Luto precisa ser vivido

por Luís César Ebraico

Faz pouco tempo, fui procurado em minha clínica por uma senhora de 82 anos, com quem entabulei o seguinte diálogo:

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SENHORA: – Doutor, soube de algumas coisas que o senhor tem falado nas palestras que deu na UNIRIO e quis vir aqui lhe fazer uma pergunta.
EU: – Pois não, faça.
SENHORA: – Não. Antes quero relatar algumas coisas.
EU: – À vontade.
SENHORA: – Doutor, quando eu tinha sete anos de idade, morreu uma pessoa de minha família. Os parentes vestiram-se de preto e as demais pessoas mantiveram uma distância respeitosa dos que estavam de luto.
EU: – Sim.
SENHORA: – Depois, quando fiz dezoito, morreu outra. Percebi que poucos se vestiram de preto. A maioria dos homens, por exemplo, colocou apenas uma tarja preta na lapela de seus ternos. Mais uma dúzia de anos, e morreu outra. Aí, nem tarja na lapela. Pois bem, eu casei aos dezessete anos. Meu marido foi o único homem de minha vida e eu fui extremamente feliz com ele, que faleceu faz quatro meses. Um mês depois, nosso único filho se suicidou. E as pessoas estão me pressionando para que eu não fique triste, não chore, me distraia e "fique bem". Agora eu posso fazer a pergunta.
EU: – Qual é a pergunta?
SENHORA: – É a seguinte: o que houve com as pessoas? Eu estou maluca ou TODO MUNDO FICOU IDIOTA?
EU: – Não, minha senhora, a senhora não está maluca, TODO MUNDO FICOU IDIOTA.
SENHORA: – Ah, eu já desconfiava. Só queria confirmar. Obrigado, doutor.

E a velhinha, que, por tudo que me relatou, havia vivido uma vida feliz e saudável, nunca mais voltou a meu consultório… E, no que diz respeito à própria saúde, ela tinha razão: só podendo sentir completamente a dor de nossas perdas podemos seguir inteiros nossa caminhada. Voltarei sobre isso.

Esta coluna se propõe a relatar experiências sobre o poder da palavra em nossas vidas. Aqui serão relatados dezenas de fragmentos de diálogo – reais ou fictícios – segundo os pontos de vista da Loganálise, mostrando onde e como esses diálogos apresentam elementos favoráveis ou desfavoráveis ao estabelecimento de uma comunicação sadia. *A Loganálise é um filhote da Psicanálise: pretende mostrar como o cidadão comum, em seu dia-a-dia, pode tirar proveito de conceitos como repressão, fixação, trauma e outros para promover sua própria saúde psicológica e a daqueles com quem se relaciona.