Dualidade: a verdadeira realidade e a realidade criada

por Samanta Obadia

Por um instante, percebi o quanto a vida é frágil. A queda de uma gaiola da janela, a fuga do passarinho, que em choque parou de voar. A nossa corrida para salvá-lo. A percepção de que uma distração mínima é fatal.

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A visão daquele sopro ainda presente no pequeno peito, a esperança.

Na gaiola partida, ele ainda sente-se em casa. Está em choque e vivo. Que susto!

Mas enquanto ele respira, eu suplico ao protetor dos animais, São Francisco de Assis, por sua vida, e mantenho minha fé, ainda que os três andares de um prédio sejam um indício lógico de fatalidade.

Estou povoada por esta sensação de que a realidade que criamos é maior do que a capacidade que temos de enxergar a verdadeira realidade. E assim, evitamos o mistério.

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Instantes, um segundo de distração, a falta de consciência perdida num pequeno ato. O efeito borboleta se faz, e tudo acontece como num dominó, que deve ser parado por alguém. E que este alguém seja eu.

Que eu possa, com este evento, perceber a importância de cada palavra, de cada olhar, de cada sorriso. Que o conhecimento do que ocorre a minha volta seja fundamental para o próximo passo que virá. Que a delicadeza de cada gesto seja mais importante do que os preceitos que carrego em minha mente, e que o desfrutar da novidade seja mais desejado do que o orgulho de meus preconceitos.

Conhecer não é apenas um acúmulo de informações e formações. Conhecer é também observar, receber, intuir, aceitar. Abrir espaço para ouvir e ver, esperar, perceber. Ser inteiro em cada ação, para não fazer de qualquer maneira. Estabelecer um tempo para cada coisa, com dedicação integral, conectada no todo do qual fazemos parte.

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