Pressa ao iniciar uma relação amorosa pode provocar o seu fim

por Patricia Gebrim

Hoje em dia temos pressa para tudo. Se antes um contrato levava dez ou vinte dias para chegar ao outro lado do mundo, ser assinado e devolvido; hoje chega num toque do teclado do seu micro. Se antes uma refeição levava horas para ser preparada, hoje basta colocar uma embalagem no micro-ondas e, alguns segundos depois, a comida está lá fumegante no seu prato.

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É fato, basta observar: os relacionamentos vêm seguindo o mesmo caminho. Não se vê mais o jogo de conquista, a sedução inteligente, a corte, como se dizia antigamente. Hoje tudo é instantâneo.

A pressa em obter a posse do outro, com sua anuência, acaba tendo efeitos que a maioria das pessoas não percebe. Por incrível que pareça, tal ânsia é como a assinatura da sentença de morte do possível relacionamento.

– Morreu, antes mesmo de ter a chance de nascer.

Ora, para que um relacionamento se estabeleça é necessário que exista desejo pelo outro, não apenas o desejo carnal, mas o desejo de estar mais próximo daquela pessoa, não só no mundo corporal objetivo, mas também na subjetividade do seu ser.

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Idealizar é necessário

Aos que anseiam por um relacionamento cabe pensar que desejamos aquilo que não temos. É no vazio do “não ter” que nasce a semente ardente do desejo; é no vazio que se sonha com o que poderia vir a ser. Assim, é necessário que exista um espaço em branco no qual possamos derramar a nossa ideia do ser amado. Estou aqui falando da idealização, dessa fase de “imaginar” o outro, algo que necessariamente precisa acontecer para que suportemos dar início a um relacionamento. Ora, se eu não “acreditar” – nem que na fantasia de quem ainda não conhece o outro o suficiente para de fato “saber” – se eu não acreditar que aquela pessoa possa ser bacana, me fazer bem, compartilhar sonhos comigo… como darei a ela chance de se aproximar de mim?

“Desidealizar” também é necessário…

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Tudo a seu tempo!

É claro que, depois de cumprida a tarefa de permitir a aproximação inicial entre duas pessoas, a idealização precisará ser contestada, faz parte de nosso amadurecimento. Mais para frente no relacionamento, precisaremos exercitar uma visão mais realista e perceber que aquela pessoa não é exatamente o que sonhamos, precisaremos perceber quem de fato é aquele ser, por baixo das coisas que projetamos nele. E exercitar a nossa tolerância e a nossa capacidade de aceitar aquela pessoa como ela realmente é.

Mas sem essa idealização inicial, nada acontece, aceitemos isso ou não.

E para que esse primeiro passo com relação ao outro aconteça, é preciso espaço, o espaço em branco que nos permite projetar nossos sonhos e anseios amorosos. O espaço que temos quando não estamos ao lado da pessoa. O espaço que temos enquanto nos perguntamos se o outro irá ou não ligar, se irá ou não vir em nossa direção. O espaço que temos enquanto nos perguntamos se um dia aquela pessoa irá nos beijar e deitamos no sofá tentando imaginar como será o toque daquelas mãos, ou tentamos nos lembrar do som da sua voz. Esse espaço vazio no qual derramamos nosso desejo, delicioso espaço no qual sonhamos e idealizamos o ser amado.

A pressa, no entanto, nos rouba esse espaço. A pressa faz com que pulemos etapas, nos atropela antes que tenhamos tempo de sonhar com alguém a quem poderíamos amar. E sem o sonho, se vai o desejo, e se vai o gancho inicial que permitiria a união de duas pessoas. A pressa nos leva a encontros desprovidos de alma, nos lança a trocas meramente físicas que não têm força suficiente para criar laços mais profundos.

Na pressa vivemos tudo de forma tão crua que se torna impossível estabelecer vínculos, tudo se torna rapidamente descartável e sem sabor. Na pressa e na ânsia de ter alguém a nosso lado, selamos nosso destino solitário. Ou seja, na pressa, sem perceber, criamos desamor.

Assim, se puder, tente acalmar sua ansiedade, caminhe com mais tranquilidade e firmeza na direção do que quer. Não perca seu ritmo interno e não permita jamais que outra pessoa faça você caminhar numa velocidade que não seja também a sua.

Fecho o texto com uma letra que fala sobre idealização e 'desidealização'

A cruz e a espada
(Paulo Ricardo e Luiz Schiavon)

Havia um tempo em que eu vivia
Um sentimento quase infantil
Havia o medo e a timidez
Todo um lado que você nunca viu

Agora eu vejo,
Aquele beijo era mesmo o fim
Era o começo e o meu desejo se perdeu de mim

E agora eu ando correndo tanto
Procurando aquele novo lugar
Aquela festa o que me resta
Encontrar alguém legal pra ficar

Agora eu vejo,
Aquele beijo era mesmo o fim
Era o começo e o meu desejo se perdeu de mim (repete 2x)

E agora é tarde, acordo tarde
Do meu lado alguém que eu não conhecia
Outra criança adulterada
Pelos anos que a pintura escondia

Agora eu vejo,
Aquele beijo era mesmo o fim….o fim
Era o começo e o meu desejo se perdeu de mim

Agora eu vejo,
Aquele beijo era mesmo o fim (aaaa)
Era o começo e o meu desejo(uououooo) se perdeu de mim (se perdeu de mim)