com alguém rico ou ganhar na loteria, devemos partir para os caminhos um pouco mais tortuosos, empedrados, com ruas sem saída, contra-mãos, acidentes de percurso, etc. Estamos falando do trabalho e dos caminhos de carreira.

Mas espera aí… O que significa ficar rico? Será que ficar rico é o mesmo que sentir-se rico? Será que o valor que daria a alguém a realização de ser rico é igual para outras pessoas? E esse valor seria medido apenas em moedas correntes? E afinal, o dinheiro traz felicidade – ou manda buscá-la como brincam alguns?

Princípio da motivação:

O que motiva uma pessoa não necessariamente motiva outra.

Motivação não é um fenômeno absoluto. Ganhar um milhão de reais num prêmio pode motivar muito uma pessoa, mas ser irrelevante para outra que se sente mais realizada pelo fato de ter ganho um prêmio mais modesto pela descoberta que contribui para a cura do câncer, depois de 25 anos de pesquisas.

As pessoas têm motivações, valores, interesses e preferências distintas umas das outras e isso pode fazer com que cada uma defina “ficar rico” de formas diferentes umas das outras.

Uma pessoa pode se sentir rica quando vê os sorrisos de crianças em estado terminal de câncer depois de uma palhaçada que fez em uma unidade hospitalar. O espírito altruísta realizado pode gerar riquezas internas incomensuráveis em moedas mundanas.

Um músico pode se sentir realizado e milionário quando se apresenta em público e recebe uma salva de palmas entusiasmada, apesar da merreca de cachê que vai receber ao final para um punhado de ouvintes. O reconhecimento público nem sempre vem acompanhado de recompensas materiais, mas enriquecem o astral dessas pessoas.

Há também aquelas pessoas que medem sua riqueza pela quantidade (e a qualidade) de amigos e amigas que fizeram ao longo da vida – uma conta bancária emocional invejável.

Então, caro leitor, a primeira reflexão a fazer é: “Quando me sentirei rico? O que é ser rico para mim? Quando saberei que atingi este objetivo?” Lembrando que, muitas vezes, este é um alvo móvel. Quando se chega ao objetivo inicialmente definido ele já deixa de ser motivador, especialmente quando tratamos de metas materiais ou financeiras.

Riqueza material – capital ou trabalho

Extrapolando a necessidade natural de lutar pela sobrevivência num mundo cada vez mais competitivo e a busca pela riqueza que faça desta luta algo mais fácil, há pessoas que são motivadas pelo ganhar dinheiro, fazer dinheiro, acumular bens, angariar fundos, multiplicar lucros e capital. Para estas, a avaliação que fazem de si mesmas será proporcional ao valor do salário no contracheque, ao lucro que fecharam no trimestre, ao ganho comercial numa venda de um bem, etc.

Além dessa motivação de algumas pessoas e daquela luta pela sobrevivência, existem outros milhões de pessoas que, simplesmente, não sabem o que têm que fazer, mas precisam ficar ricas, como nosso leitor da consulta-título. Para estas vão algumas dicas que podem ser resumidas em poucos elementos:

– Competência técnica em alguma área;

– Diferencial competitivo;

– Paixão pelo que se faz;

– Credibilidade;

– Genialidade ou transpiração e/ou muita sorte.

Fácil, não HM? Apenas estes seis elementos pra começar…

Competência: um dos alicerces da riqueza

Competência é a palavra do dia em muitas empresas, mas nem todo mundo que trabalha nelas entende do que se trata. Explicando, competência é uma mescla na medida certa de Conhecimentos (saber sobre algo), Habilidades (saber fazer algo) e Atitude (querer fazer alguma coisa de acordo com os padrões esperados por aquela organização).

O desempenho dos funcionários de uma organização segundo seu conjunto de Conhecimentos, Habilidades e Atitudes, ou CHAs devem permitir que ela alcance seus objetivos e alcance sua Visão de Futuro.

Portanto, se eu quero ser aceito, ter sucesso e me destacar numa organização, eu preciso desenvolver competências em alguma área: Finanças, Vendas, Engenharia, Recursos Humanos, etc.

Estamos falando de competências técnicas ou funcionais que começamos a desenvolver ainda na escola técnica ou curso superior, complementadas com outros cursos de especialização. Mas também falamos de competências intrapessoais e interpessoais. As primeiras englobam a criatividade, a responsabilidade, controle emocional, iniciativa, dentre outras, e as interpessoais que incluem a comunicação, cooperação, persuasão, negociação, etc.

Algumas pessoas se destacam nas competências técnicas, intrapessoais e interpessoais e são convidadas/promovidas para um cargo de gestão de outras pessoas. A elas cabe desenvolverem outras competências, como delegação, motivação, definir uma visão e inspirar seguidores para ela, entre outras.

Empreendedores, pequenos ou grandes, e não apenas funcionários de corporações, também devem cuidar de suas competências de forma contínua e constante. Um diferencial de pessoal vencedor e considerado de alto potencial, é sua constante disposição para ampliar e aperfeiçoar o leque de competências que areja o caminho do sucesso.

Diferencial competitivo

As empresas são como organismos vivos que foram criados pelos seres humanos à sua imagem e semelhança. Livros foram escritos sobre empresas de sucesso, aquelas feitas para durar e aquelas que se tornaram grandiosas. Cada uma delas, desenvolveu um diferencial competitivo, ou seja, uma capacidade de difícil cópia por suas concorrentes. Foram diferenciais tecnológicos como aqueles da Microsoft, um sistema de distribuição inovador como o inaugurado pela Dell, uma capacidade criativa invejável como a Apple ou a 3M, dentre outros que a distinguiram e colocaram-nas no topo de seus segmentos.

Igualmente, os indivíduos que almejam se tornarem imprescindíveis em seu mercado ou seu emprego, precisam encontrar um diferencial competitivo, isto é, algo em que sejam bons demais e que poucos conseguem equiparar ou superar.

Para alguns pode ser o conhecimento, para outros uma habilidade e para muitos outros uma atitude que os diferencia dos demais em posições equivalentes. Onde está meu diferencial? Qual será ele? O que vou fazer para consegui-lo? Quais são os modelos que eu conheço deste diferencial para que eu possa aprender com ele/a? Essas são as perguntas para HM se fazer na busca por seu objetivo.

Paixão pelo que se taz

De certa forma, o componente atitudinal das competências normalmente já traz embutida a paixão pelo que se faz, mas este é um elemento tão importante e diferenciador que merece um tratamento de destaque.

Conhecer e até dominar um assunto conta ponto, aplicar este conhecimento na prática revelando uma habilidade para fazer algo, agrega mais pontos na conta, mas aquele brilho no olho de quem tem paixão pelo que faz, aquele espírito incansável de fazer sempre mais e melhor, aquela disposição para superar as altas expectativas do cliente, a “quilometragem extra” que rodamos sem sermos pedidos, isso tudo é o que desempata o jogo e dá a vitória.

Chame-se brilho no olho, chame-se engajamento, paixão pelo que se faz é um ingrediente, em qualquer moeda.

Credibilidade

Outro alicerce das fundações de uma riqueza abundante e duradoura é a credibilidade que se conquista ao longo da vida. Esta conquista se dá por grandes e por pequenas ações e atitudes. Nossa consistência entre o que falamos e como agimos é uma de suas feições. O líder que repete em altos e eloquentes brados que as pessoas são o patrimônio mais importante de sua empresa, mas diariamente age em desrespeito e assediando moralmente seu pessoal, está apenas cavando a sepultura da falta de credibilidade e terá seguidores por medo e não por opção.

A credibilidade empalidece quando prometemos continuamente sem nunca cumprirmos, seja um produto, uma resposta, o envio de uma informação, a ajuda esperada. Chega um momento em que ninguém mais acredita no que falamos e deixa de pedir ou esperar. De repente, nos vemos sem cliente – externo ou interno – e deixamos de ter utilidade a qualquer pessoa.

Aquela história do pobre Gerson que fez um dia uma malfadada propaganda em que dizia que gostava “de levar vantagem em tudo”, virou um sinônimo de o meio justifica os fins. Nosso leitor pode até optar por caminhos “a La Gerson” e sentir-se esperto em atingir seu objetivo da riqueza, mas sem credibilidade, ética, honestidade, integridade, sua rica mansão da vida estará sempre em perigo de desmoronamento.

Genialidade ou transpiração

Um dos Gênios de nossa Civilização, o inventor e empresário, que inventou a luz elétrica, dentre outras coisas dizia que seu sucesso era fruto de 1% de inspiração e 99% de transpiração.

Alguns seres humanos são dotados de uma capacidade criativa e inventiva superior aos outros seres “normais”. Alguns têm um lampejo de criatividade e mudam o cenário de um campo da vida humana, como Graham Bell e o telefone, outros se empenham em pesquisas e depois de muito transpirarem e muitos neurônios derretidos encontram uma solução a um problema que parecia insolúvel.

Outros ainda existem, onde a maioria de nós se enquadra, que mesclam as duas coisas. Temos algumas ideias criativas e trabalhamos muito para conseguirmos o que buscamos. Desenvolver estes dois lados, abrindo a mente para novas ideias, deixando, de vez em quando, a intuição falar no lugar da lógica racional e aplicar muita dedicação e transpiração é a opção que posso recomendar ao leitor da consulta sobre a riqueza.

Muita sorte!

Não tem jeito, se quisermos ficar ricos, sem nos preocuparmos com nenhum dos elementos anteriores, então vamos precisar de muita sorte mesmo, venha de onde e quando vier, se vier… O problema é que contarmos apenas com o pára-quedas de emergência quando não fizemos nada de preparação para um salto em queda livre, pode fazer com que seja tarde demais quando notarmos que ele não se abriu a cem metros do chão.

Pessoas que esperam e contam apenas com as benesses e dádivas de seu deus, da sorte, dos astros, dos números, das cartas, podem ficar velhas demais para descobrir que não fizeram sua parte desenvolvendo suas competências e seu diferencial, cultivando suas relações com uma reputação de credibilidade, dedicando sua genialidade e sua transpiração. E se tiverem muita sorte, também pode ser tarde demais para gozarem sua riqueza.

Caro leitor, como decidi responder a sua consulta simples e complexa ao mesmo tempo, contrariamente a meus princípios, em celebração de cinco anos de artigo para esta coluna, vou repetir o final do primeiro artigo – clique aqui. A resposta a todos estes questionamentos, meu amigo, está soprando ao vento, mas se você olhar para dentro de si mesmo, procurando se conhecer melhor, poderá responder às mais importantes, e até se sentir rico, sem sê-lo.

Até lá, BOA SORTE!