Entenda a hérnia de disco lombar

por Gilberto Coutinho

Afecção (doença) muito dolorosa que acomete a coluna vertebral, a hérnia de disco caracteriza-se pelo deslocamento do núcleo pulposo (parte central, arredondada e de consistência gelatinosa) do interior do disco intervertebral (fibrocartilaginoso) em direção ao canal raquidiano ou ósseo, mediante a ruptura de sua parte mais externa constituída de anel fibroso (que mantém o núcleo pulposo no interior do disco), resultando num quadro clínico neurológico de compressão das raízes nervosas ou raquidianas localizadas nesse nível.

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A manifestação da hérnia de disco é mais comum nos homens do que nas mulheres e na fase da degeneração discal, que ocorre entre os 30 e 50 anos de idade. Embora seja mais frequente na região lombar, a hérnia discal pode ocorrer também na região cervical e torácica; suas manifestações clínicas mais comuns são: lombalgia (sendo a hérnia de disco a causa mais frequente de todas as lombalgias), lombociatalgia (associação de dores lombares com uma nevralgia ciática) e síndrome da cauda equina (que parece ser a única situação de urgência cirúrgica no combate da hérnia de disco).

O extenso nervo ciático, o qual se origina no plexo sacral, é o mais volumoso nervo do corpo humano, formado por várias raízes nervosas responsáveis pela inervação dos membros inferiores, estimulam os músculos e uma parte das regiões articulares dos membros inferiores, favorecendo a sensibilidade das coxas, pernas e pés. Na hérnia de disco, tal nervo pode ser afetado. A dor se irradia na direção dos membros inferiores. O percurso da dor dependerá das raízes nervosas comprometidas. A expressão “ciática” refere-se à dor persistente percebida ao longo do nervo ciático, que se inicia na parte inferior das costas e se irradia para as nádegas e pernas (tornozelos e, eventualmente, pés); é uma decorrência do comprometimento das raízes do nervo ciático.

Os sintomas e sinais da hérnia discal são bastante variáveis e se alteram de pessoa para pessoa, de caso para caso; incluem: manifestação de dor (depende da região da coluna afetada e das raízes nervosas comprometidas); comprometimento do reflexo (patelar e Aquiles) e da marcha; diminuição da força muscular do membro inferior afetado (por comprometer a porção motora do nervo); e alterações da sensibilidade (parestesias, cãibras, dormência e fisgadas).

Por ser a recuperação da hérnia de disco lenta e marcada por altos e baixos, ou seja, melhoras e recaídas, o estado emocional do paciente ansioso pode ficar bastante abalado, necessitando também de suporte terapêutico. Em sua grande maioria, o distúrbio é autolimitado, o que torna a cirurgia uma opção terapêutica aconselhável somente naqueles casos, realmente, mais graves e complicados.

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Deve-se combater o uso abusivo de antiinflamatório e analgésico (principalmente, por pessoas portadoras de problemas gástricos, renais e/ou hepáticos). São também questionáveis procedimentos invasivos, como a cirurgia de hérnia de disco, pois, como se observa frequentemente, o paciente operado passa a sofrer de dores mais intensas e constantes. Mesmo naqueles em que tais problemas não são evidenciados, os medicamentos acima não devem ser usados de forma indiscriminada e por um período prolongado.

A coluna lombar costuma estar enrijecida (numa posição de defesa), assim como também a musculatura das costas e os glúteos. A dor costuma variar de acordo com as mudanças de posição do paciente. Em alguns casos, a dor é aliviada na posição deitada (em decúbito); em outros, a dor se agrava na posição de pé e sentada, e durante a marcha.

Em 1930, um importante estudo comprovou que o disco intervertebral no indivíduo jovem é formado de 88% de água, enquanto que no adulto é de 65%.

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Os hábitos dietéticos errôneos e as deficiências nutricionais parecem ser o fator inicial do desenvolvimento da hérnia de disco, pois acabam prejudicando a nutrição dos discos intervertebrais (que ocorre através da difusão de nutrientes pela placa cortical da vértebra, que é irrigada por capilares provenientes da artéria vertebral). A diminuição dos proteoglicanos no disco intervertebral faz com que o núcleo pulposo perca suas propriedades hidráulicas de um verdadeiro amortecedor das pressões, contribuindo para que o anel fibroso fique mais predisposto a ruptura.

Rico em proteoglicanos e colágeno (proteína complexa), o disco intervertebral tem como nutrientes principais: água, aminoácidos, glicogênio, dentre outros, que participam na formação dos proteoglicanos (responsáveis pela hidratação do núcleo pulposo e que conferem a ele as propriedades do gel, auxiliando na distribuição uniforme das pressões ao longo do anel fibroso).

Deve-se ter o cuidado para não confundir a síndrome do músculo piriforme com a dor ciática provocada pela hérnia de disco lombar. Um exame completo e detalhado na região lombar e sacroilíaca desconsidera essas duas regiões como sendo a origem do problema. A verdadeira dor ciática inicia-se na coluna lombar e segue o trajeto do nervo ciático, diferentemente da síndrome do piriforme, que tem sua origem na região glútea, na altura da inserção desse músculo, e que também se irradia pelo trajeto do nervo isquiático.

A síndrome do músculo piriforme (responsável pelo movimento de rotação externa) consiste na inflamação ou irritação do nervo ciático, quando ele passa abaixo ou entre as fibras desse músculo. Em geral, o nervo ciático passa abaixo do músculo piriforme, mas, em 15% dos casos, tal nervo passa pelo meio, separando o músculo em duas partes. Em tal síndrome, pode ocorrer profunda dor localizada na musculatura glútea (na altura do músculo piriforme); dor, ao se comprimir o nervo ciático na região glútea; atrofia isolada do músculo glúteo; sensibilidade na parede retal; aumento de volume e da consistência do músculo piriforme, etc.

No diagnóstico diferencial da hérnia de disco lombar deve-se ter em mente as várias causas da lombalgia e lombociatalgia: causas mecânicas, degenerativas, traumáticas, reumáticas, infecciosas, tumorais, psicogênicas e viscerais.

Aumento de peso corporal (obesidade), hábitos errôneos de vida (má postura, sedentarismo, atividade física impactante e que sobrecarregue a coluna vertebral, levantar e carregar peso de forma inadequada, etc.), agressões, traumas e lesões, hereditariedade, mutações genéticas, estresse, nervosismo, tensão muscular, fatores emocionais e tensão sexual, alcoolismo, tabagismo, herança cultural, dentre outros fatores, podem contribuir para o surgimento da hérnia discal lombar.

Terapêutica

Desde o início, é indispensável explicar ao paciente acometido por hérnia de disco lombar que sua recuperação ocorrerá de forma lenta e gradativa, à medida que uma terapêutica segura e efetiva for instituída, e que o repouso parcial e a tranquilidade emocional serão extremamente necessários. Deve-se combater o estresse, o nervosismo, a irritabilidade, a tensão muscular e a angústia, pois todos esses males podem agravar os sintomas da hérnia discal e retardar a recuperação do enfermo.

O tratamento naturopático efetivo compreende:

(1) Acupuntura Tradicional Chinesa (sistêmica e auricular) – a terapêutica deve ser aplicada diariamente durante 10 dias consecutivos (para se completar um ciclo). Já a Acupuntura Auricular deve ser aplicada uma vez por semana. As sementes fixadas com esparadrapo, hipoalergênico, que permita a pele transpirar, sobre a superfície auricular deverão permanecer durante 5 dias. O paciente deverá estimular os pontos de acupuntura, massageando-os 5 vezes ao dia. No quinto dia, são retiradas as sementes, deixando a superfície auricular descansar durante 48 horas, antes de se fazer uma próxima aplicação. Os pontos de acupuntura devem ser cuidadosamente selecionados de acordo com os sintomas, sinais, síndromes, queixas e laudos de exames complementares, para que o tratamento seja efetivo e propicie um rápido alívio da dor e restabelecimento do paciente.

(2) Fitomedicina: Bromelaína – enzima proteolítica extraída do abacaxi, atua como antiinflamatório e auxilia na recuperação dos tecidos traumatizados); Uncaria tomentosa (Unha-de-gato), extrato seco – ação antialérgica, antiinflamatória e cicatrizantes; Harpagophytum procumbens (Garra-do-diabo), extrato seco – ação analgésica, antiinflamatória e espasmolítica (que relaxa a musculatura lisa).

(3) Suplementação: Cloridrato de hidroxocobalamina, solução injetável, aplicada por via intramuscular – indicações: no combate das afecções que envolvem a deficiência da vitamina B12, nevralgias e dores musculares (mialgias) de origem ortopédica ou traumática e reumática, como ciática e as decorrentes da artrose lombar, etc. (4) Massagem terapêutica: diária, aplicada logo após a realização da acupuntura sistêmica, realizada nas costas, região lombar, glútea e membro inferior afetado (inclusive na planta do pé), para relaxar a musculatura lombar, ativar a circulação sanguínea (xue) e do tchi (bioenergia), eliminar a estagnação, aliviar a dor e auxiliar na regeneração dos tecidos lesados e na nutrição da coluna vertebral, dos discos intervertebrais e das ramificações nervosas.

Nos casos de ansiedade, nervosismo, irritabilidade, tensão nervosa e depressão moderada, o profissional de saúde poderá também prescrever um calmante, relaxante muscular e antidepressivo naturais e associados.

A automedicação é um hábito muito perigoso. Segundo a “Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)”, estima-se que, no Brasil, essa prática seja responsável por cerca de 30% dos casos de intoxicação. Além desse problema, utilizar medicamentos por conta própria pode causar dependência, efeitos colaterais graves, reações alérgicas e até morte; por isso, é preciso combater a automedicação e somente fazer uso de remédios e medicamentos sob a orientação e a prescrição de um profissional da área de saúde, no consultório.