Ibogaína pode ser utilizada no tratamento de dependêndcia química?

por Danilo Baltieri

"Existe no Brasil alguma pesquisa sobre o uso da ibogaína para tratamento de dependência química e, se não há, quais países pesquisam o assunto?"
Resposta: Ibogaina é uma substância derivada das raízes do arbusto Tabernanthe iboga.

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A planta é comumente encontrada na África Central e Ocidental e tem sido utilizada há tempos para combater a fome e a fadiga, além de ser empregada em rituais.

Nas últimas décadas, tem atraído atenção de alguns pesquisadores ao redor do mundo, devido aos relatos anedóticos referentes às suas propriedades de inibição dos sintomas de síndromes de abstinência de várias substâncias psicoativas, como os opioides e o álcool.

Em 1993, a Ibogaina foi administrada em seres humanos em um projeto de pesquisa aprovado pelo FDA – Food and Drug Administration (Fase I). No entanto, este estudo foi descontinuado por razões não confiavelmente descritas. Muitos dos dados científicos disponíveis sobre essa substância, o que inclui como funciona no corpo (farmacocinética e farmacodinâmica) e sua segurança terapêutica, são derivados de pesquisas apoiadas pelo NIDA (National Institute on Drug Abuse) entre 1991 e 1995. No entanto, pesquisas referentes ao tratamento clínico com ibogaina não foram concluídas.

Apesar da falta de pesquisas adequadas, a ibogaina tem sido utilizada de forma não regulamentada em vários centros ao redor do mundo, e uma rápida busca na internet revela a veracidade desta assertiva.

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Dado que essa substância não tem sido rigorosamente estudada em contextos clínicos, a dose adequada e a maneira como deve ser administrada (titulação da dose, por exemplo) ainda não são um consenso. Também, com essa ausência de estudos clínicos associada com a administração não regulamentada da substância, relatos de mortes e prejuízos físicos induzidos pela ibogaina têm vicejado na literatura.

De fato, a Ibogaina não é uma substância aprovada para uso clínico. Apesar disso e das alterações que esta droga provoca no ritmo cardíaco, a ibogaina tem sido utilizada em centros alternativos ao redor do mundo com a finalidade de tratar dependentes químicos.

Em muitos países, a ibogaina é ilegal ou simplesmente não oficialmente aprovada para uso. Dentre estes países, incluem-se França, Dinamarca, Suécia, Bélgica, Suíça e Austrália.

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Os casos de morte relacionados ao uso de ibogaina se devem ao efeito dessa substância sobre o ritmo cardíaco. De fato, a ibogaina pode alterar os canais de sódio e, assim, provocar um mecanismo de taquiarritmia ventricular possivelmente fatal (torsade de pointes). Certamente, quando essa substância é administrada para pessoas predispostas, o risco é maior. Por isso, toda a forma de tratamento médico deve ser bem avaliada e pesquisas devem ser realizadas objetivando validar o procedimento, sempre considerando a eficácia e a segurança terapêutica.

* Opioides: ópio, morfina, codeína, fentanyl, meperidina, heroína, oxicodona, hidroxicodona, oximorfona, hidroximorfona, tebaína, metadona, L-acetyl-Metadol – saiba mais

Abaixo, recomendo a leitura do texto:
Papadodima SA, Dona A, Evaggelakos CI, Goutas N, Athanaselis SA. Ibogaine related sudden death: a case report. Journal of forensic and legal medicine. 2013;20(7):809-11.