O que Santo Antônio ‘pode’ fazer pelo seu relacionamento?

por João Paiva

13 de Junho é dia de Santo Antônio, nome em grego que significa “flor nova”. Em vida chamou-se Fernando de Bulhões, nascido em Lisboa em 1195 e morto no dia 13 de Junho de 1231. Ele era um sacerdote franciscano contemporâneo e amigo de Francisco de Assis. Sua canonização pelo papa Gregório IX ocorreu um ano após a sua morte. O dia santificado foi implementado na América colonial por decreto do papa Inocêncio XVIII no ano de 1722.

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Acredita-se que o santo fosse frequentemente visitado pelo Menino Deus e sua iconografia o mostra com o Menino Jesus nos braços. Embora não se saiba ao certo os motivos que o levaram a apadrinhar os casamentos, muito difundido é o costume de certas moças que, na esperança de arrumar um pretendente, submetiam as imagens do santo a todos os suplícios possíveis. Entre os castigos figuram o de separar-lhe o Menino Jesus dos braços e o de atar-lhe com uma corda deitando a imagem dentro de um poço, até que o santo lhes deferisse o milagre.

Oração e folclore

“Meu Santo António querido/Eu vos peço, por quem sois/Daí-me o primeiro marido, que o outro arranjo depois/Meu Santo António querido/Meu santo de carne e osso/Se tu não me dá marido/Não tiro você do poço”. (Cascudo,C.Dicionário do Folclore Brasileiro.1962.pg54)

Segundo Cascudo, esse costume já era frequente entre gregos e romanos, habituados a supliciarem as imagens de seus deuses na esperança de obter deles o sortilégio. Vale recordar que o outro atributo do santo é o de recuperar objetos perdidos. Assim, conforme o autor, a decorrência de sua habilidade em conseguir pretendentes poderia se esclarecer pela sua capacidade de “encontrar”, como se atesta na grande veneração que os pescadores de França atribuem a ele, creditando-lhe a aptidão de ser um deparador dos restos de naufrágio e, por conseguinte, das coisas sem dono, extraviadas, perdidas.

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Porém, estas conjecturas não explicam o motivo do mesmo ser venerado deste modo entre os pescadores. Neste sentido gostaria, a título de curiosidade, de remeter os leitores ao sermão do padre António Vieira em homenagem a Santo Antônio, pregado no Maranhão em 1656. O sermão encontra-se no Projeto Vercial – base dados sobre língua portuguesa http://web.ipn.pt/literatura Neste, o jesuíta faz menção ao famoso episódio que teria ocorrido com o santo em Arimino na Itália.

Consta que após ter sido rejeitado pelos homens que não quiseram lhe ouvir, pois não estavam dispostos a entrar em contato com o lado corrompido e vicioso de suas existências, Santo Antônio teria se retirado em direção ao mar e pregado um sermão aos peixes que emergiram da água para melhor escutá-lo.

Padre Vieira compara, então, o santo ao peixe de Tobias. Conforme seus escritos, certa feita, ao ir lavar os pés na beira de um rio, Tobias teria se deparado com um enorme peixe que abrira a bocarra em sua direção. Assustado, o mesmo fizera menção em fugir, mas neste momento, o anjo Rafael aparecera e dissera a ele para agarrar o peixe pelas barbatanas e puxar-lhe para a terra, uma vez que com o fel de suas entranhas curaria a cegueira e com seu coração expulsaria o demônio.

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Utilizando-se do fel Tobias curou a cegueira de seu pai e com o coração do peixe expulsou o demônio Asmodeu, que teria matado os sete maridos de Sara. A seguir, Tobias casou-se com ela. De modo análogo, Santo Antônio, ao abrir a sua boca para falar ao povo de Arimino trazia a possibilidade, com o fel de suas palavras, de iluminar a cegueira da população e, com o seu coração, de expulsar os demônios. Mas isto só poderia ocorrer se os homens fossem capazes de perscrutar o lado sombrio e amargo de suas almas, ou aquele lado que é rejeitado por suas personalidades. Além disso, teriam que colocar amor em seus corações. O jesuíta estabelece, portanto, uma única diferença entre aquele peixe e o santo: o primeiro abriu a boca a quem se lavava e o segundo a quem não queria se lavar.

No final do sermão, o padre ressalta a prodigiosa capacidade de reprodução dos peixes e faz menção a sua fecundidade relembrando o milagre da multiplicação e justificando a máxima: “crescêsseis e multiplicásseis”. Ontem foi Dia dos Namorados e hoje é dia de Santo Antonio, estamos num período em que se se celebra a fertilidade e o amor. Abramos, portanto, as nossas entranhas a fim de que possamos, em nossos relacionamentos amorosos, iluminar as cegueiras e expulsar os demônios.