Tratamento naturopático para gota e ácido úrico

por Gilberto Coutinho

A primeira descrição clássica de gota no Ocidente foi em 1683, feita por Sydenham, médico inglês que sofria desse mal. Doença inflamatória muito dolorosa, pertencente à família do reumatismo. Em geral, afeta primeiro as articulações dos membros inferiores e depois as dos membros superiores, ocasionando avermelhamento, calor e inchação local. As primeiras crises manifestam-se à noite, precedidas pela ingestão excessiva de alimentos ricos em purina (proteína) e em ácido úrico, como também pela ingestão de bebidas alcoólicas e devido ao uso de certos medicamentos alopáticos (diuréticos), a trauma e à cirurgia. Caracteriza-se por uma dor articular aguda, normalmente unilateral, que pode acentuar-se no período da madrugada até o amanhecer, ou durante a realização de um esforço físico. A crise dura de 4 a 7 dias, podendo prolongar-se além desse tempo; se for muito intensa, o seu agravamento pode ocasionar febre baixa e calafrios.
                        Relacionada a fatores hereditários – em alguns casos, doença familiar –, alimentares e individuais, a gota é ocasionada pela elevação da concentração de ácido úrico (produto final do metabolismo das purinas orgânicas e alimentares) e derivados (uratos) no sangue e pelo seu depósito nas articulações e ao seu redor, na forma de cristais de monourato de sódio, que originam grumos inflamatórios, o que favorece o desenvolvimento da artrite gotosa. A gonartrose (artrose do joelho) é um bom exemplo desse problema.
                        O fato de uma pessoa apresentar níveis elevados de ácido úrico no sangue não implica que a mesma seja portadora de gota. No sangue, o ácido úrico se interage com o sódio, dando origem ao urato sódico. Os cristais de monourato de sódio podem depositar-se na membrana sinovial (fina membrana que umedece, nutre e forra o interior das cápsulas das articulações móveis), nas cartilagens, nas articulações, nas estruturas periarticulares, nos ossos, nos tecidos subcutâneos, nos tendões, nos rins e em outros tecidos do corpo, causando inflamações e danos.
                        Entre as doenças crônicas e as metabólicas, a gota é uma das mais controláveis, porém podem ocorrer crises esporádicas com intervalos agudos variáveis e imprevisíveis, principalmente, quando o problema não é tratado de forma adequada e efetiva. Crises muito freqüentes podem vir a causar lesões e alterações nos ossos e nas cartilagens das articulações.
                        A concentração normal de ácido úrico no sangue é de até 7,0 mg/100 ml. Diariamente, cerca de 200 a 600 mg de ácido úrico são excretados na urina de um adulto. Isso corresponde a 2/3 da quantidade produzida pelo organismo, sendo o restante excretado na bile e no trato gastrintestinal. Quase todo ácido úrico no sangue é filtrado pelos rins (apenas uma pequena quantidade ligada à proteína não é filtrada), mas 80% são reabsorvidos após a filtragem.
                        Cada país tem suas peculiaridades; dependendo, portanto, disso, até 18% da população poderão apresentar ácido úrico acima do limite citado. Mas somente cerca de 20% das pessoas com excesso de ácido úrico no sangue (hiperuricemia) desenvolverão a gota.

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Gota é mais comum no homem

                        A gota é uma doença mais freqüente no sexo masculino (95% dos casos), em geral manifesta-se entre os 30 e 50 anos. As mulheres tornam-se mais propensas a sofrerem desse mal durante a menopausa. É raro o diagnóstico em homens e mulheres jovens. Existe um ditado popular bem humorado: “Antes dos 50 é gostoso, depois, é gotoso”.
                        Uma pessoa pode conviver com ácido úrico elevado durante 20 a 30 anos sem que apareçam os primeiros sintomas de gota.
                        Alterações dos níveis de ácido úrico no sangue podem causar: cálculo renal (sua incidência encontra-se aumentada em pacientes com gota primária que excretem mais de 700 mg/dia de ácido úrico), gota, artrite úrica, insuficiência renal aguda e/ou crônica (cerca 90% dos portadores de gota sofrem de certo grau de disfunção renal), hipertensão arterial etc.
                        A gota e a hiperuricemia (aumento acima do normal de ácido úrico no sangue)   encontram-se associadas a certas doenças subjacentes: obesidade, hipertensão arterial, diabetes mellitus, nefropatia, hipertiroidismo, hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia e arteriosclerose.
                        Na maioria das vezes, a gota manifesta-se numa crise aguda de artrite; é muito comum a 1ª articulação do dedo grande do pé ser afetada (cerca de 50% dos casos), posteriormente, o tornozelo, o calcanhar e o dorso do pé. A região afetada torna-se tão sensível que qualquer pressão, mesmo a do vestuário e as das roupas de cama, pode tornar-se insuportável. Após a fase aguda, o paciente pode ficar assintomático durante semanas, meses ou até anos.
                        O surgimento de “tofos” – saliências ou depósitos sob a pele de cristais de uratos (matéria branca) nas articulações, orelhas e cotovelos, pés e mãos – é sinal de gota. A ocorrência disso indica que a doença gotosa não foi tratada devidamente. A região afetada pelo tofo fica edemaciada pela irritação da membrana sinovial e dos tecidos subcutâneos adjacentes. Na ausência de tofos, o diagnóstico da gota pode ser feito por meio de exame de sangue (dosagem de ácido úrico) e radiológico (raio X).
                        A etiologia (causa) mais freqüente é a ausência congênita de um mecanismo enzimático responsável pela excreção de ácido úrico pelos rins. Assim, como há uma deficiência em sua eliminação, a concentração de ácido úrico no sangue aumenta. Uma outra causa, menos comum, é um defeito enzimático que ocasiona um excesso de produção de ácido úrico. No último caso, os rins, mesmo funcionando adequadamente, não conseguem eliminar todo o excesso de ácido úrico que se acumula no sangue.
                        A concentração de ácido úrico pode ser determinada mediante o exame clínico de urina, colhida num período de 24 horas. Confirmada a hiperuricemia, devem-se investigar outras etiologias menos comuns, como a policitemia vera (aumento anormal de glóbulos vermelhos no sangue) e a psoríase. 
                        Alguns medicamentos alopáticos podem diminuir a excreção de ácido úrico pelos rins: diuréticos, ácido acetil-salicílico (aspirina), etc.
                        A crise de gota pode reaparecer por falta de medidas controladoras e preventivas, pela ingestão de alimentos ricos em purina e ácido úrico e a de bebidas alcoólicas, que muito contribui para aumentar significativamente os níveis de ácido úrico no sangue e reduzir a sua excreção, como para aumentar a produção de lactato (substância resultante da oxidação do etanol), o que sobrecarrega e prejudica a função renal. O álcool é um fator precipitante das crises agudas de gota, e a eliminação de seu consumo torna-se necessária. É preciso adotar-se uma dieta saudável, mais alcalina e vegetariana para se evitar a concentração de compostos ácidos, pois esses contribuem para agravar a gota. 

Terapêutica

                        Sob orientação, acompanhamento e prescrição terapêuticas, o tratamento naturopático envolve:
(1). Repouso – das regiões afetadas, durante a fase aguda, até sua normalização.

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(2). Medidas dietéticas – O consumo abundante e regular de água, além de hidratar o organismo, torna a urina mais diluída, o que favorece a excreção de ácido úrico e reduz o risco de formação de cálculos renais. Devem ser evitados: carboidratos refinados (açúcares e amidos); frituras e gorduras saturadas; carnes em geral (bovina, suína, peixes e aves); miúdos (fígado, coração, língua e rins); frutos do mar e peixes pequenos (sardinhas, arenque, anchova, mexilhão, cavalinha, camarão e ovas de peixes); queijos; ovos; chocolate; leguminosas (feijão, grão de bico, ervilha, lentilha, grãos integrais; tomate com sementes; caldos e ensopados (o ácido úrico é muito hidrossolúvel, quando qualquer tipo de carne é cozido em água, ele se dilui); levedura (levedura de cerveja e do pão); café e chá; alimentos com níveis moderados de proteínas: espinafre, aspargo e cogumelo.

(3). Remédios botânicosdevem ser prescritos de acordo com os sintomas e sinais de cada paciente – Harpagophytum procumbens (Unha-do-diabo): antiinflamatório e analgésico, amplamente utilizado no combate da artrite, gota e reumatismo, reduz o ácido úrico; Echinodorus macrophyllus (Chapéu-de-couro): antiinflamatório, depurativo do sangue, diurético, auxilia no combate da artrite, do reumatismo, das afecções renais e das vias urinárias; Bowdichia virgilioides (Batata-de-sucupira): depurativo do sangue, antigotoso e anti-reumático; Banisteria argyrophilla (Cipó prata): antiinflamatório, diurético, indicado no combate das afecções renais e do ácido úrico; Leonotis nepetaefolia (Cordão-de-frade): tônico, combate dores artríticas e auxilia na eliminação do ácido úrico; Smilax japecanga (Japecanga): anti-reumático, depurativo e diurético; Barosma betulina (Buchu): diurético, combate excesso de ácido úrico, anti-séptico, tônico renal e antilítico (dissolve cálculos renais); Uncaria tomentosa (Unha-de-gato): antiinflamatório, combate artrite reumatóide, melhora as defesas imunológicas, antialérgico e cicatrizante.

(4). Suplementação nutricional – devem ser evitadas altas doses acima de 50 mg/dia de niacina e excessos de Vitamina A, que podem agravar as crises de gota. Devem ser indicados: Ácido fólico (inibe a xantina oxidase, necessária à síntese de ácido úrico); Ácido pantotênico; Betacaroteno; Vitamina C (aumenta a excreção de ácido úrico pelos rins; evitarem-se megadoses); Vitamina E; Zinco (apresenta ação antiinflamatória); Sulfato de Glucosamina (apresenta propriedades benéficas às articulações); Coenzima Q10; Complexo B; Ômega-6 (poderoso antiinflamatório natural do organismo); Quercetina (bioflavonóide indicado no combate da gota, inibe a xantina oxidase e protege as estruturas articulares); Bromelaína (enzima proteolítica com intenso poder antiinflamatório; acretita-se que ela amplie a absorção da quercetina e de outros suplementos e remédios).

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(5). Obtenção do peso corporal ideal – 40% das pessoas que apresentam ácido úrico elevado e encontram-se acima do peso ideal só conseguem obter uma redução substancial do ácido úrico com o emagrecimento.

(6) Eliminação dos fatores precipitantes: bebidas alcoólicas, alimentos ricos em purina e ácido úrico e desidratação.

(7). Acupuntura Tradicional Chinesapara o combate à dor (por meio liberação de endorfinas), do inchaço e da inflamação; para a melhoria da circulação sangüínea e do Tchi (bioenergia) e a promoção do relaxamento muscular.

(8). Massagens Terapêuticas – com óleos vegetais medicamentados, com propriedades diuréticas, depurativas, antiinflamatórias, antirreumáticas, que auxiliem na eliminação do ácido úrico e toxinas.