Excesso de peso reduz desempenho sexual

Por Jocelem Salgado

Pesquisas publicadas em importantes revistas científicas do mundo, como o JAMA – Journal of American Medical Association e Obesity – confirmam uma tese que já afirmamos aqui muitas vezes: a certeza de que a alimentação equilibrada pode mudar para melhor várias coisas de sua vida.

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Mulheres sentem mais que os homens os prejuízos da obesidade em relação ao desempenho sexual

O diferencial e o inédito das pesquisas divulgadas por essas duas revistas é que elas relacionam diretamente a obesidade com problemas sexuais. O estudo do JAMA, que durou dois anos, foi realizado com 110 homens com idade entre 35 e 55 anos, que tinham em comum a obesidade (Índice de Massa Corpórea acima de 30) e dificuldades de ereção.

No final do estudo, aqueles que tinham perdido cerca de 10% do peso, com dieta adequada e exercícios físicos regulares, voltaram a ter um bom desempenho sexual. No outro grupo, que recebia apenas informações sobre uma alimentação saudável, a redução no peso, no total, não chegou a ser significativa. E o desempenho sexual praticamente não mudou.

No estudo da revista Obesity, 500 pessoas (homens e mulheres) que participavam de um programa intensivo para perda de peso e modificação do estilo de vida, foram avaliados nos quesitos apetite sexual, desempenho sexual, entre outros. A pesquisa mostrou que os maiores Índices de Massa Corporal (IMC)* – clique aqui para aprender a calcular o seu IMC – estavam associados com uma diminuição da qualidade de vida sexual. Mulheres obesas relataram maiores prejuízos do que os participantes do sexo masculino. O excesso de peso foi associado à perda de interesse pela atividade sexual (apetite sexual), dificuldades com a performance sexual (desempenho) e à fuga de encontros sexuais (aversão sexual).

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Desejo e aversão sexual

Vários fatores podem contribuir para o surgimento de transtornos do desejo sexual. Na grande maioria das vezes, estes fatores agem conjuntamente, reforçando-se mutuamente. As causas podem ser orgânicas (alterações hormonais, neurológicas, arteriais, de neurotransmissores, estresse, etc) e não orgânicas (de ordem psicológica como medo de falhar ou de ser rejeitado, baixa auto-estima, ansiedade, timidez, perfeccionismo, falta de dinheiro, etc) ou mistas (associação de causas orgânicas com não orgânicas).

Embora exista uma série de causas diferentes, a forma de apresentação clínica pode variar apenas entre dois quadros distintos: o desejo sexual hipoativo e a aversão sexual.

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O desejo sexual hipoativo é a diminuição ou ausência total de fantasias e de desejo de ter atividade sexual. Simplesmente, a pessoa sente que tanto faz ter sexo ou não, pois não faz falta para si. Há um grande sofrimento por sentir essa desmotivação e pelos problemas que causa a um casal.

A aversão sexual ou evitação fóbica nada mais é do que o sofrimento causado pela premente necessidade de evitação de oportunidades e de encontros sexuais com parceiros, devido a sensações de desagrado, de medo, de "nojo", de repulsa e de perigo iminente. Por vezes, a razão da repulsa são as secreções genitais; em outros casos, o simples pensar em sexo, o toque ou o beijo já é evitado com angústia. Também podem aparecer sinais de pânico, como náuseas, suor excessivo e falta de ar quando a pessoa tenta enfrentar esse medo, aproximando-se de seu parceiro.

Corpo saudável, mente saudável

Estudos na área da psicologia mostram que uma pessoa que se sente gorda demais, tem mais chances de se deprimir. Por outro lado, há pesquisas mostrando que indivíduos que se alimentam bem, fazem exercícios regularmente e se sentem bem com seu corpo, tendem a ter maior auto-estima.

Tudo parece ser um ciclo que vai emendando uma ponta à outra: quem tem uma alimentação saudável se sente melhor, quem se sente melhor tem mais disposição para fazer exercícios, quem se exercita se relaciona melhor com seu corpo, que por sua vez se relaciona melhor com sua alma, e com isso se sente mais disposto para fazer projetos, planos e desejar uma vida melhor. O resultado será uma vida mais saudável, tanto no trabalho, como na família, como na cama.

É esse conjunto de bons resultados que desejamos quando pregamos uma alimentação saudável e a prática de exercícios físicos. Quem não está bem com o seu corpo, não tem vontade de fazer nada, não quer fazer planos, não quer sair, não quer visitar amigos, não quer, inclusive, fazer sexo.

Sexualidade e saúde

A saúde, principalmente do homem, passou a merecer mais atenção e mais espaço na mídia por caminhos que têm mais a ver com seu desempenho sexual, não com sua saúde. Com o surgimento dos comprimidos orais para disfunção erétil ou impotência – os Viagras, Cialis, Levitras e outros que virão – os laboratórios passaram a investir em pesquisas médicas que se dedicam a estudar e a entender as práticas e atividades sexuais dos homens. Até agora, nada tinha sido feito nesse campo. Descobriu-se então o que já era esperado: que os homens tinham uma série de preconceitos sobre sexo, que acreditavam em mitos e informações totalmente errôneas e, especialmente, que não cuidavam ou cuidavam pouco da sua saúde.

Foram muitos estudos, mas a conclusão vem sendo unânime: as pessoas mais desinformadas, que visitam menos o médico, e por isso cuidam menos da saúde, formam o grupo que tem maior problema com a ereção. Conclusão: a impotência, ou disfunção sexual, e mesmo a falta de vontade ou libido, na grande maioria dos casos são resultados de outros transtornos físicos, de saúde. Pílulas para ereção podem ajudar, mas não vão resolver a origem dos problemas.

Alimentação e saúde

Não sou urologista, nem sexóloga, nem participei de pesquisas sobre as atividades e dificuldades sexuais entre homens ou mulheres. Mas como especialista em nutrição e pesquisadora da relação entre alimentação e saúde, tenho muito a dizer sobre esse tema.

Quem não se alimenta bem, quem não nutre corretamente seu organismo, acaba tendo uma série de problemas de saúde. A saúde sexual é apenas um termômetro da saúde em geral. É um dos alarmes que disparam primeiro, mas poucas pessoas estão atentas a esse alarme. Ter dificuldades de ereção, frigidez ou não ter desejo são questões que a maioria não conta aos amigos ou amigas. Muitos(as) não contam nem mesmo ao médico, sem falar que a maioria nem vai ao médico por essas razões.

Há uma tradição milenar relacionando determinados alimentos com o desejo sexual, mas nada foi provado nesse campo até hoje. Mas há um afrodisíaco que faz efeito e que sempre contribui para o bom desempenho sexual: é a alimentação saudável, e que deve fazer parte do nosso cotidiano.

Quando digo que há uma série de alimentos que contribuem para a prevenção de doenças e mesmo o controle de certas patologias, estou dizendo que há receitas capazes de melhorar e garantir a sua saúde. E se você está mais saudável, também terá uma atividade sexual mais intensa, mais prazerosa. Quando alguém se sente bem física e psiquicamente – posso acrescentar o espiritualmente – esse alguém está mais disposto e mais capaz de praticar as atividades que o corpo (e a alma) lhe dão prazer. E o sexo é certamente uma das práticas que melhor revelam a boa relação do corpo com o espírito. E que só trazem bons sentimentos e energias a homens e mulheres.

Se você não tem problemas, seja solidário

Não há fórmula que promova mudanças tão importantes. Não há conquista que se faça sem um esforço. E é aqui que aproveitamos para falar de um outro lado da pesquisa sobre a obesidade e a sexualidade, que acaba de ser publicada. Qualquer mudança na sua vida exige uma decisão, e a manutenção dessa decisão, o que, para muitas pessoas significa uma atitude difícil.

Portanto, se você não tem problemas de peso, nem de auto-estima ou depressão, não menospreze quem os têm. Sair desse pequeno "inferno" exige vontade e solidariedade. Se você tem algum amigo ou familiar nessa situação, não brinque dizendo que está assim porque é um fraco, ou não têm vontade. Sair dessa situação é como sair de uma dependência química, seja do cigarro, do álcool ou qualquer outra droga. Exige apoio e compreensão. A maioria dos obesos que prometem que deixará de comer em excesso e passará a fazer exercícios, acabará recaindo.

A recaída é compreensível e aceitável, assim como acontece com usuários de cigarro, de álcool e de drogas. Em lugar de críticas e condenações, eles vão precisar de apoio e compreensão.

Aprenda a calcular o seu IMC

IMC * = peso/altura x altura

(*Esse índice não pode ser utilizado para crianças)

EX: Uma pessoa com 1.70 de altura com 65kg

Multiplica-se a altura: 1.70 X 1.70 = 2.89

Peso 65/2.89 = 22.4

IMC =22.4, portanto acima de 19

Mais informações: www.jocelemsalgado.com.br