Glaucoma e hipertensão intraocular

por Gilberto Coutinho

Determinado por alguns fatores, o glaucoma (do grego “glaukoma” e latim “glaucoma”) pode ser definido como uma afecção (doença) que acomete o nervo óptico (neuropatia óptica) e ocasiona a deterioração das células da retina (a mais profunda das três membranas do olho, cuja parte posterior é a única capaz de receber impressões luminosas mediante suas células sensoriais) e de seus axônios (prolongamentos essenciais das células nervosas, responsáveis por receber e transmitir os impulsos nervosos a outras células nervosas ou a órgãos), o que pode provocar uma atrofia do nervo óptico, alterações do campo visual, dores de cabeça e no olho afetado, perda da acuidade e função visuais, caso o problema não seja tratado de forma adequada e precoce.

Continua após publicidade

O que causa o glaucoma?

Os principais fatores de risco do glaucoma são a pressão intraocular elevada (acima de 21 mmHg), antecedente familiar, idade e etnia.

Atualmente, o aumento da pressão intraocular é uma das mais graves e frequentes anormalidades que afetam os olhos e uma das principais causas de cegueira. Pessoas acima de 50 anos de idade, diabéticas, com antecedentes familiares com o histórico da doença e afroamericanas são as mais propensas a desenvolverem tal afecção.

Em geral, a pressão intraocular se eleva, quando o humor aquoso do olho acumula-se de forma anormal, decorrente de uma drenagem deficiente, ou seja, de um desequilíbrio entre a produção (excessiva) e a chegada de líquido no interior do globo ocular. No glaucoma agudo, a obstrução do fluxo de saída é a principal causa do aumento da pressão intraocular. Há casos em que acumulação do humor aquoso ocorre devido a uma circulação defeituosa. O globo ocular torna-se endurecido, congestionado e avermelhado, a pupila cinzenta e nebulosa e há presença de dor. Parece existir uma base anatômica para o tipo crônico e uma forte correlação entre o conteúdo e a composição de colágeno (proteína complexa e abundante em todo o organismo) no olho acometido por esse mal.

Continua após publicidade

O surgimento de alterações glaucomatosas do disco óptico (ou papila óptica, zona circular localizada ao centro da retina, por onde saem os axônios das células da retina e que formam o nervo óptico) depende da vulnerabilidade do mesmo em desenvolver lesões diante o aumento da pressão intraocular. Existem casos em que a pressão intraocular encontra-se normal (glaucoma de pressão normal) e outros onde a pressão intraocular é elevada e inexistem alterações glaucomatosas (hipertensão ocular).

Existem algumas formas de glaucoma: primários de ângulo aberto (glaucoma crônico) ou fechado (glaucoma agudo); secundários (que podem ser de ângulo aberto ou fechado) e congênito. Para cada tipo, existem considerações terapêuticas específicas. Na literatura, existem relatos de tratamentos bem-sucedidos de glaucoma crônico à base de medidas terapêuticas antialérgicas. Em um estudo clínico com portadores de glaucoma, mais de 113 pacientes testados apresentaram um aumento imediato da pressão intraocular (de até 20 mmHg), quando em contato com substâncias alergênicas de natureza alimentar ou ambiental. Foi considerado nesse estudo que as respostas alérgicas conhecidas de permeabilidade vascular alterada e a vasoconstrição poderiam provocar a congestão e o edema típicos do glaucoma.

Na fase inicial do glaucoma, verifica-se certa dificuldade visual em ambos os lados do campo da visão. À medida que a doença progride, a região frontal da visão vai-se estreitando gradativamente até que a cegueira se instala, caso o problema não seja tratado e combatido de forma adequada e precoce. As lentes são ineficazes no tratamento do glaucoma.

Continua após publicidade

Glaucoma primário de ângulo aberto

Forma mais comum de glaucoma. Em geral, afeta pessoas acima dos 50 anos de idade sem preferência pelo sexo; manifesta-se em 1 a 2% da população adulta. Não é complexo o conjunto dos sintomas que caracteriza a doença (sintomatologia). As principais queixas são: perda da visão periférica e baixa acuidade visual. Quando a pressão intraocular se encontra muito elevada, pode ocorrer visão de halos coloridos ao redor de focos luminosos. Os principais sinais e sintomas desse tipo de glaucoma são: pressão intraocular aumentada, alterações do disco óptico (palidez e aumento da escavação fisiológica), defeitos do campo visual, perda gradual da visão periférica (resultando visão em túnel), dor forte e visão borrada. Nos casos em que se detectam escavações significativas do disco óptico e graves danos do campo visual, o controle da pressão intraocular se faz ainda mais necessário e urgente, devendo ser a pressão intraocular mantida abaixo de 15 mmHg para a estabilização do quadro.

Tratamento clínico

O tratamento clínico deve ser instituído tão logo seja diagnosticado o problema. Quanto precoce for o diagnóstico melhor, pois o tratamento visa combater o avanço das alterações oculares e, em poucos casos, é possível reverter os danos causados pelo glaucoma. O paciente deve ser acompanhado e a pressão monitorada, quando se detecta apenas o aumento da pressão intraocular (hipertensão moderada entre 23-25 mmHg, sem que tenham ocorrido alterações no disco óptico ou campo visual), pois não são todos os casos que evoluem para o glaucoma. Já a hipertensão intraocular acima de 30 mmHg deve ser sempre tratada devido à grande predisposição de ocorrerem lesões graves com o decorrer do tempo.

O tratamento oftalmológico convencional emprega medicamentos por via tópica (colírios que são necessários, mas que não curam o problema) ou sistêmicos, ou ambos os tipos, o qual visa a reduzir a pressão intraocular. A melhor maneira de prevenção do glaucoma é o diagnóstico precoce obtido mediante exames oftalmológicos de rotina após os 40 anos de idade. É recomendável um exame a cada 2 ou 3 anos.

Glaucoma primário de ângulo fechado

Manifesta-se em olhos anatomicamente predispostos e de três formas: aguda, subaguda e crônica. Esse tipo de glaucoma é causado pela obstrução da região de drenagem (raiz da íris) do humor aquoso. O glaucoma agudo deve ser encarado como uma emergência oftalmológica, pois, se não for tratado e combatido a tempo, pode causar cegueira em poucas horas. Nesse tipo, a pressão intraocular pode aumentar rapidamente e chegar acima de 40-50 mmHg (em geral, verifica-se maior pressão intraocular de um lado), acompanhada dos seguintes sinais e sintomas: olho congestionado, dilatação da pupila (midríase), a pupila não responde adequadamente à luz, baixa acuidade visual, dor ocular e latejante muito intensa, dor de cabeça (cefaleia), visão de halos coloridos, podendo ocorrer também náuseas e vômitos. Condição rara em jovens e frequente no sexo feminino e asiáticos. A terapêutica convencional do glaucoma agudo é clínica e cirúrgica, visa reverter a crise de fechamento angular mediante o emprego de medicamentos.

Glaucomas secundários

Podem ser de ângulo aberto ou fechado. O tratamento deve ser orientado para o controle e combate da hipertensão intraocular.

Glaucoma congênito

É uma das principais causas de cegueira que pode ser evitada na infância. O pediatra deve ser o profissional responsável pelo diagnóstico precoce. O glaucoma congênito manifesta-se, na grande maioria, no primeiro ano de vida, tanto em meninos quanto meninas, de forma bilateral (80% dos casos). A hereditariedade da doença é ainda discutida, acredita-se ser uma herança recessiva. Nos casos mais graves, a córnea (parte anterior e transparente do olho, de forma arredondada, com função de lente convergente) perde a sua transparência e a íris (membrana circular que confere cor aos olhos e cuja pupila encontra-se ao centro) apresenta-se diminuída de seu volume (hipoplásica).

No próximo texto, abordarei o tratamento do glaucoma pela naturopatia. Até lá!