Eles só querem saber de namorar. E agora?

Por Cybele Russi

Existe uma fase no desenvolvimento do ser humano em que as emoções vêm à tona em sua intensidade máxima. Os sentimentos afloram em todo o seu esplendor. Toda a delicadeza da alma transparece em cada detalhe. É o momento do sonho, da fantasia, da alegria suprema, da felicidade, dos sentimentos exacerbados, das grandes paixões. Somos capazes dos gestos mais generosos e de bondade nunca mais possível.

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Da mesma forma e com a mesma intensidade, aparece também toda a feiúra e monstruosidade da pessoa. A crueldade surge com requintes de sofisticação. Então, somos monstros malfeitores, idealizamos maldades e crimes, vinganças malignas, e mataríamos nossos opositores sem nenhum resquício de remorso. Somos super. Super homens e super mulheres. Nossos pés não têm asas, mas nossa imaginação voa, nossa fantasia atravessa os mundos e salvaríamos a humanidade gratuitamente, se para isso tivéssemos as armas necessárias. Também aniquilaríamos a humanidade, se necessário fosse, para defender um único amigo. Ama-se e odeia-se com a mesma sinceridade e intensidade. Os hormônios estão funcionando a pleno vapor e namorar é só o que se quer. Quando não é namorar, é estar com os amigos. Uma época para o ser humano, que nunca mais será igual, a despeito de todos os nossos esforços para reinventá-la. É a adolescência.

É também a época em que os pais quase enlouquecem. E como diz a velha canção de Luiz Gonzaga, para tal mal, não há um só remédio em toda a medicina.

Então, como lidar com esse momento tão delicado e tão difícil dos nossos filhos? Estudar, nem pensar; dormir, também não; ouvir nossos conselhos, de jeito nenhum. Tudo o que possamos dizer quase sempre soa como um amontoado de asneiras, totalmente desnecessárias. Afinal, por que os pais não se calam e não deixam que eles resolvam suas próprias vidas a seu bel prazer?

Do ponto de vista dos psicólogos e educadores, este é o grande perigo que a família enfrenta, pois, ainda que sejam amadurecidos e demonstrem enorme responsabilidade, suas atitudes e decisões nessa fase da vida estão bem longe de apresentarem a racionalidade que se espera de um adulto. Pelo contrário, são decisões apoiadas na emoção; são gestos impulsivos, gerados no coração e carregados de uma dose de hormônios cavalar.

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Movidos pelas emoções e pelos hormônios, tudo neles é grandioso, é superlativo. Como compreender o que se passa com aquele (a) jovem que, de repente, responde mal, levanta a voz e briga com a família toda só para poder ficar mais alguns minutos ao telefone?

É essa necessidade de estar "um minuto mais" com os amigos ou com a namorada (o) que faz a grande diferença. Na verdade, essa enorme necessidade de "estar com" ou de "ficar com", muitas vezes, mais do que um apelo hormonal, é uma necessidade afetiva, de diálogo, de ser ouvido. E isto é o que parece o mais difícil para os pais compreenderem.

Na maioria das vezes, mais do que sexo, os adolescentes procuram ouvidos e braços que possam acolhê-los, pois, embora não pareça, a adolescência é uma fase de extrema solidão e de medo. A insegurança bate fundo e dói muito. E por mais espetacular que seja a família, quase sempre o (a) adolescente se sente um incompreendido dentro da própria casa, então, busca acolhida e amparo nos braços das namoradas (os), que podem ouvi-lo e compartilham suas angústias e seus medos, porque sentem da mesma maneira. São pares, são parceiros, são cúmplices. Diante de tal quadro, como pensar em estudar, em se preparar para provas, em acordar cedo, em ir almoçar na casa da avó, em levar o cachorro pra passear? Resolver as próprias angústias é muito mais urgente do que qualquer outra coisa que possa oferecer.

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Na condição de pais é bastante difícil lidar com tudo isso, pois embora possamos compreender, o tempo urge, e é preciso sim, levantar cedo, estudar, fazer provas, participar das rotinas e encontros familiares, por mais desagradável que isto possa parecer a um adolescente. Não é possível ficar só ao telefone com os amigos (as) e namorados (as). Nessa hora, o melhor a se fazer é tentar o velho e bom "acordo entre as partes". Partir para a quebra de braço, além de ser extremamente desgastante é desrespeitoso para ambas as partes. Entrar num bate-boca, nem pensar. Dificilmente alguém consegue convencer um adolescente a mudar de ideia. O jeito então é apelar para o diálogo civilizado e chegar a um acordo comum entre as partes.

A grande vantagem do diálogo com o adolescente é que abre um espaço enorme para ele fazer aquilo que mais gosta: argumentar. Isto é muito bom, porque você estará dando oportunidade para seu (sua) filho (a) organizar as ideias, defender seus pontos de vista e refletir sobre algo concreto e objetivo. E você também terá a oportunidade de conhecê-lo (a) um pouquinho melhor, e ficará surpreso ao perceber como ele (a) é inteligente e capaz. Mas esteja bem preparado, porque eles sempre têm ótimos argumentos e todos eles seriam ótimos advogados, pois defendem suas causas com unhas e dentes.

Esta é apenas uma sugestão que estou dando, pois sei o quanto é difícil conviver com um adolescente dentro de casa. (É claro que há exceções, e que há alguns que são verdadeiramente encantadores, dóceis e estudiosos, mas são agulhas no palheiro.)

Mas a melhor coisa que se pode dizer para pais que têm filhos adolescentes que ficam o dia todo no telefone, na Internet e no bate-papo com os amigos é: lembra quando você tinha quinze anos e como seus assuntos eram intermináveis? Pois é, seu filho é igualzinho. Mas tenha cuidado para não se transformar num chato igualzinho ao seu pai.

Ela só quer
Só pensa em namorar…
já dizia Luiz Gonzaga.