Metrossexual e narcisista, entenda a diferença

Da Redação

O termo metrossexual foi criado há mais de cinco anos para classificar homens heterossexuais extremamente vaidosos. Quando o termo foi criado, referia-se a homens adultos moradores das metrópoles, possuidores de boa situação financeira, adeptos de roupas e produtos de beleza de grifes famosas e interesse por assuntos como a gastronomia sofisticada e jardinagem artística.

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No entanto, hoje muitos adolescentes já se enquadram nesse perfil de masculinidade bem mais trabalhada que a usualmente difundia até então.

Segundo os homens e os adolescentes, os metrossexuais são homens que apresentam a evolução masculina, uma vez que homens com hábitos machistas e atitudes dos tempos das cavernas já não agradam mais à maioria das mulheres com se imagina no passado. Esse pensamento parece, de fato, refletir uma porção significativa da nova forma feminina de ver e querer os homens.  Prova disso é a comunidade chamada Metrossexuais, eu recomendo!, criada por Juliana T. da Silva, de 19 anos no Orkut. Para essas novas mulheres, os metrossexuais não são apenas homens vaidosos, eles são mais atraentes, principalmente por compreenderem melhor o universo feminino. Por se submeterem a rituais 'sofridos' de beleza, como a maioria das mulheres, esses homens são mais atentos às necessidades, hábitos e preferências femininas e, por isso mesmo, sabem e são capazes de elogiar, valorizar e conversar mais com suas parceiras.

As mulheres vão mais longe e fazem questão de diferenciar os homens metrossexuais dos narcisistas puros. Para elas os narcisistas são homens muito vaidosos, mas que não se interessam nem admiram o universo feminino. Este interesse e admiração seria o quê a mais apresentado pelos homens metrossexuais.

Em minha maneira de avaliar e analisar o fenômeno da metrossexualidade tem um lado bastante positivo no que diz respeito à quebra de preconceitos quanto à possibilidade dos homens assumirem seus sentimentos no tocante à vontade de ficarem mais bonitos e poderem também retardar os efeitos da idade sobre sua aparência externa, o que sempre foi feito pelas mulheres. Isso também poderá aproximar mais os universos femininos e masculinos, sempre tão distanciados nos requisitos de beleza, vaidade, cuidados pessoais e interesses em geral. Por outro lado, confesso certa preocupação quanto ao fato dos homens estarem sendo despertados de maneira 'superficial' para uma vaidade exagerada, que tem por objetivo criar um mercado consumidor específico como foi feito com as mulheres no passado em relação à indústria dos cosméticos, dos alimentos diet e light, dos cigarros, do charme e das próteses de silicone para fins estéticos.

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Causa-me também certa apreensão o fato de a metrossexualidade poder abrir portas para que padrões de cuidados pessoais sejam exagerados e se tornem motivos de insatisfação física constante, que poderá vir a deflagrar transtornos comportamentais masculinos como a bulimia, a anorexia, a dismorfia corporal e a depressão, quadros conhecidos até então pela predominância feminina de suas apresentações. E não podemos esquecer que a mesma vaidade, que é capaz de gerar compreensão e cumplicidade entre homens e mulheres pode também acirrar a competitividade entre eles, desencadeando um afastamento ainda maior entre os que deveriam ser os diferentes, porém complementares seres.

Como o próprio nome diz são preocupações (pré-ocupações); por isso prefiro deixar o tempo passar e trazer com ele as respostas para essas indagações que teimam em ocupar minha mente no presente, tão passageiro dos nossos dias.

Como exemplo, posso citar o caso de Otávio, que começou a cuidar da aparência aos 14 anos, quando apresentou as primeiras espinhas no rosto. Ficou desesperado com a possibilidade de ter seu rosto deformado pelas cicatrizes e começou a frequentar dermatologistas e esteticistas, utilizando produtos de cosmética e realizando limpezas de pele mensalmente. Depois vieram os cuidados com os cabelos (cabeleireiros de 15 em 15 dias para manter o corte) e com o corpo, o que transformou sua ida a academia em um tipo de religiosidade corpórea…

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Somente o tempo, este senhor de todas as verdades dirá se David Beckham, o representante e ídolo número um dos metrossexuais, foi o ícone de uma nova geração de homens ou se simbolizou mais um desejo do ser humano em atingir padrões físicos inatingíveis. Quem viver, com certeza, verá!

Fonte: Ana Beatriz B. Silva é psiquiatra