Recuperação psicofísica após grave lesão

por Renato Miranda

O acidente do piloto brasileiro de Fórmula 1 Felipe Massa, da escuderia Ferrari no Grande Prêmio da Hungria (2009), em Budapeste, trouxe à tona um dos temas mais difíceis da vida esportiva de um atleta: a recuperação psicofísica após uma grave lesão.

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Atletas de esportes de risco, como esquiadores, surfistas, escaladores, pilotos de motociclismo e automobilismo, entre outros, estão no topo da lista daqueles atletas mais susceptíveis às graves lesões oriundas de acidentes.

Muito se diz sobre a importância de uma boa recuperação para que o atleta volte a competir no mesmo nível de atuação antes da lesão e é sabido que em muitos casos, há uma grande dificuldade por parte do atleta em atuar novamente com o mesmo padrão de desempenho.

O papel dos profissionais que atuam com atletas é de fundamental importância para que a recuperação aconteça com sucesso tanto na parte física como psicológica.

Ao acompanhar os trabalhos dos colegas norte-americanos psicólogos do esporte, Robert Weinberg e Daniel Gould, pode-se sugerir as seguintes diretrizes para uma boa administração dos profissionais do esporte para a recuperação de atletas lesionados:

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1) Desenvolva uma relação de harmonia com o atleta

O atleta lesionado frequentemente enfrenta uma forte confusão de emoções como, descrença, frustração, confusão e vulnerabilidade, em consequência há uma provável dificuldade de relação harmoniosa, portanto é preciso ser solícito, empático e oferecer todo o apoio ao atleta. E claro, ser otimista (sem deixar de ser realista!) e positivo.

2) Aprendizagem sobre a lesão e o processo de recuperação

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É fundamental explicar ao atleta, de uma maneira simples e didática, como de fato aconteceu o acidente e como surgiram sua(s) lesão(ões) e como o organismo se adapta para resistir às demandas da retomada da homeostasia (harmonia interna do organismo). Além disso, explicar ao atleta como será o processo de recuperação, a previsão da evolução gradativa da reabilitação e a importância de sua dedicação ao tratamento.

3)Aprendizagem de habilidades psicológicas específicas de enfrentamento

Quando o atleta aprende a treinar habilidades psicológicas como, estabelecimento de metas, diálogo interior positivo, mentalização e relaxamento ele dá um grande passo para sua reabilitação.

Estabelecimento de metas, neste caso, pode ser considerado como estabelecer um tempo determinado para melhora e retomar algumas atividades, determinar número de horas para o tratamento e segui-las rigorosamente e decidir (sempre sob orientação) o número de exercícios de movimento, força e resistência a ser feito durante as sessões de reabilitação.

4) Diálogo interior e positivo

O diálogo interior positivo auxilia na recuperação da autoconfiança e na motivação para a recuperação. É um diálogo realista, porém com otimismo e confiança, por exemplo: “Estou fraco e com medo, mas, sei que isso é passageiro e vou continuar firme em meu tratamento, pois sou forte e superarei os obstáculos.”.

5) Mentalização

A mentalização é utilizada para acelerar o retorno do atleta nas atividades esportivas. O atleta pode mentalizar, por exemplo, como seus músculos estão recuperando e ficando mais fortes. Mentalizar atuações futuras com desenvolvimento pleno de suas habilidades e também mentalizar a reação positiva de seu(s) órgão (s) lesionado(s) em relação aos exercícios de recuperação.

O relaxamento feito de maneira regular auxilia na diminuição das dores e na regulação do estresse negativo que acompanha as graves lesões, seguidas dos possíveis traumas psicológicos, além do estresse causado pelo próprio processo de reabilitação. Ademais, o atleta ao empregar técnicas de relaxamento (clique aqui e leia), auxilia a regulação do sono e da ansiedade.

A recuperação psicofísica de atletas gravemente lesionados é um processo que exige muita dedicação dos mesmos e da equipe de profissionais atuante.

O privilégio de estar vivo após um acidente como o de Felipe Massa já é um grande motivador para sua recuperação. Esse privilégio muitos atletas não tiveram e isso nós sabemos muito bem basta lembrarmos de um nome: Ayrton Senna.