O virtual versus o real. Como nós estamos vivendo?

por Aurea Afonso Caetano

Fechados em existências protegidas morremos de medo de nosso vizinho concreto, ao mesmo tempo em que tentamos desesperadamente contato virtual através de nosso celulares, tablets e computadores. Somos seres gregários, precisamos fazer contato, sabemos que apenas através da relação com o outro podemos encontrar nosso melhor e nosso pior, podemos crescer e nos desenvolver.

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O ritmo e a complexidade da vida, se impõe. Buscamos encontros. A chamada “selva de pedra” provoca em nós uma sensação de isolamento e fechamento. E, paradoxalmente, não será também a percepção dessa situação que provoca em nós o desejo pela mudança? Não será então também essa paralisação que pode dar movimento à vida? Não será este também o mote para profundas transformações?

Já nos disse há muito tempo, Jung, que a fixação é o problema. E, não estaremos nós muito habituados a movimentações automáticas, acreditando em um movimento tão automático que passa a ser paralisação. Em que movimento estamos nós afinal?

Relacionamentos virtuais crescem num esforço de manter contato, estabelecer novas relações, sair do isolamento social. Podem funcionar como canal de expressão na tentativa de viver de forma mais protegida. Mas será?

Percebo em minha prática que o uso de toda a parafernália tecnológica, como mediadora das relações, pode dar vazão a atuações impulsivas, colocações mais desinibidas, muitas vezes fora de contexto. E essas atuações podem provocar o efeito oposto ao isolar e não aproximar. “Eu quero ter um milhão de amigos e bem mais forte poder ficar” (dizia o Rei) Será? Será que ter um milhão de amigos ou seguidores faz de mim alguém importante, e mais, será que isso me tira do isolamento?

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Nas assim chamadas mídias sociais, e também nos sites de busca, muitas vezes acabamos por encontrar mais do mesmo, acentuando as características e formas de funcionar que já conhecemos. Circulamos entre estradas e cidades, conteúdos e imagens já conhecidos, vendo e revendo, visitando e revisitando sempre os mesmos pontos.

Para cada um de nós, um tipo de resultado, a depender do tipo de busca que costumamos fazer, do tipo de site que costumamos acessar e do tipo de palavras que costumamos usar. Isto é, acentuamos a tendência a andar em círculos, as novidades aos poucos são sempre as mesmas, repetições coloridas de conteúdos anteriores: “mais do mesmo”.

Há uma relação cada vez maior com pessoas iguais a mim. As semelhanças são cada vez mais valorizadas, o diferente excluído. Grupos de pertencimento são definidos, internautas passam a gravitar em torno de si mesmos. Criação de microcosmos cada vez mais perfeitos, seguros.

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A busca pelo encontro e pelo sentido são universais e atemporais. O caminho passa tanto pelo efêmero quanto pelo duradouro. Pelo fixo e pelo fluido, pelo imediato e pelo definitivo. Estamos às vezes no individual, e às vezes no coletivo; no polo do espírito e no polo da carne. O trânsito, a mobilidade é a única saída – poder caminhar, ir e vir – experimentar, desvendar, desbravar.

E você, por onde tem caminhado?