Remédios botânicos para o fígado e vesícula biliar

por Gilberto Coutinho

A planta medicinal cardo-mariano, também conhecida como cardo santa-maria e cardo-leiteiro, é uma espécie nativa da região Mediterrânea da Europa e Ásia, onde, há séculos, é utilizada como remédio. Parente próximo da serralha (Sonchus oleraceus), aclimatou-se bem ao sul do Brasil.

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Planta herbácea, bianual, lactescente (que contém suco leitoso, tal como a figueira), ereta, espinhosa, de 40 a 140 cm de altura, folhas de cor verde-acinzentada (de 15 a 25 cm de comprimento), com manchas brancas ao longo das nervuras e margens onduladas e orladas de espinhos e cílios, com flores purpúreas reunidas em capítulos solitários (inflorescência caracterizada por ter as flores inseridas num receptáculo discóide protegido por brácteas ou estruturas foliáceas associadas as inflorescências) e terminais, apresenta princípios amargos, lipídios, proteínas (25 a 30%), flavonóides (silimariana 1,5 a 3%, silibina), mucilagens, óleo essencial, taninos, albumina, ácidos graxos linoléico (60%); é aperiente (estimula o apetite), diurética, tônica, reguladora das células hepáticas; estimula o fluxo biliar; é espasmolítica (relaxa a musculatura lisa das vísceras, combatendo os espasmos).

A literatura etnofarmacológica recomenda o uso da tintura de suas sementes para o combate de cólicas e problemas urinários, biliares e uterinos. O cardo-mariano tem sido utilizado por via oral no combate das doenças do fígado e vesícula biliar, icterícia, cirrose hepática, intoxicações (cogumelos não comestíveis, álcool, tabagismo, drogas e substâncias químicas tóxicas).

Contém algumas das mais potentes substâncias protetoras do fígado conhecidas, uma mistura de três flavolignanas que, juntas, são chamadas de silimarina; cuja concentração é mais elevada no fruto do que nas sementes e folhas. Resultados de ensaios farmacológicos realizados com esta planta concluem: efeito benéfico sobre o aparelho cardiovascular, efetiva ação hepatoprotetora (atribuída à silimarina presente nas sementes).

O efeito mais interessante dos princípios ativos do cardo-mariano sobre o fígado é a sua capacidade de estimular a síntese de proteína hepática; o resultado é um aumento na produção de novas células hepáticas que substituam as danificadas.

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Ação: tônica amarga, aperitiva, febrífuga (previne e combate a febre), tônica vascular, hemostática (capaz de interromper uma hemorragia), anti-hemorrágica, colagoga (facilita a evacuação da vesícula biliar), colerética (estimula a secreção da bile pelas células hepáticas), protetora e restauradora do fígado, tônica estomacal, estimulante gástrico, diurética, hipertensora e galoctagoga (favorece a secreção do leite).

Propriedades farmacológicas: excelente digestivo; diurética; protetora e curativa das células hepáticas, indicada nos casos de cirrose hepática, esteatose hepática (degeneração celular ou infiltração gordurosa) e hepatite; anti-hepatotóxica; hipertensora (aumenta a pressão arterial, auxiliando a normalizá-la naquelas pessoas que sofrem de pressão baixa); antioxidante (a silimarina, uma flavolignina, é muitas vezes mais potente do que a vitamina E); melhora a circulação sangüínea abdominal; indicada no combate das hemorragias uterinas, problemas menstruais, varizes e úlceras; estimula a saída da bílis da vesícula biliar; e auxilia na fluidez do leite materno, quando esse não é abundante.

Indicações: afecções (doenças) do fígado e vesícula biliar (icterícea e litíase ou cálculo biliar); alcoolismo; tabagismo; auxilia as mães que estão amamentando e que não têm leite em abundância, pois melhora o fluxo de leite; hipocondria; hipotensão (folha); hipertensão (semente); dispepsias; insuficiência hepática; cirrose hepática; menorragias; constipação e deficiência cardio-vascular.

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Contraindicação: nos casos graves de oclusão das vias biliares e nas diarréias (em alguns casos, observa-se uma branda ação laxativa).

Dente-de-leão (Taraxacum officinale)

É um excelente alimento e remédio (um dos melhores para o fígado e vesícula biliar), pode ser usado em saladas cruas e em refogado, fonte vegetal de iodo, vitamina C, contém mais vitamina A do que as cenouras, além de outros minerais (como potássio e zinco) e vitaminas; apresenta também propriedades que favorecem a digestão, depurativas, diuréticas, tônicas e anti-reumáticas.

Planta herbácea perene, também conhecida como taráxaco, de procedência européia, contém uma roseta basilar de folhas verdes. Cresce preferencialmente em lugares úmidos, e com o fim da floração, os capítulos amarelos (a flor) transformam-se numa esfera de aquênios com coroas (lembram uma bolinha de algodão; as sementes são disseminadas pelo vento). Toda a planta é percorrida por laticíferos (células) que produzem e contêm um látex branco (não tóxico). Apresenta folhas compridas e dentadas (vários dentes pontudos) ou picotadas (as folhas novas e frescas são ricas em vitamina C, o que permite o seu consumo em saladas).

No ocidente, os botânicos e os naturopatas passaram a reconhecê-la como planta medicinal após o século XVI. É considerada uma das ervas mais ativas e seguras como diurética e uma das melhores para combater disfunções hepáticas.

Na Europa, o dente-de-leão foi utilizado no tratamento de febres, furúnculos, problemas oculares, diarréia, retenção de líquidos, congestão hepática, pirose (azia) e diversos problemas cutâneos. Na China, esta planta tem sido usada no tratamento de problemas da mama (câncer, inflamação, falta de leite, etc.), hepatopatias, apendicite e distúrbios digestivos; na Índia, Rússia e outras partes do mundo, no combate das doenças do fígado. É um excelente alimento usado em saladas cruas e em refogado, pois é fonte vegetal de iodo, além de diversos minerais e vitaminas.

Constituintes: flavonóides; vitaminas A (o dente-de-leão contém mais vitamina A do que as cenouras), B1, C e D; ácidos graxos; minerais (fonte de potássio e zinco); princípio amargo (taraxacina) etc. Contém muito mais valor nutritivo do que muitos outros vegetais, sendo rico em vitaminas, minerais, proteína, colina, insulina e pectinas (fibras).

Ação: estimulante digestivo; colagogo; colerético; depurativo; diurético; tônico e antireumático.

Propriedades farmacológicas: melhora a produção da bile e o seu fluxo para a vesícula biliar (efeito colerético); estimula a função renal (o patássio e os flavonóides são responsáveis pelo aumento da diurese); beneficia o tecido conjuntivo (favorecendo o fluxo sangüíneo); auxilia na prevenção de cálculos biliares; tônico hepático; auxilia a eliminação de inúmeros catabólitos pela via biliar; diminui a dor reumática por apresentar uma moderada ação antiinflamatória; o composto amargo é responsável pela estimulação da digestão e secreção gástrica e antioxidante.

Indicações: congestão hepática, inflamação do ducto biliar, hepatite, litíase biliar; oligúria (diminuição da quantidade de urina emitida em 24 horas); problemas hepáticos; cirrose; icterícia; desordens hepatobiliares; coadjuvante no combate da obesidade, dermatoses, hipoacidez gástrica, dispesia (má digestão), afecções do aparelho urinário, escorbuto, depurativo do sangue e desordens reumáticas.

Contraindicação: oclusão do ducto biliar. Podem ocorrer dermatites de contato devido às lactonas.

Alcachofra (Cynara scolymus)

Além de ser um alimento muito saboroso, é rica em enzimas, sais minerais, pró-vitamina A etc., muito benéfica ao fígado e à vesícula biliar; apresenta ação depurativa, diurética, laxativa, hipoglicemiante, reduz a taxa de uréia e colesterol sangüíneo.

Planta perene, originária da região do mediterrâneo, cultivada em todos os países de clima subtropical, de até um metro de altura, com folhas compostas e espinhosas, sendo as superiores bem menores do que as da base. Flores purpúreas, reunidas em um grande capítulo envolvido por grandes brácteas que constituem a parte comestível da inflorescência (devem ser cozidas para se tornarem mais digestivas).

A alcachofra pode ser empregada para fins medicinais nas formas de: decocto, tintura-mãe, vinho medicinal, extrato seco (em cápsulas) e hidrolato (medicamento obtido por destilação).

Constituintes: cinarina, sais minerais (12 a 15%), mucilagem, pectina, ácidos orgânicos, compostos flavônicos, cinaropicrina (principal constituinte amargo), enzimas, pró-vitamina A (entre outras vitaminas).

Ação: colagoga, colerética, depurativa, diurética, laxativa (sem irritar a mucosa dos intestinos), hipoglicemiante, reduz a taxa de uréia e colesterol sangüíneo.

Propriedades farmacológicas: o sabor amargo contribui para aumentar a secreção gástrica e sua acidez (sendo por isso indicada no combate da má digestão); hepatoprotetora e regeneradora dos hepatócitos (células encontradas no fígado capazes de sintetizar proteínas); efeito colerético (se a bile não está sendo adequadamente transportada para a vesícula biliar, o fígado sofre maior risco de dano); os coleréticos são muito úteis no combate da hepatite e de outras hepatopatias mediante o seu efeito descongestionante e diminuem os níveis de colesterol sangüíneo e os de triglicérides; diminui as cólicas provocadas pelos cálculos biliares; a cinarina possui propriedades anti-hepatotóxicas; na remia, a cinarina melhora a excreção do amônia por provocar um aumento da produção de ácido úrico pelo rins; diurética (auxilia na eliminação da uréia e de substâncias tóxicas provenientes do metabolismo celular) e hipoglicemiante (indicada no combate do diabetes).

Indicações: afecções hepatobiliares, no aumento da uréia e do colesterol sangüíneo, distúrbios gástricos e renais, coadjuvante no combate da obesidade, hipertensão e hidropisia.

Contraindicação: mães que amamentam, por diminuir a secreção do leite (a cinarina coagula o leite materno), e nos casos de fermentação intestinal.

A automedicação é um hábito muito perigoso. Segundo a “Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)”, estima-se que, no Brasil, essa prática seja responsável por cerca de 30% dos casos de intoxicação. Além desse problema, utilizar medicamentos por conta própria pode causar dependência, efeitos colaterais graves, reações alérgicas e até morte; por isso, é preciso combater a automedicação e somente fazer uso de remédios e medicamentos sob a orientação e a prescrição de um profissional da área de saúde, no consultório.