Entenda por que o TOC é pouco compreendido

por Edson Toledo

Parece-me que o Transtorno Obsessivo-Compulsivo, conhecido pela sigla "TOC", tornou-se o transtorno mental da hora.

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Frequentemente vemos celebridades anunciando que têm esse transtorno e encontramos o tema em programas de televisão .

Afinal de contas, não é de se estranhar, já que o TOC pode render bons programas de TV, principalmente quando uma variedade de rituais "interessantes" são explorados e discutidos focando o seu lado cômico. Para ilustrar veja o ator Jack Nicholson no *filme "Melhor Impossível". Ponto positivo já que o transtorno obsessivo-compulsivo está sendo falado mais do que nunca.

Inegavelmente, acredito que a atenção dada ao TOC seja uma coisa boa, mas também percebo que o transtorno ainda é muito incompreendido. E tenho pensado por quê? A questão que para mim fica é a de que será só a deturpação do transtorno, ou tem algo mais?

A resposta que me veio no momento foi à lembrança de um iniciante na carreira clinica e um jovem amigo que me disse que tinha TOC. Eu sabia tanto sobre TOC na época quanto a maioria das pessoas que não tinha nenhuma experiência direta com ele. Vergonhosamente, devo admitir que a minha resposta inicial foi: "É mesmo? Mas como se você nem sequer lava as mãos!"

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Ah! Elementar meu caro leitor, o que eu estava focando, e o que eu acho que aqueles que sabem pouco sobre TOC prestam atenção, são a parte das "compulsões" do transtorno, ou seja, o "C" do TOC. Em muitos casos, esta é a parte concreta do TOC; as coisas que você pode realmente ver. Eu digo "em muitos casos," porque às vezes, como meu amigo com TOC, as compulsões não são visíveis. Essa condição é por vez conhecida por Obsessão Pura, exemplo, somar mentalmente os números das placas dos carros quando está na rua.

Lavar as mãos, bater na parede, verificar o fogão ou a porta, ligar o interruptor de luz, não caminhar entre pisos. São onde essas compulsões observáveis ditam a reputação do TOC e dão o tom engraçado e fica"bonito e peculiar". Então uma pessoa não familiarizada com o TOC pode pensar: "Claro, que ele tem que verificar seu fogão vinte vezes antes de sair de casa, mas não é realmente um grande problema".

Quem sabe um pouco mais sobre o TOC percebe que essas compulsões perceptíveis são apenas parte da história. São as obsessões, ou seja, o "O" do TOC, os medos incapacitantes que impulsionam as pessoas com esse transtorno para executar as compulsões, que são a fonte de seu sofrimento.

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O tormento que as pessoas com TOC sentem varia, mas pode ser tão ruim que tem o poder de paralizá-las. O fato é que enquanto podemos educar as pessoas sobre obsessões e até mesmo dar-lhes exemplos específicos, você não pode ver as obsessões, assim fica difícil fazer alguma intervenção.

Se você tem um ente querido com TOC ou é um profissional que trabalha com portadores de TOC, então você provavelmente testemunhou os efeitos devastadores da doença. O público em geral não percebe como aqueles que têm TOC são hábeis em esconder sua dor.

O TOC é um somatório de obsessões e compulsões e frequentemente as obsessões permanecem em grande parte ocultas. O TOC não se reduz a rituais peculiares, mas traz uma incerteza atormentadora, uma ansiedade severa e um implacável medo

*Melhor É Impossível (As Good as It Gets, 1997), filme norte-americano do gênero comédia romântica dirigido por James L. Brooks e produzido por Laura Ziskin. É estrelado por Jack Nicholson como um romancista obsessivo-compulsivo.