Acupuntura em xeque: cuidado com os maus profissionais

por Alex Botsaris

Recentemente uma *lei foi aprovada no Rio de Janeiro que prevê a função de “terapeuta” um profissional que estaria capacitado a fazer uma série de “terapias”, inclusive acupuntura, nas unidades de saúde do Estado. Nessa lei, não está descrita qual deve ser a formação do terapeuta que faz acupuntura, considerando que essa profissão não está regulamentada.

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Há um projeto de lei que pretende regulamentar o ensino e a prática da acupuntura tramitando há anos no Congresso Nacional, entretanto as disputas corporativas não permitem que haja um consenso e o projeto possa ser votado.

Enquanto isso, surgem escolas de acupuntura em todos os cantos formando pessoas apenas com segundo grau completo em acupunturistas com currículos, em geral muito aquém do mínimo suficiente para ministrar tratamentos, quaisquer que sejam. Essas escolas colocam inúmeros profissionais novos no mercado em todas regiões do Brasil, completamente despreparados e sem experiência para resolver os problemas de saúde que a acupuntura pode tratar. E o pior, esses profissionais também não têm qualquer treinamento para reconhecer problemas mais sérios de saúde, que podem ser causados por doenças graves e, portanto, precisam ser encaminhadas a um médico.

Acupuntura/regulamentação: falta consenso entre normatizações

A acupuntura já foi regulamentada por alguns conselhos de profissionais, como o CFM (Conselho Federal de Medicina), COFITO (Conselho Federal de fisioterapia e Terapia Ocupacional) e o COFEN (Conselho Federal de Enfermagem), entretanto não existe uma harmonia entre as normatizações, nem uma definição dos limites de atuação dos profissionais de cada uma dessas áreas.

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Os médicos sempre tiveram uma postura muito corporativista, não admitindo a atuação de outros profissionais na área de acupuntura, o que emperrou as negociações para definir como deve ser essa formação. O resultado é a falta de parâmetros ideais, mesmo na formação de dessas categorias profissionais. Já tive acesso a currículos de mestrado em acupuntura, cuja qualidade e profundidade são precários e insuficientes.

Minha postura sempre foi a mais aberta possível, e sempre defendi o diálogo com outras categorias profissionais, ou mesmo entendo como viável a hipótese de um curso específico de acupuntura e medicina chinesa, desde que fosse baseado num currículo universitário, moldado na formação universitária que existe na China.

Mas não posso concordar com a falta de responsabilidade que vemos por aí, onde donos de escolas de acupuntura colocam profissionais no mercado com uma formação absolutamente precária – cursos de final de semana, com pouca carga horária e pouca prática. O resultado disso é uma epidemia de pacientes com os mais diferentes problemas causados por profissionais despreparados, que varia de pneumotórax (entrada de ar dentro da caixa toráxica) até infecção e lesão de feixes nervosos por agulhas de acupuntura. Isso sem contar com uma multidão de pessoas reclamando que não melhoram com o tratamento e que a inserção de agulhas é muito dolorosa – tudo resultante da falta de perícia e experiência dos profissionais.

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Técnica de acupuntura não é simples

Ao observador leigo a acupuntura pode parecer uma coisa simples – decorar alguns pontos na pele, enfiar a agulha e pronto. Nada disso, acupuntura é uma técnica extremamente difícil de fazer e que requer anos e experiência para atingir bons resultados. Cada ponto de acupuntura tem dezenas de informações associadas, além da localização, que incluem a profundidade e a direção da agulha, os tipos de manipulação e estímulo indicados, as associações de pontos mais indicados (quais os pontos que devem ser associados a esse ponto), tempo de retenção da agulha e sintomas que orientam o maior ou menor estímulo daquele ponto. Quanto mais pontos e combinações de pontos o acupunturista conhece, mais capacidade tem de tratar as diferentes doenças. Sabe-se que as possibilidades de tratamento e associações de pontos beiram o infinito.

O acupunturista inexperiente simplesmente não consegue bom resultados. Quase toda semana eu tenho oportunidade de receber uma pessoa que já fez acupuntura sem resultados e vem ao meu consultório como último recurso, porque tenho fama de resolver o que os outros não resolveram. Eu me lembro que levei ao menos 6 anos trabalhando com acupuntura, e após estudar um ano na França, para começar a ter bons resultados em acupuntura. Em 1985, junto com mais 5 colegas, fundamos o IARJ (Instituto de Acupuntura do Rio de Janeiro), onde ensinamos acupuntura por muitos anos a médicos, e por um tempo a fisioterapeutas. Paramos de formar fisioterapeutas por pressão do CFM. Durante muitos anos o IARJ foi considerado a melhor escola de acupuntura do Brasil.

Em 1999, quando acupuntura foi considerada especialidade pelo CFM e uma prova foi feita para obtenção de título de especialista, 98% dos ex-alunos do IARJ foram aprovados, contra uma média de 75% de outras escolas. Médicos acupunturistas formados no IARJ hoje em dia ocupam cargos importantes em diversas instituições pela Brasil. Infelizmente o IARJ está quase fechando, porque o grupo de sócios e professores que ensinavam no instituto acabou se afastando. Fora isso fui à China cinco vezes, sendo que em uma delas passei três meses estagiando em hospitais chineses e estudando com diversos professores da Universidade de Pequim.

Portanto, não me falta qualificação para avaliar a formação em acupuntura e a capacidade dos profissionais que estão no mercado, e por isso estou dividindo com os leitores minhas preocupações. Meu medo é que isso venha gerar uma imagem negativa para a acupuntura. Quanto as pessoas que estão procurando um profissional de acupuntura para se tratar recomendo o seguinte:

Qualificações de um acupunturista idôneo

1º) Dê preferência a um profissional que também tenha uma formação convencional na área da saúde, como médico, enfermeiro ou fisioterapeuta. Alguns acupunturistas que não têm formação superior na área da saúde, mas vem de famílias que fazem acupuntura há muitas gerações, também possuem uma boa experiência.

2º) Escolha um profissional que tenha no mínimo 5 anos de experiência em acupuntura. O ideal é que o profissional já tenha estudado também no exterior, em especial na China.

3º) Se possível escolha um profissional pós-graduado por universidade pública

4º) Procure saber de pacientes que se trataram com esse profissional se ele tem bons resultados e se trata os pacientes com ética e respeito.

*LEI Nº 5.471 DE 10 DE JUNHO DE 2009 ESTABELECE NO ÂMBITO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO A CRIAÇÃO DO PROGRAMA DE TERAPIA NATURAL.