Luiz Alberto Py fala a Roberto D’ Avila sobre relacionamentos

por Roberto D’ Avila

Esta é a transcrição da terceira parte de uma entrevista concedida por Luiz Alberto Py ao jornalista Roberto D’Avila que comanda o programa Conexão Roberto D ‘Avila na TV Brasil. O jornalista e o psicanalista cederam gentilmente a entrevista ao Vya Estelar.

Para ler a segunda parte – clique aqui .

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Roberto D’ Avila – Queria te interromper, pois ainda não falamos do amor, dos relacionamentos. Como é essa relação homem X mulher?

Luiz Alberto Py – Acho essa relação muito fascinante, porque o homem e a mulher são tão diferentes um do outro, que é um desafio e uma magia conseguir morar junto, constituir família, criar filhos…

É claro que a diferença pode ser explorada em nosso favor. Quando você tem uma qualidade, o outro tem outra, um faz uma coisa e o outro faz outra. Por exemplo: “Minha mulher organiza bem a casa, eu organizo bem a grana. Eu cuido da grana e ela cuida da casa. Ela cuida dos filhos em casa, eu levo os filhos ao colégio”. Há uma divisão de tarefas que torna possível a relação.

Dificuldade está na diferença de gêneros

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A dificuldade em uma relação com o outro é devida às diferenças gritantes entre a mente feminina e a masculina. São opostas. No livro meu livro“Olhar acima do horizonte” (Editora Rocco), falo disso.

Roberto D’ Avila – O que o homem busca na relação?

Luiz Alberto Py – O negócio dele é transar, então ele até namora para conseguir transar. A mulher é ao contrário, ela até transa para conseguir namorar. Aí dá para ver que os objetivos são opostos, e a vida inteira as coisas vão sendo assim.

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Uma vez em um grupo terapêutico, tive uma experiência curiosa. Dois clientes, homem e mulher, ambos estavam traindo seus parceiros com outra pessoa. O homem achava que não tinha importância: “Não é nada, é uma transadinha”. E a mulher: “Eu traio meu marido porque é uma coisa muito importante e eu tenho que ir lá ver o que é que está acontecendo. É um questionamento na minha vida”.

Existe essa ótica contraditória entre um e outro. Portanto, conseguir se encontrar e ficar junto, é uma grande vitória.

Do ponto de vista do afeto, a grande meta de cada um de nós é encontrar um parceiro e conseguir com esse parceiro uma camaradagem, uma amizade, uma verdadeira parceria que se prolongue o máximo de tempo possível. Não digo para todo o sempre, casamento que dure até o fim, porque hoje em dia as pessoas duram muito. Antigamente a maioria morria por volta de 40, 50 anos, hoje as pessoas vivem até os 85, 90 anos. Esperar que o casamento resista tanto é muito otimismo.

Pessoas que conseguem ter um relacionamnto longo e saudável são campeãs

Às vezes até as pessoas ficam juntas porque não conseguem viver sozinhas. Ficaram muito dependentes uma da outra, mas já não se gostam e prefeririam não estar juntas. Mas quando você encontra duas pessoas que estão se curtindo numa boa depois de muitos anos, é uma coisa de se aplaudir, porque é difícil conseguir superar as arestas que vão surgindo ao longo dos anos. As pessoas que conseguem fazer isso são verdadeiramente campeãs. Eu acho que quando a gente fala em felicidade, é em relação à vida amorosa e ao trabalho.

Eu costumo dizer no consultório que as pessoas só falam de três coisas: de amor, de trabalho e um pouco de família e amizade. É o tripé que nos sustenta na vida. Se uma dessas três coisas vai bem a gente pode considerar que está legal. Se duas vão bem é uma maravilha. Quando se está bem no amor e com os amigos e o trabalho não está tão bem assim, tudo bem. Se o trabalho está bem e você tem um grande amor, não quer nem saber dos amigos.

Agora, você está mal no amor e aí os amigos te seguram. Mas quando falta tudo, a pessoa se sente sem motivo para viver.

Roberto D’ Avila – E possível ser feliz mesmo estando mal no trabalho?

Luiz Alberto Py – É um erro a gente condicionar estar feliz a estar bem realizado profissionalmente, temos que procurar a felicidade dentro de nós mesmos. A felicidade não tem que estar nas coisas que a gente consegue, mesmo porque se você coloca no que vai conseguir, ela está sempre no futuro “Vou ser feliz quando…” e esse quando nunca chega.

Como dizer ao meu filho quando é amanhã? Amanhã é sempre amanhã, o dia seguinte é sempre o dia seguinte e não hoje. A felicidade é agora. Estou feliz, não estou feliz, o que está faltando para ser feliz? Eu acho que quando a gente olha atentamente o momento presente, é mais fácil perceber a felicidade.

Imagine o cego que de repente, magicamente recupera a visão e o paralítico, o movimento. Eles não vão ficar felizes? Vão! Agora pense bem, eu estou aqui, acabei de recuperar a minha visão, estou me movimentando, eu não tenho que ficar feliz? E à noite não devo agradecer por isso? Que bom que escuto, que vejo, que me movimento…

Roberto D’ Avila – Aliás, você só sente e valoriza quando falta …

Luiz Alberto Py – E é uma pena porque a gente deveria saborear mais e parar todo dia e dar uma recapitulada e pensar: “quanta coisa eu tenho” em vez de se preocupar com o que não se tem, mas a cabeça da gente é mal focalizada.