Profecias existem, mas poucas devem ser levadas a sério

por Roberto Goldkorn

O fato de pela primeira vez estar escrevendo esse texto no dia 31 de dezembro de 2012, é um forte indício de que algo muito importante acontecerá em 2013.

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Mas o que será? Uma pessoa muito importante vai passar desta para melhor? Ou haverá uma grande tragédia operada pelo clima cada vez mais apocalíptico? Posso assegurar que um grande escândalo de fazer corar o mais cara-de-pau dos indiferentes vai ser manchete por duas semanas.

O tempo todo fazemos previsões, é próprio da natureza humana. E às vezes damos nomes diferentes a essa mania geral. Lembro-me que quando meu livro Falando com os Anjos começou a fazer muito sucesso, uma jornalista foi entrevistar meu editor. Ele disse-lhe que o livro já havia vendido 20 mil exemplares. Eu fiquei incomodado com isso e argumentei: “Mas só vendeu 10 mil até agora! Não gosto de mentir principalmente sem nenhuma necessidade”. Ele contrargumentou: “Não é mentira, e apenas uma antecipação da verdade, já que no ritmo que está em pouco tempo vai chegar aos 20 mil”. Ele acertou em sua previsão, mas que no momento em que foi dada, a primeira informação era incorreta. Assim precisamos distinguir previsão de profecia. Profecia será se alguém muito antes de eu pensar em escrever sobre anjos, dizer: “Roberto, você vai escrever um livro sobre anjos e vai vender mais de 70 mil exemplares!” Isso seria uma profecia, porque não teria nenhuma base factual para se apoiar.

A verdade sobre a maioria das profecias é que elas são feitas muito mais de passado que de futuro. Explico. Quando lemos em textos antigos a profecia de um grande dilúvio na verdade esse tal dilúvio já havia acontecido e foi mantido na memória pela tradição oral do povo. O trabalho foi apenas localizar o registro profético antes do tempo atribuido ao dilúvio. Isso não quer dizer que alguns seres especiais não tenham o talento para receber vislumbres do futuro. Isso acontece toda hora, mas apenas uma minoria da minoria consegue (ou se interessa) por manter um registro acurado de suas visões ou percepções.

Mas a maioria das profecias são verdadeiramente enganadoras. Não existe arma mais poderosa para a manipulação da vontade alheia que produzir o medo através de profecias tenebrosas. A coisa fica ainda mais interessante, se além de profetizar grandes catástrofes, eu fornecer os antídotos (em geral é o famoso, “fiquem comigo que ficarão bem”).

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O que me intrigou durante esses 30 anos que estudo a mecânica das profecias, é que elas só se referem a situações envolvendo dor, medo, pânico e catástrofes em geral. Mas existe uma razão para isso. Esses seres que conseguem captar registros catastróficos, na realidade, sentem poderosas impressões causadas por esse tipo de emoção (dor,medo, pânico, desespero etc), da mesma maneira que a aranha capta as vibrações transmitidas através da teia quando um inseto fica preso ali e se debate.

Já escrevi aqui sobre o mecanismo pelo qual alguns inventos são obtidos ou enigmas decifrados, quando o “inventor” consegue “voar” até o Inconsciente Coletivo e “pescar” as informações que lá estão universalizadas.

O problema com essas “captações” é justamente esse: está tudo misturado, os arquivos não são minuciosamente organizados, e a língua em que estão escritos é a das imagens, que posteriormente precisam ser “traduzidas” para a língua limitada do “profeta”. É nesse momento que nascem as grandes distorções, que são de três categorias: tempo, espaço e forma.

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Quando sonhamos com alguma situação onde já muito sangue derramando, gritos, lamentações, desespero, em 99% dos casos o próprio impacto dessa “vivência onírica” nos faz retroceder. Não conseguimos o sangue frio do jornalista investigativo, para ficar com um caderninho de notas para anotar a data (estampada em algum calendário caído no chão e sujo de sangue), o local (indicado por algum monumento típico) e a extenção da tragédia. Voltamos galopando ao nosso confortável sono e guardamos da experiência apenas vagos e imprecisos recuerdos.

Profecias existem, mas depois de espremidas pelo crivo da racionalidade, sobram poucas, raras para serem levadas a sério.

Num livro que escrevi há quase vinte anos sugeri que “terroristas fundamentalistas jogariam aviões sobre Paris ou Nova Iorque”. Teria sido uma previsão? Ou uma certeira profecia?

Acredito numa infeliz “coincidência”. Mas vamos admitir que foi sim um momento “fecundo” da minha mente, que sem ter muita consciência captou esse registro. De que valeu? Quem deu qualquer importância? O que mudou na realização da “visão”? Nada.

Tudo isso vem a propósito das ultimamente badaladas profecias Maias tão mal compreendidas. A data fatídica passou gerando um tiquinho de pânico e grande indiferença. Mas se tivesse acontecido algo grandioso em escala planetária, a quem teria servido o profético trabalho dos sacerdotes Maias? Ninguém, talvez a uma meia duzia de exagerados e crentes que se prepararam para o “fim do mundo”.

Não gosto muito de frases feitas mas em termos de profecias fico com o velho adágio de que o “futuro a Deus pertence".