Sonhos ajudam no equilíbrio da mente, saiba interpretá-los

por Leniza Castello Branco

“…os sonhos dão informações muito interessantes a quem quiser compreender seu simbolismo…” C.G.Jung

Continua após publicidade

Carl Gustav Jung nasceu em 1875, numa pequena cidade da Suiça. Na sua biografia Jung conta vários sonhos, os primeiros de quando ainda era criança. Ele sempre valorizou muito o trabalho com os sonhos e tentava interpretá-los.

Por isso analisar sonhos é uma técnica muita usada pelos analistas junguianos.

Neste artigo será apresentada uma breve explicação sobre o trabalho analítico com os sonhos.

Freud escreveu a interpretação dos sonhos em 1900, e sua leitura estimulou Jung a valorizá-los ainda mais e a ampliar o método usado por Freud.

Continua após publicidade

Interpretar sonhos era comum na Antiguidade. Na Bíblia aparecem várias referências aos sonhos e na Grécia Antiga os sonhos eram interpretados por sacerdotes.

Os sonhos, além de revelarem problemas e conflitos, também indicam o potencial criativo da pessoa e contribuem com ideias e soluções.

Nos sonhos o tempo e o espaço são diferentes de nossa vida consciente. Sonhamos com fatos e lugares de nossa infância como se fosse hoje. Uma pessoa pode ser ela mesma ou outra, animais fantásticos e lugares imaginários e personagens desconhecidos fazem parte do mesmo cenário. Perigos imaginários nos ameaçam, atores, celebridades ou assaltantes invadem nossa noite e nossas fantasias.

Continua após publicidade

O sonho fala conosco mostrando conteúdos inconscientes que são revelados por meio dos símbolos, encontrados não somente nos sonhos mas em todos os momentos de nossa vida, via ideias e emoções, em fantasias, nos mitos, nos contos de fadas, na expressão de nosso corpo, em nossa criatividade.

Como interpretar um sonho

Para interpretar o próprio sonho o melhor é tomar nota, escrever e tentar associar as palavras e personagens com lembranças e ideias espontâneas.

Só o fato de escrever e lembrar já ajuda a trazer conteúdos inconscientes para a consciência, o que constitui uma das funções do sonho.

A linguagem do sonho é simbólica, de modo que no sonho um cachorro não é só um cachorro, é tudo o que o sonhador associa a esse animal e que vai depender de suas experiências. Pode representar amizade, fidelidade ou medo, rejeição. Por isso não existe um manual confiável para interpretar, já que cada pessoa tem suas próprias referências.

Ex: “Sonho com cachorros ferozes, presos num cercado e que tentam escapar”. Nesse caso aspectos agressivos da personalidade do sonhador são reprimidos mas estão a ponto de escapar.

Algumas pessoas têm sonhos premonitórios que indicam o que ainda vai acontecer. São famosos os casos de desastres, guerras e catástrofes que mesmo antes de acontecer apareceram em sonhos. Mas nunca se sabe se vão acontecer de fato, apenas indicam possibilidades, podem também significar desastres ou guerras internas na psique (mente) do sonhador.

O sonho não diz o que já sabemos, muitas vezes diz o contrário e nos espantamos quando alguém tão bom e amigo aparece em nossos sonhos como um monstro ou bandido. Isso mostra que devemos ficar atentos seja para esse aspecto da personalidade da pessoa que ainda não conhecemos, ou para esse aspecto em nós mesmos, que não percebemos.

Jung referia-se a dois tipos de sonhos; os pequenos que trazem fragmentos do nosso dia a dia e os “grandes sonhos” que se originam no inconsciente mais profundo ou inconsciente coletivo, e que trazem imagens de símbolos religiosos e mitos. Quando temos um sonho assim acordamos emocionados, não conseguimos esquecer e tentamos entendê-lo.

Um exemplo: Sonho que “estou subindo uma montanha e que pessoas ao meu lado falam muitas línguas diferentes e tentam chegar ao topo.”

Podemos ver que esse sonho faz uma referência à Torre de Babel. Temos que ver do ponto de vista do sonhador as dificuldades que ele está encontrando para se comunicar durante o caminho de sua vida.

Sonhos compensatórios

Também existem os “sonhos compensatórios” que suprem nossas carências e têm o papel de dar equilíbrio à psique, por exemplo: se estamos pobres sonhamos com dinheiro, e se estamos sozinhos sonhamos com alguém nos acompanhando. O sonho ajuda no equilíbrio da psique, trazendo à consciência conteúdos inconscientes apontando o caminho para o desenvolvimento do ego.

Os dicionários de sonhos não ajudam muito, porque neles os símbolos são fixos e as pessoas têm referências e atitudes diferentes, assim como são distintos os momentos nos quais sonham.

Com respeito aos temas, existem sonhos que são básicos, muitas pessoas sonham com temas parecidos, mas ouço sonhos há mais de 30 anos e nunca ouvi dois iguais.

Por exemplo: sonhar que está caindo, sonhar que está voando, sonhar que levou um tiro, que está no banheiro, que está num lugar desconhecido ou que está na casa da infância. Os temas são comuns mas têm significados diferentes para cada pessoa.

Sonhar que se está voando pode significar que a pessoa está fora da realidade, não tem os pés no chão.

Sonhar que está na casa da infância, pode ser uma personalidade que continua numa fase infantil

Sonhar que o mar está bravo e invadindo a cidade pode mostrar que conteúdos inconscientes, emoções sentimentos, estão descontrolados e invadindo a consciência.

O analista junguiano não trabalha somente com sonhos; se eles aparecem são bem-vindos e interpretados, já que trazem conteúdos inconscientes e aspectos desconhecidos, mas fantasias despertas têm o mesmo valor. Deve se levar em conta também que os sonhos na terapia são considerados em série – sequênciais. Ou seja, o sonho seguinte, por exemplo, pode complementar um aspecto do sonho anterior.

Há quem diga que não sonha nunca, mas todos sonhamos; somente alguns não se lembram deles.

Sonhos ajudam a realizar o potencial de vida que existe em todos nós, e mesmo que não sejam interpretados são de grande ajuda para nosso equilíbrio psicológico. Eles possuem uma sabedoria profunda e nos propiciam descobertas reveladoras e remetem ao sentido real de nossas vidas, ajudando a encontrar nosso próprio destino.