Exacerbar emoções é indício de preparo inadequado

por Renato Miranda

Na Copa do Mundo de futebol de 2014, chama atenção nos jogos da Seleção Brasileira o forte comportamento emotivo dos jogadores. Desde a execução do hino nacional é notória as emoções à “flor da pele”. O maior exemplo dessa emoção é o grande número de jogadores chorando em diversos momentos durante os jogos.

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É compreensível que a Copa do Mundo seja um evento muito emocionante na carreira de qualquer pessoa, principalmente para aquelas que estão envolvidas indiretamente e diretamente no evento, particularmente jogadores e comissão técnica de seleção.

É algo que marca profundamente a carreira de todo atleta; para o bem – em caso de sucesso, ou para o mal – em caso de fracasso.

O esporte competitivo tem uma característica emocional marcante fundamentalmente por que os desempenhos dos atletas são avaliados publicamente e sumariamente por todos aqueles que assistem e consequentemente julgam todos os tipos de ação e comportamento atlético.

Em decorrência, imaginemos em uma Copa do Mundo! São bilhões de assistentes e “avaliadores” de desempenho, além de tudo os resultados dos jogos marcam a carreira esportiva dos atletas para sempre. Portanto, nada mais emocionante para uma futebolista do que a Copa do Mundo.

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Se for assim, é ótimo que atletas sejam preparados psicologicamente para “enfrentar” tal desafio. Em primeiro lugar é preciso entender que as emoções são reações psicofísicas a determinadas experiências que em consequência se tornam (as emoções!) impulsos para agir.

Em síntese qualquer experiência, por exemplo: praticar uma atividade física prazerosa ou receber uma notícia triste, trará, nesses dois casos, reações físicas: alteração da frequência cardíaca, percepção de músculos mais fortes (experiência positiva) ou mais fracos (experiência negativa) e outras reações.

Por outro lado, há reações psicológicas: alegria espontânea, sentimento de recompensa, otimismo e outros (experiência positiva) ou tristeza, desânimo, insegurança (experiência negativa) e outros. A consequência dessas experiências é nossas diversas e sofisticadas ações. Observe que toda essa complexidade acontece com todos nós dia após dia e rotineiramente vamos nos adaptando e fortalecendo emocionalmente.

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Depois desta breve explicação, podemos entender melhor qual a interpretação que podemos dar para aqueles que são submetidos a fortes pressões, em nosso caso, atletas de futebol que disputam Copa do Mundo.

Emoções organizam e desorganizam comportamentos

Primeiramente se as emoções são fenômenos que nos incitam a agir, pressuposto são elas as organizadoras ou desorganizadoras de nossos comportamentos.

Em outras palavras, as emoções são motivadoras de nosso comportamento. Se forem harmonizadas, administradas, coerentes com o ambiente e com as nossas tarefas, certamente serão grandes aliadas para nosso desempenho.

Portanto, se a dificuldade da tarefa e o motivo que nos coloca diante de qualquer situação são compatíveis com nossas capacidades, temos grandes possibilidades de equacionarmos nossas emoções e assim teremos um comportamento organizado, ou seja: um comportamento equilibrado e com ótimo desempenho.

Por outro lado, se não tivermos preparados para a tarefa ou a força que nos impulsiona (motivo) para desempenharmos funções for fraca, nossas emoções serão exacerbadas e com isso nosso desempenho será afetado tendo como consequência um desempenho sem concentração e, portanto, sem qualidade e sem coerência.

Se os jogadores de futebol em uma Copa do Mundo exacerbam suas emoções, chorando ou não, é indício de preparação inadequada e de desempenho inadequado. Por outro lado, se as emoções estão harmonizadas, equilibradas diante da realidade, o desempenho será em alto nível que é a consequência de treinamentos adequados.

A diversão é a grande magia da competição esportiva; é seu princípio básico. Jogar uma Copa do Mundo no Brasil é (ou deveria ser) para o jogador de futebol um motivo de alegria, de recompensa, que são os baluartes da representação da emoção positiva. Os atletas precisam crer que sem pressão o esporte não tem graça! Aprender a jogar sob pressão é uma tarefa tão importante quanto qualquer gesto técnico e tático. Silenciosamente o atleta, demonstra suas emoções sem se desesperar, muito pelo contrário, mostra equilíbrio e superação, demonstra que talento é algo que está não somente na força dos músculos, mas também na “força nervosa!”. Aquela que supera tudo e reflete o quanto é talentoso e nobre a vida interior do ser humano atleta.