Amar é para poucos, pois requer boa dose de generosidade

por Patricia Gebrim

Escrever sobre o amor não é coisa fácil.

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É uma verdade que todas as pessoas possuem um anseio por serem amadas. Mas sabemos nós de fato amar? E o que é amar, afinal?

É um tal de “eu te amo” para cá, “eu te amo” para lá, mas palavras, tanto quanto intenções, quando não vêm acompanhadas de atitudes, podem morrer na praia, junto ao tão desejado amor.

O amor verdadeiro não sobrevive de “marketing”, precisa se tornar real na vida, nas ações, em gestos e atitudes muitas vezes menos glamurosas do que caixas de bombons e flores exóticas. Amor verdadeiro requer consistência, presença, consciência; qualidades raras nos dias de hoje.

É relativamente fácil se fazer uma declaração apaixonada regada a um bom espumante numa noite romântica, à luz de velas. Difícil mesmo é ser capaz de, dia após dia, permanecer ao lado da pessoa amada quando essa passa por um momento difícil. Difícil é chegar exausto de um dia de trabalho e ainda ter a capacidade de ouvir nosso parceiro com atenção, brincar com nossos filhos e passear com nosso bichinho de estimação.

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Estamos tão acostumados a mimar nosso próprio Eu que aos poucos fomos nos tornando incapazes de amar, de olhar para o outro, de sair do redor de nosso próprio umbigo para fazer algo que faça com que outra pessoa se sinta bem.

Isso é amar:  querer o bem do outro, cuidar e proteger o outro, querer saber como o outro se sente, sentir alegria em tornar a outra pessoa mais alegre. Amar não é para todos, há que se ter uma boa dose de generosidade. O que poucos sabem é que dar de si ao outro, quando esse dar brota do amor, não apenas alimenta ao outro mas também a quem dá.

Não podemos obrigar ninguém a nos amar. Na verdade, algumas pessoas não conseguirão amar nem que queiram de verdade. É preciso ter atingido certo nível de consciência para que possamos manifestar essa qualidade, assim não devemos nos desgastar tentando fazer com que alguém nos ame, entenda bem isso. Isso depende de tantas coisas… E a maior parte delas está fora de nosso alcance.

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Às vezes amamos, mas não nos sentimos amados, e na verdade não estamos mesmo sendo amados na mesma intensidade de amor (cada um ama o quanto pode, de acordo com seu nivel de consciência). Nesse caso, o melhor é avaliar o tamanho da diferença. Duas pessoas com níveis muito diferentes de consciência não conseguirão estabelecer um relacionamento que seja satisfatório para ambas. A pessoa capaz de dar mais de si acabará sendo prejudicada. É difícil viver uma intensidade inferior de amor quando estamos prontos para mais. Seria como termos em mãos uma Ferrari e não podermos acelerar acima dos 50 kms por hora. Gera frustração, por mais amor que se tenha.

Assim, dependendo do quanto nos sintamos frustrados, partindo-se do pressuposto de que muitas vezes o outro não será mesmo capaz de ir adiante, cabe a cada um de nós assumirmos a responsabilidade por nós mesmos e percebermos até onde podemos seguir com o outro sem prejudicar nossa felicidade. Algumas relações não são saudáveis para ambas as pessoas, e quando for assim, mais do que ficar lá cobrando e exigindo que o outro seja quem não possa ser, talvez caiba a nós exercitarmos o amor nos desapegando daquela pessoa, permitindo que siga seu caminho na faixa de consciência em que está, e nos permitindo seguir adiante, procurando alguém que possa trocar conosco em um nível mais parecido com o que podemos expressar.

Isso pouparia muita dor.

A nossa, a dor da frustração do amor não correspondido. E a do outro, a dor de sentir-se impotente e incapaz de manifestar um amor superior ao que pode oferecer.

Não é fácil compreender isso, mas muitas vezes a separação pode sim ser um ato de amor.