Pólen de flores: propriedades nutricionais e terapêuticas – Parte II

por Gilberto Coutinho

No artigo anterior (clique aqui e leia), expliquei o que é o pólen de flores, falei sobre suas proriedades nutricionais e sobre a biologia da flor. Agora abordarei neste segundo texto a conclusão sobre o tema.

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Componentes químicos

Em média, o pólen de flores contém as seguintes substâncias: proteínas (10 a 30%), gorduras (5 a 14%), carboidratos (30 a 40%), cinzas/resíduos (2 a 7%), água (5 a 10%), antibióticos e enzimas (fonte: “Abelhas e Saúde”, Prof. Ernesto Ulrich Breyer, 5ª Edição – 1985).

Usos relatados

Embora o uso de pólen de flores seja muito antigo (os médicos indianos, egípcios e chineses já conheciam suas propriedades, assim como o médico grego Hipócrates) e hajam indicações tradicionais para o combate e a prevenção de diversas enfermidades, ainda não existem estudos clínicos definitivos que confirmem qualquer uma dessas alegações.

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Na Europa, no início dos anos de 1960, o pólen de flores foi utilizado no combate da prostatite e hiperplasia prostática benigna (HPB). Embora seu mecanismo de ação não tenha sido esclarecido, o pólen de flores demonstrou-se eficaz em vários estudos clínicos *duplo-cegos. Provavelmente, tal efeito terapêutico tenha sido alcançado devido à elevada concentração de bioflavonoides (vitamina P).

Os bioflavonoides encontrados no pólen das flores (e também na própolis e Ginkgo biloba) atuam nas funções fisiológicas da seguinte forma: auxiliam na absorção e na utilização da vitamina C; protegem o organismo contra a ação dos radicais livres (devida sua poderosa ação antioxidante); beneficia o tecido colágeno (olhos, pele e cartilagens articulares); melhora a elasticidade, a permeabilidade e a resistência dos capilares sanguíneos (prevenindo e combatendo, dentre outros males, a fragilidade capilar); no combate dos quadros alérgicos, e atuam como antiinflamatórios.

Devido à sua composição muito complexa e rica em minerais, enzimas, vitaminas, aminoácidos, compostos revitalizantes e biologicamente ativos, o pólen de flores tem sido indicado como tônico (estimulante e fortificante do organismo), estomáquico (favorece a digestão gástrica, sendo não contraindicado na úlcera), estimulante do apetite, no combate à fadiga, ao esgotamento físico e mental, ao estresse, à anemia, à asma brônquica, à prisão de ventre, à diarreia (pois auxilia na normalização das funções intestinais), à impotência sexual, e nos quadros de alergias (embora, seja contraindicado nos casos de história de alergia ao pólen, devido ao risco de reações de hipersensibilidade).

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Pelo elevado teor de antioxidantes, o pólen é também considerado útil na prevenção do câncer e das doenças do coração (cardiopatias), auxilia na redução do colesterol e dos triglicerídeos. Indicado também para estimular a imunidade e fortalecer crianças pálidas e doentes. Atualmente, o uso terapêutico do pólen passou a ser recomendado por alguns médicos alopáticos no combate à inapetência (falta de apetite), ao estresse e nos quadros de desgastes nervosos.

Reações colaterais

Reações alérgicas, em pessoas suscetíveis, que podem incluir desde náuseas e vômitos até anafilaxia (reação alérgica severa) (Broadhurst, 1997).

Interações

Evitar o uso concomitante do pólen de flores com agentes hipoglicemiantes. O emprego de pólen com insulina e outros hipoglicemiantes podem ocasionar hiperglicemia em diabéticos.

Precauções e contraindicações

É contraindicado nos casos de alergia ao pólen de flores (devido ao risco de reações de hipersensibilidade), hiperglicemia (aumento anormal da taxa de açúcar circulante no sangue) e diabetes mellitus.

Posologia

A maioria das fontes sugere 500 a 1000 mg via oral, três vezes ao dia, 30 minutos antes das principais refeições.

Ecologia das abelhas

Embora recentes pesquisas realizadas nos EUA não consigam concluir a razão da diminuição drástica e crescente da população de abelhas no país, é possível que as alterações climáticas (aumento e declínio da temperatura), a destruição da camada de ozônio (aumento da radioatividade UVA e UVB na atmosfera terrestre), a poluição do ar e dos rios, a chuva ácida, o crescente desmatamento das florestas nativas, o uso indiscriminado de agrotóxicos e pesticidas, abalos sísmicos, dentre outros fatores, sejam decisivamente responsáveis pelo desaparecimento das abelhas e de outras espécies da flora e fauna, como tem ocorrido nos países do hemisfério Norte (EUA e Europa).

As abelhas, assim como outros insetos e animais, são indispensáveis no processo de polinização de muitas espécies de plantas, inclusive as nativas. As árvores frutíferas, para produzir frutos, sementes e preservar a perpetuação de suas espécies, necessitam de ser polinizadas pelas abelhas e o seu desaparecimento pode afetar drasticamente a alimentação de várias espécies de animais e da própria espécie humana. Certas espécies de plantas, arbustos e árvores podem deixar de se reproduzir com o desaparecimento de insetos e animais polinizadores, o que pode alterar profundamente os ecossistemas.

Assim como certas espécies da flora (musgos) e fauna (anfíbios anuros: sapos, rãs e pererecas) são bons bioindicadores ambientais, as abelhas, dentre outros insetos polinizadores, também são excelentes indicadores biológicos, sensíveis às alterações climáticas e dos ecossistemas causadas pela poluição, pela expansão de áreas agrícolas, pela mineração, pelas queimadas e, sobretudo, pelo crescimento urbano e industrial. Existem poucos e inconclusivos estudos sobre fatores etiológicos (causadores) que podem estar relacionados com o declínio da população de abelhas, entretanto a ameaça à preservação das abelhas parece configurar-se na destruição de seus habitats naturais.

Outras considerações

É recomendável refrigerar o pólen fresco para se preservarem suas propriedades nutricionais e terapêuticas. O pólen importado é frequentemente submetido a técnicas de esterilização, o que pode contribuir para a degradação de muitas enzimas e nutrientes.

O pólen de certas flores pode ser tóxico, esse não deve ser consumido: Nerium oleander (espirradeira, oleandro, louro-rosa, rododendro), cujas flores contêm vários glicosídeos cardioativos, pode ocasionar atividade espasmolítica, depressora do sistema nervoso central e do coração (em altas concentrações) e abortiva; e Hyoscyamus niger (meimendro), originário da Europa, atualmente encontra-se amplamente distribuído no Brasil, apresenta flores amareladas e roxas reticuladas (famoso veneno citado na obra de Shakespeare, em que o pai de Hamlet é morto por ele).

Espécies de plantas de muitas famílias podem causar envenenamento às abelhas devido à toxicidade do pólen ou néctar. Porém, as plantas que envenenam as abelhas são aquelas que, geralmente, produzem pouco néctar ou pólen (Barker, 1990). Robinson & Oertel (1975) classificaram as seguintes plantas como produtoras de néctar tóxico para abelhas: Kalmia latifólia, Aesculus californica, Zigadenus venenosus, Astragalus spp., Gelsemium semprevirens e Cyrilla racemiflora. Barker (1990) também relatou o envenenamento de abelhas.

Entre as inúmeras espécies, são citadas algumas das espécies tóxicas: Allium cepa, Tulipa gesneriana, Macadamia integrifolia, Aconitum spp., Papaver soniferum, Arabis glabra, Astragalus spp., Sophora microphylla, Aesculus californica, Camellia reticulata, Nicotiana tabacum e Digitalis purpurea. Os extratos de plantas e óleos essenciais (voláteis) de Mentha piperita, Acoruscalamus, Anethum sowa, Piper nigrum, Pogamia glabra e Azadirachta indica (Nim) têm demonstrado atividade protetora contra insetos e forte poder de repelir as abelhas (Singh & Upadhyay, 1993).

Os apicultores devem procurar conhecer e identificar tais espécies tóxicas para proteger suas colmeias e garantir uma melhor qualidade e produção de mel, geleia real, pólen de flores, própolis e cera de abelhas.

Automedicação

A automedicação é um hábito muito perigoso. Segundo a “Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)”, estima-se que no Brasil essa prática seja responsável por cerca de 30% dos casos de intoxicação. Além desse problema, utilizar medicamentos por conta própria pode causar dependência, efeitos colaterais graves, reações alérgicas e até morte; por isso, é preciso combater a automedicação e somente fazer uso de remédios e medicamentos sob a orientação e a prescrição de um profissional da área de saúde, após uma minuciosa avaliação clínica.

* Estudo Duplo-Cego é um estudo realizado em seres humanos onde nem o examinado (objeto de estudo) nem o examinador sabe o que está sendo utilizado como variável em um dado momento.