Minha mãe é alcoólatra em estágio avançado. O que faço?

por Danilo Baltieri

"A minha mãe é alcoólatra há 40 anos. Já a internei várias vezes. O maior intervalo dela sem beber foi de dois anos. Ela não tem mais estrutura para beber e fica louca, com vontade… Atualmente, saio para trabalhar e deixo meu portão trancado. Não tenho mais dinheiro para interná-la novamente, não sei mais o que fazer, me ajude…"

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Resposta: Infelizmente, em todas as áreas da Medicina, existem doenças com diferentes níveis de gravidade e resistência aos tratamentos convencionais. Essas situações precisam ser identificadas pelos profissionais especializados, e recursos terapêuticos disponíveis devem ser aplicados, respeitando-se os pilares da bioética.

No caso da Síndrome de Dependência ao Álcool, existem várias formas de tratamento médico e psicossocial recomendadas. A associação do uso de fármacos eficazes e seguros com abordagens psicoterapêuticas e grupos de mútua ajuda (Alcoólicos Anônimos) têm mostrado eficácia e é aplicada em vários centros ao redor do mundo.

Embora haja apenas 4 medicações comprovadamente eficazes e consequentemente aprovadas para o tratamento do alcoolismo: Acamprosato, Dissulfiram, Naltrexone e Naltrexone-depot, outras medicações têm sido prescritas, como o Topiramato e o Ondansetron, visto que vários estudos científicos têm apontado sua eficácia e segurança terapêutica para determinados tipos de alcoolistas. É importante ressaltar que cada uma destas medicações tem suas indicações e contraindicações, e o especialista deverá decidir qual delas poderá ser melhor indicada para uma pessoa específica.

As internações em clínicas especializadas, hospitais gerais e comunidades terapêuticas também têm suas indicações médicas, as quais já foram extensivamente discutidas aqui no Vya Estelar.

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Por que adesão ao tratamento pode falhar?

Algumas das razões para as falhas na adesão aos tratamentos para alcoolismo têm sido identificadas, como:

a) ausência de motivação para cessar o problema;
b) existência de outros transtornos mentais coexistentes, mas não adequadamente identificados pela equipe de tratamento;
c) ambivalência quanto ao desejo de parar de beber. A pessoa pode enxergar a necessidade da sobriedade, mas tem receio de perder o prazer obtido com o consumo do álcool;
d) algumas pessoas podem ser incapazes de cessar o consumo de bebidas alcoólicas sem auxílio profissional prolongado, com intervalos estreitos entre as consultas. O mesmo ocorre em relação à necessidade do suporte familiar correto e continuado;
e) os sintomas de abstinência do álcool podem ser um obstáculo à promoção da abstinência, uma vez que dependentes dessa substância poderão ter receio de experimentar estes sintomas quando deixarem de beber. É importante lembrar que os sintomas da síndrome de abstinência não são apenas os chamados "agudos", ou seja, aqueles que se iniciam poucas horas depois da redução ou interrupção abrupta do consumo do álcool; existem os sintomas da chamada síndrome de abstinência protraída, que ocorrem meses depois do último uso da bebida;
f) a baixa autoestima é um importante problema no caminho da sobriedade. Pessoas com baixa autoestima frequentemente não valorizam suas habilidades e capacidades, o que prejudica o equilíbrio da motivação para cessar o uso da substância;
g) alguns dependentes acreditam que terceiros sempre tomarão a atitude por eles mesmos; assim, sem limites, acabam por não assumir a responsabilidade sobre seu próprio comportamento.

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Poderia, aqui, incluir várias outras possíveis razões para a falha no processo de recuperação de uma pessoa com problemas com o uso de bebidas alcoólicas. Mas, sintetizando, devemos sempre considerar razões neurobiológicas e psicossociais que estão contribuindo para a falha terapêutica.

Devemos também lembrar que a Síndrome de Dependência de Álcool é uma doença crônica e caracterizada, em várias situações, por recaídas. Os doentes devem aprender com tais recaídas e lapsos, a fim de evitar problemas semelhantes ao longo do processo. Esse processo de aprendizagem não é nada fácil e profissionais especializados devem estar presentes para auxiliar o paciente dependente, inclusive estabelecendo limites em algumas situações.

Trancar sua mãe em casa e deixá-la sozinha sem supervisão de terceiros seguramente não são estratégias recomendáveis. Podem, inclusive, ser perigosas para alguns tipos de pacientes.

Você deve procurar auxílio especializado o quanto antes. Embora esteja com dificuldades financeiras atualmente, existem os chamados Centros de Atenção Psicossocial específicos para problemas relacionados ao consumo de álcool e outras drogas (CAPS-AD). Nesses CAPS, normalmente, profissionais especializados estão presentes para promover o tratamento correto. Atividades terapêuticas diversas (grupos de terapia, oficinas) frequentemente são oferecidas aos pacientes durante o dia, de acordo com as indicações específicas para cada um.

Não perca tempo.

Atenção!

Este texto e esta coluna não substituem uma consulta ou acompanhamento de um médico e não se caracterizam como sendo um atendimento.