Demência se manifesta de forma diferenciada para cada pessoa

por Elisandra Vilella G. Sé

A doença de Alzheimer constitui o tipo mais comum de demência. É definida como uma doença neuropsiquiátrica degenerativa, na qual se verifica um comprometimento das funções cognitivas: memória, linguagem, atenção, percepção, orientação espaço-temporal, praxia (ação/movimento) e funções executivas.

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Tudo isso envolve o comprometimento cerebral, provocando uma atrofia progressiva no cérebro; inicialmente nas regiões internas do lobo temporal, causando impacto na funcionalidade e na vida social e ocupacional do indivíduo.

Os sintomas de déficit cognitivo iniciam lentamente e aumentam com o passar do tempo. Muitos sintomas não ocorrem no início, mas surgem ao longo da evolução da doença e aumentam com sua gravidade.

Ao se fazer um diagnóstico de demência os médicos se referem aos critérios do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, quarta edição (DSM-IV).

Muitos profissionais da saúde encontram dificuldades para diferenciar o comprometimento cognitivo leve (CCL) de quadros demenciais em estágios iniciais, pois a sintomatologia é similar.

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O que mais encontramos na literatura é que o comprometimento cognitivo leve tem sido reconhecido por alguns estudiosos como a fase pré-clínica das síndromes demenciais, em especial da doença de Alzheimer, sendo considerado um estado intermediário entre o envelhecimento normal e patológico, mas ainda não bem sistematizado dentro das correntes teóricas biomédicas.

A demência se manifesta de forma diferenciada para cada pessoa. Precisamos ir além dos neurônios, precisamos de histórias de vidas para conhecer melhor como a doença se manifesta.

Quanto aos aspectos relacionados aos critérios de diagnósticos da doença de Alzheimer, três grupos de pesquisadores renomados do mundo discutiram esses critérios na Alzheimer’s Association International Conference sobre a Doença de Alzheimer. Esses grupos formaram a base para os novos critérios de diagnósticos para disfunção cognitiva leve e Doença de Alzheimer (DA); é a primeira atualização desses critérios em 25 anos, bem como uma nova categoria de DA pré-clínica. Esses grupos de trabalho foram organizados pelo National Institute on Aging e a Alzheimer’s Association.

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Dados estatísticos

De acordo com pesquisas científicas, 36 milhões de pessoas no mundo vivem com demência e esse número deve chegar a 115 milhões em 2050.

A demência é definida como uma síndrome clínica caracterizada pela deterioração progressiva de múltiplos domínios da cognição, capaz de comprometer a autonomia do indivíduo. Representa causa importante de incapacidade, inserção em asilos e redução de sobrevida na população, em especial a população idosa. Não que as doenças crônico-degenerativas sejam manifestação do envelhecimento, mas por que esse grupo etário apresenta maior vulnerabilidade para desenvolver determinadas doenças e as demências, em especial a doença de Alzheimer, apresenta maior ocorrência e impacto nesse segmento.

Com base em estudos epidemiológicos (2008), estima-se que 60% dos idosos brasileiros (1.332.034 de pessoas) são portadores de algum tipo de demência. Dessas 799. 220 pessoas são diagnosticadas com a provável doença de Alzheimer.

A prevalência de demência aumenta de forma importante com a idade, dobrando a cada cinco anos, variando de 1,5%, entre 60 e 64 anos, a quase 40% nos nonagenários. A prevalência global dessa patologia é estimada em 3,9% nos sujeitos com idade igual ou superior a 60 anos, com uma variação importante entre os continentes, de 1,6% na África a 6,4% na América do Norte. Na América Latina, a taxa de prevalência é de 7,1% e no Brasil varia entre 6,0% a 7,1%. A incidência mundial anual é estimada em 7,5 casos a cada 1000 habitantes idosos (idade = 60anos).

A demência tem um impacto importante na vida social e na dimensão emocional das famílias e de seus cuidadores. A falta de compreensão e conscientização sobre a doença resulta em recursos insuficientes para lidar da melhor forma possível com seu manejo. Por isso a necessidade de campanhas mundiais para gerar iniciativas políticas e institucionais.

Pesquisadores e cientistas do mundo todo reconhecem a doença de Alzheimer como uma prioridade de saúde pública. Na conferência da ONU (março/2011), em Toronto (Canadá), foi realizada uma Assembleia Geral na qual se discutiu a inclusão da demência dentro da categoria de doenças não transmissíveis, num grupo de doenças que causam maior impacto social. Isso deve ter um reconhecimento da própria ONU no sentido de unir esforços para o desenvolvimento de planos para dar mais atenção à demência em todos os países, com especial atenção ao países subdesenvolvidos.

Com o aumento previsto das pessoas com idade acima de 60 anos, sabemos que essas estarão mais expostas aos riscos das doenças não transmissíveis, incluindo aí a demência.

Atualmente são quatro os grupos de doenças não transmissíveis que recebem mais atenção da saúde pública: doença cardiovascular, diabetes, câncer e doença respiratória crônica.

Nesta quarta-feira de 21 de setembro, associações de todo o mundo se reúnem para levar à Assembleia da ONU (que será aberta com discurso da presidenta Dilma Rousseff) a proposta da inclusão da demência como uma doença prioritária na área da saúde, incluindo a demência no grupo das doenças não transmissíveis.

No Brasil a Associação Brasileira de Alzheimer se mobiliza neste mês para implementar eventos importantes em todo o país em razão do Dia Mundial da Doença de Alzheimer – 21 de setembro. Essa mobilização tem o objetivo de promover o suporte adequado para o doente, cuidadores e suas famílias bem como um esclarecimento à sociedade para uma melhor gestão da doença.

Mais informações no site da ABRAz www.abraz.org.br