Empresário ensina como elaborar plano estratégico para a vida pessoal

Por Angelo Medina

Empresas como o SEBRAE orienta os empresários para eleborar um Plano de Negócios para a empresa ser bem-sucedida em sua administração e não chegar à falência. O empresário Claudio Nasajon transpôs as estratégias do tradicional Plano de Negócios para o universo da vida pessoal e elaborou um plano estratégico para a felicidade pessoal, como na vida conjugal por exemplo. Itens como custo-benefício no amor e na vida sexual poderão ser mensurados, para que você avalie o sucesso do seu plano na prática. Ele explica que cada pessoa tem o seu preço pessoal e diz como você avalia se administra bem ou mal a sua vida.

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Vya Estelar – Seria possível dar uma sintetizada e descrever como seria um Plano de Negócios para conduzir a vida conjugal e profissional por exemplo?

Cláudio Nasajon – Esse é o conteúdo do livro! Vou descrever o resumo do resumo do resumo da palestra, que é uma síntese do livro:

Qualquer Plano de Negócios tem basicamente 3 partes principais. O Plano Estratégico, o Plano de Marketing e o Plano Financeiro. Essa estrutura vale para planos empresariais mas é perfeitamente aplicável a planos pessoais. Veja:

Plano Estratégico

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No Plano Estratégico empresarial, descreve-se o "cenário" imaginado pelo empreendedor num futuro próximo, as metas que se deseja atingir e os caminhos que pretende seguir para viabilizar a conquista dos objetivos partindo da situação atual, nesse cenário previsto.

Quando transportamos essas questões para a vida pessoal, independente de ser aplicado a um casamento, a um namoro, à educação dos filhos ou a um projeto para mudar de casa, o primeiro passo é definir os "quesitos relevantes". O que é importante para avaliar o sucesso desse empreendimento? No caso do meu casamento, que uso como ilustração no livro, por exemplo, formulei uma lista de dez itens, encabeçada por "amor".

O segundo passo é estabelecer as "métricas", ou seja, como você pode medir cada um desses quesitos. Patrimônio é um item razoavelmente fácil de medir, mas amor?! Como medir o amor? No trabalho que fiz com a minha esposa (e relato em detalhes no livro) acabamos definindo amor como "desejar, preocupar-se, querer estar com o outro" e, nesse contexto, geramos uma lista de 4 métricas, iniciada pelo "número de projetos realizados com objetivo comum". Chegamos à conclusão que quando nos amamos, temos projetos comuns que vão de um simples jantar romântico ou uma ida ao teatro até o planejamento de viagens de férias e a mudança para uma nova casa.

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Identificadas as métricas de cada quesito o próximo passo é definir a "situação atual" (quantos projetos comuns realizamos no ano passado?) e a "meta" para 1, 2 e 3 anos (quantos queremos realizar?). Às vezes esse "caminho" exige que nos preparemos – fazendo um curso ou aprendendo uma habilidade específica – e nesse caso, este é o melhor momento para planejar essa preparação.

Plano de Marketing

Depois, no Plano de Marketing, é necessário estabelecer o perfil pessoal que corresponde ao "produto" no plano empresarial. Esse perfil diz se você vai ser um yuppie ou um hippie ou, em termos mais atuais, se você vai ser um executivo de cabelinho cortado e ternos alinhados, uma bailarina ou um operário que não liga para protocolos. O estilo Fernando Henrique é totalmente diferente do estilo Lula, embora ambos tenham ocupado o mesmo cargo. Ao definir as variáveis de marketing pessoal estou definindo, por exemplo, se o jantar romântico será um piquenique no parque ao pôr-do-sol ou uma noite num restaurante de luxo à luz de velas.

Plano Financeiro

Finalmente tem o Plano Financeiro – onde é preciso detalhar cada custo envolvido no plano e colocá-lo numa perspectiva de tempo (fluxo de caixa). O orçamento para "presentinhos e mimos" num mês qualquer é diferente dos meses em que fazemos aniversário ou temos alguma comemoração especial, por exemplo.

Vya Estelar – Fracasso nos negócios, no casamento, na carreira… Quais são os erros mais recorrentes?

Cláudio Nasajon – Falta de planejamento. Isso inclui fazer estimativas baseadas em "achismos" ou seja, as pessoas tendem a avaliar as situações que desconhecem de forma tendeciosa. O problema é que as coisas são como são e não como deveriam ser (ou como gostaríamos que fossem). Um exemplo prático: Eu achava que caminhar juntos todos os dias – uma atividade saudável para ambos – seria algo fácil de implementar. Erro grave. O ritmo, a capacidade aeróbica e os melhores horários para a caminhada são totalmente diferentes. Caminhar juntos, para nós, é um suplício. Não deu certo… precisamos testar uma ou duas vezes para estabelecer um padrão. Isso, que é conhecido como "pesquisa de mercado" no mundo empresarial, precisa ser aplicado em muitas situações pessoais. Caso contrário, estamos arriscados a planejar piqueniques com parceiros que não gostam de comer ao ar livre.

Vya Estelar – Ao transpor o planejamento formal do mundo dos negócios, para a vida pessoal, não corro o risco de me tornar muito rígido, não abrindo espaço para o instinto ou intuição e fechar alguma possibilidade?

Cláudio Nasajon – Não. A intuição precisa ser levada em consideração, formalmente. Costumo dizer que se o plano não te deixa confortável, é preciso rever o conteúdo porque provavelmente algo não está afinado. Nós recebemos alguns milhares de estímulos diários. Conscientemente não conseguimos processar todos eles e ficamos com os mais relevantes, mas eles estão lá, guardados, no inconsciente. Às vezes essa informação pipoca, na forma de um mal-estar, e precisamos dar-lhe atenção. Por isso mesmo o plano não é rígido. É uma trilha e não um trilho. Ele estabelece direções, metas, objetivos e formas de atingi-los, mas pode, e deve, ser permanentemente revisto e atualizado.

Vya Estelar – Ao elaborar um plano estratégico, qual é a parte mais difícil?

Cláudio Nasajon – Escolher um, e apenas um, caminho. Essa é, sem dúvida, a maior barreira, porque para cada opção corresponde uma renúncia. Mas você não pode ser o melhor médico e o melhor advogado, ao mesmo tempo, porque é necessário dedicar-se em tempo integral a uma atividade para "ser o melhor".

Da mesma forma eu não posso querer crescer rapidamente nos negócios, ganhar muito dinheiro, ter muito prestígio e, ao mesmo tempo, curtir a família, fazer esportes, viajar e descansar. Simplesmente não dá. O segredo está, sempre esteve, no equilíbrio. Faço um pouco disto, mas abro mão de um pouco daquilo. Vivo numa cidade violenta, onde meus filhos não podem caminhar livremente pelas ruas e o trânsito deixa qualquer um careca, mas em compensação tenho uma variedade enorme de fornecedores, shopping centers, mercado para as minhas atividades profissionais etc. É uma opção. Poderia ter escolhido viver de forma mais tranqüila numa cidade menor, ser um fazendeiro e ter mais tempo para a família, por exemplo. Por isso, logo no início do livro, quando peço para o leitor estabelecer os seus quesitos relevantes logo em seguida o exercício consiste em colocar esses quesitos em ordem de importância. Aí o bicho pega! O que é mais importante: diversão e bom lazer ou harmonia familiar? Amor, saúde ou dinheiro? Sem dinheiro, como pagar hospitais e médicos para garantir a saúde? Sem saúde, como ganhar dinheiro? Escolhas… cada um precisa fazer as suas e não há dois planos pessoais que sejam iguais.

Vya Estelar – Como um plano desses pode melhorar o sexo no casamento?

Cláudio Nasajon – A primeira mudança acontece já no papel. Quando os dois sentamos para estabelecer os quesitos relevantes e escolhemos "bom sexo" como sendo um desses quesitos, o próximo passo é definir claramente o que é e como se mede. Aí, muitas vezes, nos damos conta que o parceiro vê as coisas de maneira diferente. Eu, como a maioria dos homens, prezo muito o clímax e as preliminares (que são muito gostosas, não discuto) servem como "meio" para se atingir um fim. Já as mulheres, sempre de forma geral, dão muito mais valor às preliminares, ao romantismo do momento, à preparação. Então, posso ter um excelentíssimo sexo se eu souber que preciso preparar o terreno, criar um ambiente de aventura e romantismo, e ela, por sua vez, sabe que precisa fazer alguns malabarismos para me satisfazer. Quando deixarmos isso claro no papel, na hora do planejamento, fica mais fácil saber o que fazer no momento da ação. O problema – posso dizer por experiência própria – é que o ato de planejar esse item, normalmente acaba servindo de preliminar e o que era para ser um exercício teórico acaba em pizza (ou melhor, na cama…). A gente teve que recomeçar três ou quatro vezes para chegar ao final.

Vya Estelar – E num caso ainda mais abstrato, e na área afetiva por exemplo?

Cláudio Nasajon – Vale o mesmo conceito. Quando você estabelece os quesitos relevantes para o relacionamento afetivo, quando define as métricas, quando identifica a situação atual e a meta desejada, tudo fica mais fácil.

Vya Estelar – No caso de um fumante ou de um alcoólatra, Este plano poderia ser aplicado para a pessoa largar o vício?

Cláudio Nasajon – Planejando as escolhas, os caminhos, e levantando os custos (financeiros, de tempo, de desgaste emocional etc.). Quando eu decidi parar de fumar (com um empurrãozinho da Susy que não suporta cheiro de cigarro, diga-se de passagem) eu sabia que o chopp e o café eram convite certo ao gesto de tirar o papel venenoso do bolso. Então, um dos caminhos que EU escolhi, foi parar de tomar chopp e café até estar suficientemente dono dos meus atos. Para outros, o caminho pode significar comer mais, engordar, e isso é um preço que muitos pagam para deixar de fumar. Como disse, tudo se resume a escolhas. De novo, o conceito é sempre o mesmo: o plano estratégico consiste em definir os quesitos relevantes (deixar de fumar é melhor do que engordar? Só nos fins-de-semana ou sempre? Vale cachimbo e charuto?), métricas (aqui é fácil: o número de cigarros fumados é fácil de medir), situação atual, objetivos a 1, 2 e 3 anos, melhor forma de ir do ponto onde estou até o ponto onde quero ir.

Preço Pessoal

Vya Estelar – O que seria o preço pessoal?

Cláudio Nasajon – Conheço uma moça que vive no subúrbio mas só anda na zona sul. Ela tem uma atitude de preço premium. Só usa roupas de grife e modelos na moda, só sai com rapazes que tenham uma situação financeira confortável, costuma frequentar boates e restaurantes de luxo. Quem quiser namorar com ela sabe que não pode levá-la de ônibus para o forró porque não é o estilo dela. Isso é estabelecer um preço pessoal. Um médico pode atender a vinte pacientes por dia através do convênio e ganhará a mesma coisa do que um colega que decida cobrar à vista pelas consultas mas, por isso mesmo, tem apenas dois pacientes por dia. Isso não significa que o segundo seja melhor do que o primeiro, mas o fato é que o preço tende a passar uma percepção de valor que as pessoas, inconscientemente, atribuem ao produto (ou, neste caso, à pessoa). Faça a prova você mesmo. Vá com algum amigo a uma loja onde só haja um vendedor. Peça a ele para ir vestido de calça jeans e chinelo e você vá arrumado, com cabelo penteado, terno e sapato social. Veja quem o vendedor atende primeiro. É horrível, eu sei, mas é como as coisas são.

Vya Estelar – Existe duas situações: uma é escrever no papel, a outra é o resultado na prática. O que fazer quando não ocorrer esta compatibilidade. Ainda mais quando se trata de metas para três ou cinco anos?

Cláudio Nasajon – A questão não é "se" mas "quanto". É pouco provável que os resultados sejam exatamente os estimados no plano. O importante é você acompanhar a evolução. Se quer deixar de fumar e estabeleceu reduzir a quantidade ao longo de dois anos à base de um cigarro por dia por semana, pode acontecer que numa determinada semana teve uma festa e você tomou muitos chopps e jogou pelo ralo a estatística, mas se no final do primeiro ano você realmente conseguiu reduzir uma parcela sensível do consumo, então estamos no caminho certo. Caso contrário, o que é comum, o caminho escolhido não foi o melhor e talvez seja a hora de rever a estratégia. De uma forma geral é sempre recomendável rever o plano pelo menos uma vez por ano. Eu faço sempre na véspera do ano novo…

Vya Estelar – E as variáveis que podem ocorrer como perda do cônjuge, falência da empresa, perda do emprego, uma doença inesperada… ?

Cláudio Nasajon – Se você ganhar na loteria, o seu plano financeiro muda completamente (é preciso jogar, considere isso nas despesas mensais previstas tá?) da mesma forma que incidentes podem ocasionar alterações bruscas nos objetivos. Como disse, o plano não é um documento estático e sim uma diretriz que orienta os esforços naquele momento. Nesses casos, faça uma revisão extraordinária, estabeleça novos quesitos relevantes, novas estratégias, novos custos e ajuste o caminho.

Vya Estelar – Quais os critérios para estabelecer metas?

Cláudio Nasajon – O primeiro e mais importante é ter a consciência de que eu posso ter quase qualquer coisa que me proponha a ter, mas não posso ter tudo ao mesmo tempo. Se eu tiver essa consciência já andei metade do caminho. O restante se reduz a escolher as coisas que mais quero, porque vou ter que dedicar-me a elas com afinco e não terei muito tempo para pensar nas outras que tive que relegar.

Vya Estelar – E o fio condutor básico para chegar lá?

Cláudio Nasajon – Perserverança. Eu já tinha quase desistido de recuperar o meu casamento. Passei por psicanálise, terapias de grupo, terapia de casal, viagens… mas em nenhum momento disse "desisto!". A questão que ficava na minha cabeça sempre era "como posso fazer?". Isso foi o que me deixou "antenado" para perceber que, talvez, quem sabe, a adaptação da técnica empresarial de Planejamento de Negócios pudesse ser aplicada ao meu caso pessoal. É preciso não desistir. Se não der certo de um jeito, tentar outro, outro e mais outro, até conseguir.

Vya Estelar – Existem muitos bem-sucedidos que chegaram lá, em diversas áreas de sua vida, sem terem sido tão estratégicos… Seria possível mensurar em quanto aumentam as chances de uma pessoa se dar bem ao pôr em prática um plano estratégico pessoal?

Cláudio Nasajon – Posso citar algumas estatísticas que foram feitas no caso de empresas. De uma forma geral, oito de cada dez empresas fecham as portas antes de completar cinco anos de atividades (SEBRAE 2002). O Planejamento de Negócios simplesmente inverte o índice de mortalidade. 75% das empresas planejadas sobrevive no mercado contra 25% das que não fazem plano do negócio (FIESP). Trazendo para o plano pessoal, a média de duração dos casamentos no Brasil, contratos que teoricamente são feitos para durar a vida inteira, é de cerca de 10 anos (IBGE 2002). Por outro lado, jamais ouvi falar de nenhum casamento "planejado". Pergunto: será que se aplicarmos o conceito que deu certo no caso das empresas não poderíamos melhorar esses índices também?

Vya Estelar – Como eu sei se administro bem ou mal a minha vida?

Cláudio Nasajon – Estabeleça as métricas e analise os resultados. Primeiro responda: o que é "administrar bem"? É ter mais namorados? É ter mais dinheiro no banco? É viajar mais? Daí estabeleça como medir cada quesito, analise como estava e veja como está agora. Daí o resultado te dirá se estás "bem" ou "mal" de acordo com os TEUS próprios quesitos.