O que vale mais? As palavras ou as atitudes?

por Patricia Gebrim

Outro dia ouvi alguém dizer que “o que vale é a intenção!”.

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Bem, aqui vai a minha opinião: de que adianta uma boa intenção sem atitude?

De que adianta ter a intenção de ajudar alguém, se não formos capazes de mover um único osso de nosso corpo nessa direção?

De que vale a intenção de respeitar alguém, se na verdade agimos pensando apenas em nós mesmos?

De que vale a intenção de amar, se agimos com o mais puro desamor?

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Na minha opinião, vale muito pouco, para não dizer nada.

Eu posso ter os mais belos pensamentos e ideais, mas se eles não vierem acompanhados de atitudes coerentes, tornam-se apenas uma cantiga para anestesiar a minha consciência ameaçada pela culpa de não ter agido de acordo com ela.

Dizer simplesmente para si próprio: “ Eu não tive a intenção de ferir ninguém” é uma desculpa para que não nos sintamos tão culpados pelo mal que causamos. É como se nos tornássemos crianças dizendo: “ Ah… Mas eu não queria que fosse assim”- como se dessa maneira o mal causado se tornasse menor, ou menos nocivo.

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Será?

Talvez fosse mais honesto que assumíssemos o erro cometido, nos desculpássemos e tentássemos reparar o mal causado de alguma forma, com atitudes. Todos podemos (e vamos) errar muitas vezes na vida. Faz parte de nossa condição humana. Mas lembre-se: todos nós temos um enorme potencial de reparação e podemos usá-lo criativamente, desde que escapemos da comodidade de evitar enfrentar a vida.

Palavras isoladas são para covardes, que fogem e se escondem. Apenas os corajosos são capazes da ação realmente reparadora. Coragem tem a ver com ação, com enfrentar as dificuldades de frente.

Assim, se você feriu alguém, não evite essa pessoa. Vá em sua direção e tente reparar o mal causado.

Se você gosta de alguém… mostre! Tenha atitudes amorosas. Seja atencioso, respeite, proteja, acalente. Torne-se presente. Olhe de verdade para essa pessoa, perceba a sua existência, coloque-se no lugar dela. Saia do perímetro de seu próprio umbigo. Olhe para essa pessoa, lá no fundo dos olhos. Tente perceber o que ela pode estar sentindo e tente agir da melhor forma que puder. Não se esconda atrás de suas palavras. Palavras “bem ditas“, são as que vem acompanhadas de atitudes, pense nisso!

Buraco infernal

É incrível como andamos todos apaixonados por nosso próprio umbigo.

Muitas pessoas dizem sentir um vazio em suas vidas e eu fico pensando se não caíram dentro de seus próprios umbigos sem perceber.

Imagine a cena… Um dia você está passeando distraidamente pela sua própria barriga procurando pela maravilhosa fonte da vida (o cordão que o ligava à mãe, de onde tudo brotava sem esforço) e cai naquele orifício primário, cai dentro de seu próprio umbigo! Muitos de nós caímos em nossos umbigos ao procurar por essa fonte irrestrita de prazer e satisfação, já pensou nisso?

Só que, ao cair nesse buraco ancestral, de repente nos percebemos isolados, separados de todas as outras pessoas… Talvez essa seja a real solidão, afinal. A fonte de nosso egoísmo e isolamento. Essa solidão que nos faz esquecer que quando prejudicamos alguém estamos ferindo a nós mesmos. Essa solidão que nos separa de todos, e lá ficamos, mergulhados em nosso poço de lamentações pessoais, envolvidos pelas profundezas de nossas crenças e problemas individuais, sem nos importarmos com ninguém mais, a não ser nossos próprios desejos e frustrações.

Se conseguirmos sair desse buraco infernal, se conseguirmos emergir de nós mesmos, mesmo que exaustos, e olharmos ao redor, veremos que o mundo é muito maior do que aquele mundinho pequeno e egoísta.

Começaremos a nos encantar com o enorme número de pessoas que circulam diariamente ao nosso redor. Na verdade, na maioria das vezes, elas já estavam lá, tentando alguma forma de nos resgatar, enviando amor em nossa direção. É incrível como ficamos cegos lá dentro de nossos umbigos!

Se não fizermos de nossos problemas a nossa bíblia, talvez possamos nos interessar um pouco mais pelas pessoas e, ao fazer isso, talvez nos esqueçamos da horrenda dor de separação.

Só assim, ao nos percebermos parte de um mundo que continua girando a despeito da profundidade de nossos buracos pessoais, seremos capazes de perceber que os outros existem. Nesse dia podemos finalmente passar da palavra para a ação.