As palavras e os atos: em busca da congruência

por Regina Wielenska

Nunca me esqueci da história contada por um amigo: uma senhora deu entrada no pronto-socorro, com múltiplos cortes pelo corpo e acompanhanda por um policial. O médico autorizou que a inquirissem brevemente, pois logo depois ela seria levada para ser suturada.

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– A senhora sabe quem lhe fez isso?

– Sei, foi o homem que me ama.

Perplexidade total de quem estava no recinto. Se ele não a amasse, então teria feito o que com ela?!

Na verdade, muitas vezes ficamos em situação similar à da mulher agredida. Ela acreditou nas palavras de amor proferidas em alguns momentos do relacionamento, mesmo que os atos do marido não tenham correspondido a qualquer modelo de amor que se possa conceber.

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Nas campanhas eleitorais acredita-se nas promessas, mesmo que a carreira pregressa do candidato e de seu partido possa desabonar qualquer recomendação de voto.

Clinicas prometem um extraordinário rejuvenescimento, com cirurgia financiada a perder de vista, em clínicas suspeitas bem menos confiáveis que um açougue. Propagandas insinuam uma felicidade sem fim para quem beber a cerveja tal ou comprar determinado carro. E a gente se ilude, dia a dia, com pequenas e grandes coisas.

Há saída para esse problema? Nada é tão simples, inexistem fórmulas prontas, mas ser um atento observador ajuda muito. Fique ligado na congruência entre o que alguém fala e o que faz. Palavras valem menos do que atos. Atos costumam ser mais informativos acerca de quem é a pessoa.

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Em segundo lugar, observe longitudinalmente, ao longo de instâncias distintas. Um ato de caridade na frente dos holofotes pode, por exemplo, ser sucedido por muitos atos de mesquinhez feitos de modo oculto.

Adicionalmente, lembre-se de que somos seres complexos e imperfeitos, todo mundo é capaz de falhar na vida, mais de uma vez, por atos e omissões. No entanto, veja se a pessoa reconhece seus equívocos com abertura e franqueza, e se responsabiliza de verdade por reparar algum dano que possa ter causado.

Tente descobrir se a pessoa parece aprender com o erro passado e ativamente se esforça para não fazer aquilo de novo.

Em caso de dúvida, caro leitor, fique com o que seus olhos testemunharam e deixe de lado as aveludadas palavras mentirosas.

Estamos combinados assim?