Meu filho vive isolado. O que acontece?

Por Cybele Russi

Em nosso primeiro artigo sobre o tema "Adolescentes", falamos sobre sua necessidade de ficar, de namorar, de estar com os amigos, de estar quase que em período integral pendurado ao telefone ou navegando pela Internet. Dando continuidade às nossas elaborações, hoje falaremos da necessidade oposta: o desejo de estar só e de não querer compartilhar nada.

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Quem nunca viu um adolescente trancado em seu quarto, quieto, lendo, escrevendo, desenhando, olhando para o teto a caçar moscas no ar, ouvindo som no último volume, dormindo ou simplesmente chorando sozinho? Quem já viu, sabe do que estamos falamos.

Para os pais fica difícil dizer o que é pior: se vê-los pendurados horas a fio ao telefone, ou se trancados ensimesmados em seus quartos. Quando estão ao telefone ou navegando pela Internet, assusta-nos ver o tempo passar e eles ali, horas sem fim, a discutir sabe-se lá o quê. Entretanto, quando se trancam no quarto num silêncio mortal, isolados em seus mundos, a preocupação é ainda maior. O que estará acontecendo agora? Adolescentes são assim: ora falam pelos cotovelos, ora emudecem num silêncio assustador.

Esse silêncio pode ter mil razões, que dificilmente chegaremos a conhecer. Como não temos acesso às suas angústias, porque raramente eles as contam, ainda que tentemos arrancá-las a fórceps, nossa angústia cresce ainda mais. E este, talvez, seja nosso grande erro: tentar arrancar à força aquilo que precisa ser silenciado, que necessita ser hibernado e digerido na escuridão do quarto.

 

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Reclusão é necessária e traz crescimento

Ao contrário do que muita gente pensa, o adolescente pensa sim, e muito. Ele reflete muito sobre a vida, sobre seu futuro, sobre seu corpo, sobre suas carências e medos. Poderíamos até dizer, sem medo de errar, que é nesses momentos de reclusão que ele cresce. Tal qual a semente, que precisa de silêncio e escuridão para germinar e se tornar flor, o adolescente necessita desses momentos de reclusão para organizar seus pensamentos, para refletir sobre suas angústias e até mesmo para sair da infância. Como já dissemos anteriormente, a adolescência é um momento de transição entre a infância e a vida adulta, mas deixar a infância e assumir uma vida adulta pode ser extremamente doloroso. Como se costuma dizer, "crescer dói".

Na qualidade de pais, assistir a tudo isso de braços cruzados, sem poder fazer nada, parece algo impensável. Como ver meu filho(a) com problemas e não poder ajudá-lo(a)? Pois é, há muito pouco que se possa fazer nesses momentos.

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Entretanto, na tentativa de ajudá-los, de querer entender ou descobrir o que está se passando de fato; na tentativa de conhecer que segredos são esses que não nos são revelados, tomamos atitudes invasivas e totalmente desrespeitosas, que violam todos os direitos do ser humano, penetrando num espaço que não nos pertence, o espaço privativo e inalienável da intimidade do outro.

Invasão de privacidade

Na tentativa de encontrar respostas para nossos medos e angústias, vasculhamos seus quartos, reviramos suas gavetas e armários buscando confirmação para as nossas dúvidas. E com certeza, acabamos aumentando ainda mais o abismo que nos separa. Raramente algum pai encontra qualquer coisa de "estranho" ou de "diferente" no quarto de seu filho. Até porquê, se ele tem coisas "estranhas" a esconder, não o fará em suas próprias gavetas.

As "coisas estranhas" ou "diferentes", ele as guarda dentro de si mesmo, nos seus longos silêncios, no seu olhar perdido no ar. No quarto, o máximo que encontraremos serão incontáveis CDs, alguns bilhetes de amigos, agendas repletas de anotações que não nos fazem sentido algum, inúmeras revistas de mulheres peladas, uma enorme bagunça, e com sorte, alguns envelopinhos de preservativos ou de pílulas anticoncepcionais. Respostas para as nossas angústias não estarão lá, com certeza.

Quando essas "crises" de ostracismo acontecem, o melhor a fazer é nos mantermos atentos, alertas, de ouvidos e braços bem abertos, para o caso de eles precisarem. Tentar descobrir o que se passa à força é uma grande tolice. Tudo, absolutamente tudo o que dissermos será entendido como uma invasão do espaço privativo, e o que conseguiremos com isso é desencadear uma outra crise, a de agressividade, porque eles se sentem pressionados e então, fogem correndo e se escondem atrás de agressão.

Solução? Só há uma: sermos continentes. Sermos colo, braços e ombros. Geralmente, quando mostramos que estamos presentes, atentos, abertos e prontos para ouvir, eles acabam se abrindo naturalmente. Mas, ao nos colocarmos na posição de ouvintes precisamos estar muito seguros e bastante conscientes de que estamos realmente preparados para ouvir tudo. Tudo. Ser continente para o outro é exatamente isso: poder receber o outro dentro de si, estar pronto para ouvir sem fazer críticas ou julgamentos; é dar abertura para que o outro possa se expor com franqueza e sem receios de ser julgado ou punido. No momento em que o adolescente percebe que vai ser julgado ou punido, ele foge e não conseguiremos mais tê-lo ao nosso lado.

Ter filhos adolescentes é um momento muito especial para toda a família, pois nunca se sabe exatamente como agir. Ora eles são agressivos, rebeldes e contestadores, ora são frágeis, meigos, desamparados e extremamente solitários. Diante de tantas variações de humor, a família vive o tempo todo sob tensão, sem saber qual será o próximo estado de espírito que irá quebrar a harmonia do lar.

Para as crises de agressão, de contestação e de rebeldia, o melhor é não entrar no mérito da questão na hora da crise e deixar a poeira baixar até que se consiga ter um nível de diálogo razoável, momento em que os pais devem reafirmar seus papéis e deixar os limites bem claros e bem definitos. Mas se a idéia é oferecer ajuda para a angústia, se é permitir o desabafo, o melhor a fazer é saber esperar e aprender a conter a própria ansiedade e a própria angústia. Caso contrário corremos o risco de sermos vistos como invasores e desrespeitosos, na melhor das hipóteses.