Como cuidar de quem tem Alzheimer?

por Elisandra Vilella G. Sé

Cuidar de paciente com doença de Alzheimer não é uma tarefa fácil. A tarefa exige do familiar ou cuidador formal (enfermeiro, acompanhante) uma dedicação, motivação, recursos sociais e estratégias de enfrentamento para lidar com as dificuldades advindas das limitações impostas pela doença.

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A doença de Alzheimer é apenas uma das várias formas de demências que causam limitações cognitivas (das funções mentais) e comportamentais.

De acordo com dados de pesquisas, ela atinge mais de 25 milhões de pessoas no mundo, com uma prevalência de 1 a 1,5 % entre os de 60 e 65 anos e 45% após os 90 anos de idade. No Brasil estima-se que existam cerca de 1milhão de pessoas com a doença de Alzheimer, muitas das quais ainda sem diagnóstico.

Em relação ao quadro clínico, as modificações são lentas e progressivas, havendo geralmente dificuldade de memória recente, dificuldades de aprender coisas novas, dificuldades de linguagem, diminuição do vocabulário, dificuldades das habilidades motoras e que vão progredindo conforme a evolução da doença.

Muito dessas alterações cognitivas, comportamentais e físicas podem acometer a independência da vida diária do paciente causando um desgaste para quem cuida. Para tanto, algumas estratégias podem ser utilizadas para manejar as dificuldades apresentadas pelo paciente, diz respeito a atitudes do cuidador que podem dirigir o paciente para suas capacidades remanescentes, estimulando seu senso de controle sobre usas ações e sobre o ambiente, mantendo sua dignidade, confiança e segurança e proporcionando uma boa qualidade de vida.

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Algumas das estratégias que podem ser utilizadas pelo cuidador familiar dizem respeito à organização de uma ambiente seguro, ao estabelecimento de rotina para o exercício das tarefas diárias (horários para acordar, almoçar, tomar banho, medicamentos, etc.), o estímulo intelectual e o exercício físico como por exemplo a caminhada. São medidas elementares que irão possibilitar a permanência do paciente em casa, facilitar o cuidado, não sobrecarregando o cuidador e evitando maiores desgastes das pessoas envolvidas.

A primeira coisa a ser feita ao orientar a família é saber diferenciar as alterações cognitivas que fazem parte do quadro como: esquecimentos para fatos recentes, alterações de memória, alterações de reconhecimento, dificuldade de fixação, dificuldade de percepção, compreensão, raciocínio, dificuldades na capacidade de julgamento, confusão mental e alterações de linguagem; das alterações de comportamento e de emoções como: irritabilidade, insônia, agitação, frustração, ansiedade, medo…

É importante lembrar que idosos com doença de Alzheimer ou funcionalmente incapacitados por outro tipo de demência são capazes de ativar mecanismos compensatórios para enfrentar as perdas em funcionalidade, lançando mão de recursos tecnológicos, de apoios sociais e psicológicos. A mesma coisa acontece com relação à autonomia e à independência, os idosos podem lançar mão de mecanismos psicossociais que envolvem relações de apego e de solidariedade que se traduzem em cuidados instrumentais, emocionais e sociais facilitando a lidar melhor com as adversidades do dia a dia e ajudando a manter de certa forma a sua independência.

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Quanto aos esquecimentos existem algumas estratégias que podem ser adotadas pelo cuidador para lidar com as alterações de concentração, atenção e memória no dia a dia com o paciente com doença de Alzheimer.

Dificuldade de concentração

Diante das dificuldades de concentração, o cuidador pode ajudar a melhorar a capacidade de fixar a informação, aumentando a atenção, o estímulo e o tempo dedicado ao estímulo mais simples e não apresentar vários estímulos ao mesmo tempo. Primeiro é importante que o cuidador conquiste a confiança do paciente.

As dicas são simplificar as tarefas e sistematizá-las para que a paciente possa realizá-las com calma.

Por exemplo: saber as incumbências do dia: falar várias vezes na semana, reforçar, não falar de forma complexa, ser redundante, utilizar bilhetes, dicas, associar com cores, fazer quadro de horários dos compromissos, associar o que vai fazer deixando as informações todas por escrito junto com pistas visuais, por exemplo, o logotipo de um supermercado ou de algum lugar ou empresa que o paciente precise ir fazer algo, deixar sempre o quadro de horário, lista de compromisso no mesmo lugar, utilizar etiquetas, calendários grandes, ver o relógio. Ter blocos de anotações em vários lugares da casa (sala, quarto, cozinha, banheiro, etc.).

Informar o paciente com antecedência de acordo com sua personalidade, cuidado para não criar ansiedade e preocupações que podem causar confusão mental. No caso de cuidador formal utilizar crachá com letras grandes que facilite a identificação pelo nome, podendo facilitar a aprendizagem de um novo nome. Estimular a leitura de tudo o que é possível várias vezes ao dia – jornal, revistas, receitas, informativos e nos casos de idosos analfabetos estimular com jogos e outras atividades de seu convívio que faça sentido para o paciente. Nos casos de leitura mesmo que seja difícil o registro do texto, não desistir, continuar a leitura e discutir com o paciente o conteúdo do texto, utilizando também outros conhecimentos prévios. O mesmo pode ser feito com programas de televisão.

Quanto à administração dos medicamentos não é possível contar com a memória do paciente, portanto e necessário uma boa vigília e auxílio nessa tarefa. Faça um quadro de horários com os nomes dos remédios e as datas com manhã, tarde e noite. Dê as medicações nos horários recomendados, o paciente pode ver e acompanhar o que está sendo feito. Observe a quantia consumida do medicamento, para saber se o seu uso está correto e anote o que já foi administrado ou o que já acabou e precisa comprar, por exemplo, escrever do lado do nome “ok” ou “falta”.

Observar os efeitos colaterais dos remédios que estão sendo tomados para que não sejam ingeridos em excesso e se precisar comunique ao médico sobre esses efeitos. Anote as datas da ocorrência de algum efeito colateral.

É importante tentar conscientizar o paciente para que ele colabore nas tarefas do dia a dia, com dedicação e participação para que tenha uma boa compensação nas respostas, além de uma preservação das funções cognitivas.