Você me acha gostosa?

por Luís César Ebraico

Nosso último “DIÁLOGO” começava assim:

Continua após publicidade

PACIENTE: – Você está me achando chato?

LC: – Posso?

E, como vimos, minha intervenção terminou por levar a um destravamento do processo terapêutico. Descobri, tempos depois, esse tipo de intervenção pode ser perigoso. Notem o efeito que teve com outra paciente, uma mulher particularmente atraente:

PACIENTE: – Você me acha gostosa?

Continua após publicidade

LC : – Posso?

PACIENTE (aos berros e desabando em um pranto convulsivo):

– NÃO! NÃO! NÃO PODE!!!

Continua após publicidade

E, continuou chorando convulsivamente, enquanto eu tentava me recuperar do susto que levara. Só se acalmou um pouco, embora continuasse choramingando, quando intervim, quase que dando uma bronca:

LC : – Menina, você quer me matar? Já estou velho. Se você me der mais um susto desses eu embarco desta para a melhor!

Eu não tinha avaliado corretamente o nível de regressão da paciente e, conseqüentemente, tampouco a intensidade do pânico que llhe provocava a idéia de ser desejada sexualmente, em particular, imagino, por uma figura mais velha em posição de autoridade (na verdade, a paciente estava havia pouco tempo comigo e já tinha dado indícios que sugeriam ter sido ela seviciada, na infância, pelo pai). Meu erro acabou por se mostrar irreparável: ela não suportou trabalhar essas dificuldades comigo e abandonou o tratamento. Hoje, depois dessa experiência, eu, em situação análoga, desenvolveria o diálogo da seguinte forma:

PACIENTE: – Você me acha gostosa?

LC : – Qual o impacto que tem sobre você a possibilidade de eu achá-la gostosa?

Ou seja, ter-me-ia aproximado do assunto de maneira muito mais delicada, evitando possivelmente, dessa forma, a defecção da paciente. Esse tipo de erro deixa claro que não basta você acertar QUAL O TEMA que merece tratamento prioritário durante um certo momento da análise, é necessário que você os CONSIGA ABORDÁ-LOS DE MANEIRA “VACINAL”. Na verdade, a Psicanalise – *loganalítica ou não – opera como uma vacina: você introduz no paciente o elemento perturbador, mas com sua virulência suficientemente atenuada para que a conseqüência disso seja a geração de imunidade, não de doença. Eu errei e a paciente saiu do tratamento, certamente perturbada. Tenho a esperança de que outro terapêuta tenha podido consertar meu engano.

Durante as quatro décadas em que venho trabalhando como terapeuta, cometi mais dois erros semelhantes. Um dia desses, eu conto.

*Loganálise é um filhote da Psicanálise: pretende mostrar como o cidadão comum, em seu dia-a-dia, pode tirar proveito de conceitos como repressão, fixação, trauma e outros para promover sua própria saúde psicológica e a daqueles com quem se relaciona.